OESP, Economia, p. B8
01 de Out de 2007
Estiagem provoca aumento do preço da energia
Preço da energia no atacado sobe 54% em relação a 2006, refletindo a falta de chuvas
Nicola Pamplona
As chuvas do final de semana trouxeram alívio ao setor elétrico brasileiro, que enfrenta uma das piores secas de sua história. O volume de chuvas está abaixo da média em três dos quatro subsistemas do setor, com reflexos no preço da energia e no nível dos reservatórios das hidrelétricas. A situação é mais complicada no Norte, que teve o 7ª pior setembro em 77 anos. Os reservatórios das hidrelétricas da região fecharam a semana passada com apenas 47% de sua capacidade.
O baixo índice pluviométrico ainda não se traduz em riscos de desabastecimento, dizem especialistas, graças às chuvas do último verão, que garantiram um bom estoque. Mas há grande expectativa sobre a próxima estação das águas. A avaliação é que a situação tende a se complicar, caso o volume de chuvas fique abaixo da média histórica.
'A fotografia hoje é de um cenário ruim', diz o presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Paulo Mayon. 'Temos que torcer por chuvas fartas', completa. No ano passado os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, principal estoque de energia do País, atingiram em setembro o pior nível desde o racionamento de 2001, mas se recuperaram com as chuvas de fim de ano.
Na semana passada, os reservatórios da região estavam com 62,9% de sua capacidade, mais de 20 pontos porcentuais acima do registrado mesmo período, em 2006. O volume, no entanto, representa queda de 24,5 pontos porcentuais com relação ao melhor nível de 2007, registrado em abril.
Em outubro, as chuvas no Sudeste chegaram a 75% da média histórica, informa o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). E no Norte, a 66%.
'O reservatórios ainda estão altos, mas as previsões para as próximas semanas são ruins', avalia o presidente da comercializadora de energia Comerc, Marcelo Parodi. Para ele, avaliação mais segura só poderá ser feita após o início das águas.
O presidente da Câmara Comercializadora de Energia Elétrica (CCEE), Antônio Carlos Machado, diz que a recuperação da virada do ano é tranqüilizadora. No início de 2007, algumas usinas chegaram a desperdiçar água por falta de espaço nos reservatórios, mesmo depois da forte seca de 2006.
Esse cenário se reflete no preço da energia no atacado, que atingiu R$ 190/megawatt-hora (MWh) na última semana de setembro. O valor está 54% acima do registrado no mesmo período de 2006. O cálculo é feito com base em simulações que consideram, entre outras coisas, expectativas de demanda e de chuva.
TÉRMICAS
Apesar de evitar previsões pessimistas, especialistas do setor são unânimes em afirmar que a energia térmica será essencial para o equilíbrio entre oferta e demanda no País. 'O primeiro reflexo da falta de chuvas é o aumento do preço no futuro, com uso de fontes caras', resume o presidente da Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel), Paulo Pedrosa.
O governo sabe disso e trabalha para facilitar o fornecimento de gás natural para geração elétrica. Esta semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda medidas para garantir a participação de térmicas a gás natural liquefeito (GNL) em leilões futuros.
A Petrobrás planeja importar 31,1 milhões de metros cúbicos de GNL por dia para uso em térmicas a partir de 2011. Observadores citam ainda a nomeação de Maria das Graças da Silva Foster, mais alinhada com as políticas da ministra da casa Civil, Dilma Rousseff, à diretoria de gás e energia da Petrobrás como parte desse esforço.
OESP, 01/10/2007, Economia, p. B8
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