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Estudo comprova viabilidade da castanha

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Juracy Xangai
18 de Ago de 2003

Pesquisa da Embrapa identifica ainda pontos de estrangulamento na produção da borracha

Pesquisas realizadas pelo setor de Estudos Sócio Econômicos da Embrapa Acre constataram a inviabilidade da exploração econômica da borracha nas condições em que vêm sendo feita. Ao mesmo tempo comprovou a boa lucratividade e altas expectativas da viabilidade econômica e industrial da castanha.

O estudo determina os custos de produção dos principais produtos da agropecuária e do extrativismo regional com o principal objetivo de identificar os pontos de estrangulamento que prejudicam os projetos de desenvolvimento regional postos em prática até agora.

"O trabalho começou com um estudo sobre a cadeia produtiva do café, da castanha e da pecuária, para que, tanto o setor público quanto o privado possam contar com informações e orientações que assegurem o sucesso nos investimentos incentivados no Acre", explica o engenheiro agrônomo e mestre em economia agrícola Jair Carvalho, que coordena o centro de estudos sócio Econômicos da Embrapa.

Esse levantamento é realizado por meio de uma parceria entre a Embrapa, o Banco da Amazônia, o governo do Estado, a Seater, o Pesacre e a Ufac. O interesse de todos eles está no fato de que com os resultados, o setor público poderá programar melhor políticas de ação e incentivos, bem como as de preço e renda mínima.

Outro fato é a descoberta dos pontos de estrangulamento. Do ponto de vista financeiro, tanto os bancos quanto os serviços de extensão poderão elaborar e analisar projetos com maior precisão.

Já o setor privado poderá utilizar as informações para realizar seus projetos de investimento com uma visão mais clara sobre os resultados futuros.

Estudos apontam prejuízo aos seringueiros

No caso da borracha, os estudos feitos com base nos dados de 2001, quando o comércio pagava R$ 0,80 por um quilo do produto e o seringueiro recebia mais R$ 0,60 na forma de subsídio oferecido pelo governo. Os estudos chegaram a um resultado segundo o qual o produtor acabou levando prejuízo. Isto porque o quilo da borracha produzida no seringal Rio Branco, em Brasiléia, por exemplo, saia a um custo de R$ 3 por quilo. "Isto acontece porque a mão de obra representa cerca de 80% do custo da produção da borracha", valor que não é considerado pelo trabalhador, que, infelizmente, ao não se sentir gratificado vai abandonando essa produção", destaca Jair

Em compensação, os estudos realizados sobre a coleta e a comercialização da castanha, na área do seringal Cachoeira, onde nasceu Chico Mendes, comprovaram a alta lucratividade desse produto. Em 2001 o custo total de uma lata de castanha, que eqüivale a 18 litros ou dez quilos, era de R$ 2,50 e os produtores recebiam R$ 3,50 por lata. O lucro real era de R$ 1, mas como eles não consideram seu próprio trabalho, a sensação é de um ganho ainda maior", esclarece o pesquisador.

A extração da borracha se estende por oito meses do ano, período em que cada família consegue obter uma renda média de R$ 1.000 com o produto. Já a castanha é colhida em dois meses e produz uma renda média de R$ 1.500 por família.

Produção anual da castanha chega a 10 mil toneladas

Com uma produção média anual que varia de seis a dez mil toneladas de amêndoas, o que fez movimentar pelo menos R$ 3 milhões, no Acre, em 2001, a castanha representa apenas o,25% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Apesar disso, gera trabalho para mais de quatro mil famílias, sendo que 3.500 delas dedicam-se especialmente à coleta dos ouriços na mata.

"A influência positiva da castanha poderia ser ainda mais positiva se conseguíssemos levar adiante uma política que valorize sua importância econômica e social desse produto, além de suas virtudes como alimento e sua boa influência na saúde do homem", observa Jair

A esperança do pesquisador é de que isso comece a ser feito com a entrada em atividade das usinas de beneficiamento de castanha de Brasiléia e Xapuri, as quais terão capacidade para beneficiar a metade da produção de amêndoas do Acre. Hoje, pelo menos 80% da produção é vendida para a Bolívia, com a industrialização interna, metade dela poderá ser aproveitada também por outras empresas privadas.

Mil e uma utilidades

A engenheira agrônoma Cleísa Cartaxo, mestre em tecnologias pós-colheita, coordena os trabalhos do laboratório de alimentos da Embrapa. Ela esclarece que, além do consumo na forma de amêndoas in natura, também são fabricadas a partir as castanhas desidratadas, torradas com sal, óleo e farinha, que tem inúmeras aplicações nas indústrias de cosméticos e alimentos. "Agora mesmo estamos nos preparando para fazer castanhas cobertas com chocolate e outros produtos para agregar mais valor e qualidade à nossa produção."

Considerada um dos melhores alimentos do mundo, a castanha padece na área comercial por conta da Aflotoxína, um veneno que causa câncer e é produzido por um fungo, o Aspergillus flavus, que também ataca o milho e o amendoim. Países como a Holanda já determinaram que para entrar em seu país as amêndoas não podem ter qualquer percentual de Aflotoxína, já outros países europeus aceitam a presença do veneno numa concentração de até 4 PPB (Partes Por Bilhão). No Brasil a tolerância é de 40 PPB, mas está sendo baixada para 30, enquanto nos Estados Unidos ela é de R$ 10 PPB.

Para garantir a qualidade do produto que será oferecido pelo Acre, a Embrapa realizou convênios e parcerias através da qual conseguiu os recursos necessários para comprar os equipamentos e montar um laboratório capaz de identificar e dosar a presença da aflotoxína na castanha acreana.

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