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Estiagem expõe o drama da geração de energia no interior do Amazonas

A Crítica - https://www.acritica.com/opiniao/artigos/
Autor: RADLER, Juliana
29 de Out de 2023

Estiagem expõe o drama da geração de energia no interior do Amazonas

Juliana Radler
julianaradler@socioambiental.org
29/10/2023 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2023 às 22:30

Uma balsa levando milhares de litros de óleo diesel está navegando pelo rio Negro com destino a São Gabriel da Cachoeira (AM). Na maior estiagem da história, essa viagem torna-se dramática. Achar os canais de navegação, sobretudo no trecho entre Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel, onde o rio é cheio de pedras, é uma missão perigosa, com risco de derramamento de óleo no rio, já bem castigado pela seca.

Em São Gabriel, a população torce pela chegada da balsa. Quarenta mil pessoas dependem da geração de energia da termoelétrica que consome 44 mil litros de diesel por dia para produzir 8 megawatts de energia, de acordo com o boletim passado pelo comitê de crise que foi instalado no município.

Considerado o município mais indígena do Brasil, com 90% da população pertencente a uma das 23 etnias da região, São Gabriel foi o primeiro dos 62 municípios do Amazonas a decretar racionamento de energia. Chegou a ter um corte de 12 horas por dia no fornecimento e, no momento, a população está convivendo com 3 horas diárias sem energia. As aulas nas escolas públicas foram interrompidas e há registros de vários bairros sem fornecimento de água e com poços secos.

Para garantir que o município não ficasse as escuras de um dia para o outro, foi necessário que a Defensoria Pública e o Exército brasileiro tomassem providências exigindo medidas rápidas e concretas da Amazonas Energia. A falta de medidas preventivas ficou evidente e muitos prejuízos já ocorreram, principalmente, no comércio varejista, com perda de alimentos frescos e congelados.
Transição energética prioritária

Em agosto deste ano, o presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciaram ações para levar energia renovável à região amazônica, onde existem 211 sistemas isolados de geração termoelétrica. O prazo do programa de descarbonização da geração de energia na Amazônia é até 2030. Cabe a sociedade, a cada cidadão e cidadã, também estar atento a esse compromisso. Não podemos ficar só nos planos e nos anúncios. Precisamos concretizar e implementar as políticas públicas.

A transição energética na Amazônia, segundo o governo Federal, vai consumir cerca de R$ 1 bilhão e serão gerados 2.250 empregos, como informou o ministro Silveira em Parintins. Aproximadamente 300 mil pessoas serão beneficiadas. A ideia é aposentar as termoelétricas e substituí-las por biodiesel, solar, biogás e biomassa.

Precisamos estar atentos a esse compromisso e também aos interesses econômicos locais de grupos que privilegiam o lobby do combustível. Sobre isso vale ressaltar que o prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Clóvis Moreira, conhecido como Corubão, responde a processos no Ministério Público do Amazonas (MP-AM), por suspeita de fraude em licitação de combustível, sendo acusado de enriquecimento ilícito e dano ao erário, como denunciado pela imprensa amazonense.

Para descarbonizar a Amazônia será necessário controle social e uma mobilização da sociedade e da opinião pública para que de fato esse plano saia do papel e o recurso não vá pro ralo e para os bolsos de quem joga contra os interesses coletivos e do Brasil.

*Juliana Radler é jornalista com especialização em meio ambiente e analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA)

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