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Estudantes visitam índios no Agreste de Alagoas

TribunaHoje tribunahoje.com
28 de Abr de 2017

Estudantes e professores Escola Municipal Sete de Setembro, na Barra de Santo Antônio, Litoral Norte estiveram esta semana na aldeia dos indígenas Tingui Botó, no município de Feira Grande, Agreste alagoano. A visita rendeu aprendizado e troca de experiências culturais já que a aldeia, situada no povoado Olho d'Água do Meio existe há mais de 100 anos.

Os 36 alunos e as quatros representantes da equipe pedagógica da escola foram recebidos pela lideranças da aldeia, o pajé Adalberto da Silva e o cacique Eliziano de Campos. O pajé saudou os visitantes na língua natural da etnia e boa parte dos índios também foi à escola da comunidade. Na oportunidade, foram expostos alguns hábitos da comunidade, preservados em pleno século XXI.

A coordenadora pedagógica da Escola Sete de Setembro, Ângela Buarque explicou que os estudantes participantes foram selecionados de acordo com o desempenho em sala de aula. Ainda segundo ela, outra parte dos alunos foi definida por sorteio.

Ângela Buarque diz que o projeto, apesar de só poder ter sido concretizado agora, é resultado de uma ideia da diretora Lúcia Lins. Segundo a coordenadora, houve mobilização e envolvimento de toda a comunidade escolar desde então. "É um momento muito importante para nós, porque os índios deixaram, e ainda deixam, muitos ensinamentos para a nossa cultura e história", frisou.

Para Lúcia Lins, diretora da escola, os alunos vivenciaram um momento especial e inesquecível. "Uma coisa é ver pela televisão ou pelos livros. Outra bem diferente é estar aqui. Adquirir conhecimento é aprender a respeitar. Estou muito agradecida a todos pelo acolhimento", disse emocionada.

O cacique Elizano de Campos ressaltou que os visitantes e também os índios só têm a ganhar com a iniciativa. "É preciso que eles tenham conhecimento do que é, de verdade, a cultura indígena. Até hoje sofremos preconceito, discriminação, mesmo sendo os primeiros moradores desta terra tão bonita que nunca foi descoberta [pelos portugueses] e, sim, procurada para exploração", explicou.

Vários ensinamentos foram passados aos estudantes da Escola Sete de Setembro durante a visita. Um deles foi a necessidade de inserção cada vez maior das diversas etnias brasileiras na sociedade, como forma também de manter a cultura indígena.

O estudante de Direito, Ricardo de Campos, filho do cacique da aldeia, fez questão de falar aos alunos da Barra de Santo Antônio.

"Tudo isso é muito importante para a preservação da cultura indígena. Ser índio não é apenas ter olhos puxados, cabelos grandes e corpos pintados", salientou Ricardo antes de agradecer pela visita e troca de experiências.

A viagem teve apoio da Prefeitura Municipal da Barra de Santo Antônio. A diretora Lúcia Lins, ressaltou a importância do envolvimento dos poderes públicos em iniciativas como a desenvolvida na Escola Sete de Setembro.

"É isso que os alunos queriam. O importante é dar voz para que eles [os índios] nos representem onde quer que cheguem. Muito agradecido a vocês todos e que outros momentos como este também sejam vivenciados por outros jovens e também pelos índios", pontuou a diretora.

Desde a chegada à aldeia, boa parte dos estudantes do Ensino Médio mostrou-se surpresa com a estrutura da aldeia existente há mais de 100 anos em Feira Grande. No local, existem plantações diversas, além de casas de alvenaria, algumas recém-inauguradas.

Os olhares cheios de perguntas foram saciados por outros dos pequenos indígenas, ainda não acostumados com as presenças de estranhos, mas iguais.

O estudante do 9o ano Álvaro José Batista da Paz, de 14 anos, foi um dos que mais se impressionou com a aldeia. "A gente achava que eles ainda moravam em ocas e andavam apenas com os corpos pintados. Estou impressionado com a educação deles com a gente. Fomos muito bem tratados. Senti muita emoção ao ver o que ainda não conhecia. Aqui ainda é melhor do que a nossa cidade", relatou.

Já a estudante Érika Maria Assis da Silva, de 15 anos, também do 9o ano do Ensino Médio, sentiu muita diferença entre as culturas. "Eles tiveram sabedoria e atitude para continuar mantendo a cultura deles. Levo daqui o meu carinho pelos índios. Tudo aqui foi feito com muito amor", disse.

LEMBRANÇA

Um momento marcante da visita aconteceu quando o cacique Eliziano de Campos pediu aos presentes, visitantes e moradores, a fazerem um minuto de silêncio em memória do índio Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo aos 44 anos. O crime foi cometido no dia 20 de abril de 1997, por quatro jovens de classe média e um menor.

Galdino Pataxó, como era conhecido, dormia em uma parada de ônibus da W3, em Brasília. Vinte anos depois, o assassinato ainda é lamentado também por ter se tornado mais um número nos índices de violência contra essas comunidades tradicionais.

Inauguração de casas

Comunidade promove ritual na mata em agradecimento

No momento da chegada da equipe, os índios estavam em ritual de agradecimento na mata pelas inaugurações de 25 casas, construídas com recursos do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR).

A ação, que beneficia 67 moradores diretamente, foi coordenada pelo Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Emater-AL), responsável pelo acompanhamento da comunidade desde 2015.

As novas unidades habitacionais possuem quartos, sala de estar e jantar, banheiro, cozinha e área de serviço e foram construídas através de acordo firmado entre a Emater e o Banco do Brasil para execução do PNHR, programa que busca garantir o acesso à moradia digna no campo. Cada casa foi construída ao custo de R$ 28 mil, dos quais apenas 4% do valor financiado são pagos pelos beneficiários.

O morador da aldeia, Jairã Santos, destacou que o acesso facilitado às moradias por meio do PNHR garante maior qualidade de vida, já que, com as novas casas, as famílias podem ter mais conforto e estrutura no dia-a-dia. "Antes tínhamos várias famílias morando em uma só casa ou em prédios da Funai, da Sesai, e as 25 novas casas dão condições para que a comunidade viva melhor no ambiente onde produz", concluiu.

Também como parte da visita à aldeia dos Tingui Botó, o promotor cultural Sérgio Tenório, que é descendente de indígenas, lançou a Comenda Guerreiros e Guerreiras de Luz, que integra o projeto Valores da Nossa Terra, com a finalidade de homenagear, naquele primeiro momento, as lideranças e nomes expressivos na comunidade indígena, a exemplo do pajé e do cacique.

O projeto, segundo seu idealizador, é mais amplo e seguirá até 2018. "Não vamos homenagear apenas aos índios, mas também negros, brancos, ciganos e caboclos. Queremos dar visibilidade a quem promove e faz a cultura acontecer em nosso Estado. Desde já agradecemos a todos que direta e indiretamente colaboraram para que esse nosso sonho se tornasse realidade", frisou Tenório.

Toré

Emoção marca apresentação de dança

O momento mais emocionante da visita ocorreu quando um grupo de pequenos índios e mulheres dançou em homenagem ao momento.

Os olhos do estudante do 6o ano, Gleverson Cicero dos Santos, de 13 anos, não seguraram a emoção transformada em lágrimas durante a apresentação do Toré, dança que faz parte de um ritual sagrado, comum a todos os povos indígenas do continente americano. No ritual, os participantes entoam cânticos tradicionais e ancestrais para buscarem integração com as forças da natureza.

"Tudo o que vi e ouvi foi impressionante. Vi que os índios mudaram e muito. Achava que eles andavam apenas pintados e com arco e flecha", destacou Gleverson dos Santos.

Outro que chorou durante a apresentação dos pequenos índios foi o estudante Bruno Arthur Lima, de 12 anos. "Foi diferente. Foi bonito. Fiquei todo arrepiado durante a dança. Aprendi novas coisas, entre elas que os índios têm seus modos e nós que vivemos nas cidades devemos respeitar", afirmou.

Já o índio Tawá Soares da Silva, de 15 anos, que participou do Toré, também achou o momento marcante. "Estou feliz, porque deixei meus irmãos [os visitantes] felizes com essa experiência", revelou.

http://tribunahoje.com/noticia/209155/cidades/2017/04/28/estudantes-vis…

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