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23 de Dez de 2024
Estudo mostra 'estado de saúde' de florestas na Amazônia
Trinta pesquisadores desenvolvem padrões para mostrar quando uma floresta em regeneração natural é saudável ou não
Por Daniela Chiaretti - De São Paulo
23/12/2024 05h01 Atualizado há 2 semanas
A regeneração natural, método utilizado em 67% dos projetos de recuperação ecológica do país, pode não atingir o objetivo de restaurar o ecossistema nativo e, ao contrário, gerar áreas com baixa biodiversidade, biomassa e sequestro de carbono. A técnica é mais eficiente em áreas que foram usadas por menos de 10 anos para agricultura ou pastagem, que tenham mais de 50% da paisagem de florestas e sofrido menos de quatro eventos de corte e queima ao longo dos anos.
Um estudo inovador, publicado na revista britânica "Nature Communications Earth & Environment", desenvolveu indicadores ecológicos e valores de referência para analisar qual a qualidade da regeneração natural de florestas na Amazônia.
Pelas metas climáticas brasileiras, o país tem que transformar até 60 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030. A Amazônia, segundo as estimativas mais recentes, tem 18,9 milhões de hectares de florestas em regeneração, segundo o que os satélites conseguem visualizar.
"Alguns estudos mostram, contudo, que a regeneração natural em algumas áreas pode ficar estagnada porque o processo acontece em condições muito ruins de solo e de paisagem, sem, por exemplo, fontes de sementes por perto", diz Catarina Jakovac, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das autoras do estudo. "Mas não temos hoje valores de referência e indicadores que mostrem a qualidade dessa vegetação que está regenerando", diz a pesquisadora, que é apoiada pelo Instituto Serrapilheira.
Ela explica que uma floresta com 20 anos de regeneração na Amazônia tem, em média, potencial de ter 34 espécies a cada 100 árvores. "Se tiver só cinco espécies, está muito abaixo do potencial. É preciso, nesse caso, uma ação mais ativa para enriquecer a floresta", diz a cientista ao Valor.
O conjunto de indicadores deve, portanto, incluir medidas de diversidade, função e estrutura da vegetação. Os pesquisadores estimaram valores mínimos de referência para que uma floresta seja considerada eficiente na restauração ecológica. No exemplo anterior, a floresta em regeneração com 20 anos deve ter também um valor de 0,27 de índice de heterogeneidade estrutural (a variação do tamanho dos troncos das árvores) e uma quantidade mínima de biomassa viva acima do solo.
"Nossa pesquisa representa uma ponte importante entre a ciência, as práticas de restauração ecológica e a implementação das políticas públicas de recuperação da vegetação nativa no Brasil", resume Catarina em nota enviada à imprensa. Por sua vez, André Giles, coordenador do estudo e também da UFSC, diz que a incerteza sobre a efetividade do processo de restauração produz insegurança para os proprietários da terra, os órgãos ambientais e investidores. "Nosso trabalho dá o primeiro passo para enfrentar essa subjetividade oferecendo ferramentas claras para a tomada de decisões sobre o momento de atestar que a regeneração natural cumpriu seu papel", diz ele, na nota.
Ima Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e também autora do trabalho, diz que reconstruir ecossistemas é tarefa complexa. "Não se trata apenas de plantar árvores, mas de reconstituir biomas. Nossos indicadores mostram exatamente como fazer isso de forma eficiente e mensurável.".
O estudo publicado com o nome "Simple ecological indicators benchmark regeneration success of Amazonian forests" reuniu 29 autores, foi iniciado na pandemia e tem 14 páginas. A análise gerou uma nota técnica com o Ibama, o Ministério do Meio Ambiente e o ICMBio. A nota detalha indicadores para cada estado da Amazônia.
Os valores foram modelados com base no maior banco de dados de florestas regenerantes da Amazônia, com 448 áreas, diz Catarina Jakovac. São dados compilados por cientistas de diferentes áreas que trabalham com florestas em regeneração. "Com esses indicadores é possível avaliar a saúde de uma floresta em regeneração na Amazônia ao longo de seu desenvolvimento", explica a pesquisadora. "Se a floresta estiver com o máximo de saúde, essa é a trajetória que tem que ter em cinco anos, 10 anos e assim por diante", diz.
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