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Estados quebram recorde historico de queimadas

FSP, Cotidiano, p.C9
26 de Set de 2004

Mato Grosso é campeão de registros; no país, queima de vegetação é pior que poluição industrial para efeito estufa
Estados quebram recorde histórico de queimadas
Jairo Marques
Da agência Folha
Setembro ainda não terminou, mas os Estados de Mato Grosso e Rondônia, mais o Distrito Federal, com dados somados até ontem, já haviam quebrado o recorde histórico de registro de queimadas para esta época do ano.
A situação, que já era grave em agosto, piorou neste mês. As emissões de fumaça com a queima sufocam cidades, afetando a saúde da população e contaminando o ambiente.
Mato Grosso, onde vigora desde julho uma portaria proibindo as queimadas, é o campeão nacional de registros de fogo. Em 23 dias, foram detectados 19.944 focos de calor, pontos extremamente quentes captados por satélite, em território mato-grossense.
Além de ser o recorde para um mês de setembro desde 1999, quando começou a série histórica, também é o maior número de pontos de queimada já registrado em todos os tempos, no comparativo dos totais mensais, no país.
"As intempéries da natureza estão se manifestando no mundo todo, e no Brasil não é diferente. O clima está muito seco. Em São Paulo estamos com um problema grave de concentração de fumaça. Em Mato Grosso, o avanço dos focos está intimamente ligado ao aumento da atividade agrícola, que vem com o desenvolvimento econômico. Infelizmente, o fogo ainda é ferramenta de trabalho para a abertura de roças", declarou Romildo Gonçalves, coordenador em Mato Grosso do Prevfogo/Ibama.
O que tem preocupado mais os ambientalistas é o avanço dos incêndios para dentro de áreas da Amazônia. No Acre e no Amazonas, os índices de focos de fogo em setembro só não são piores que os registrados em 2002, mas, até o final do mês, é possível que haja um novo recorde negativo.
"Há uma migração muito grande de grileiros para o sul do Amazonas. Áreas gigantescas estão sendo desmatadas e, em seguida, sofrendo com as queimadas que trazem impactos diversos para o ambiente. É um quadro chocante. Como o Estado é muito grande, acaba recebendo pouca atenção nas discussões sobre o avanço do desmatamento", disse Phipplip Fearnside, pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
A Secretaria do Meio Ambiente do Acre chegou a fazer um apelo para que os Estados vizinhos e a Bolívia parem imediatamente com as queimadas, que estão sufocando a população no Estado.
"O deslocamento das massas de ar do Sul e Sudeste para o Norte, que periodicamente trazem frio para o Acre, agora estão transportando a fumaça. Todo ano isso acontece, mas neste ano a situação está insuportável", afirmou o secretário Carlos Edgar de Deus.
Em Tocantins, duas importantes unidades de conservação, áreas protegidas por lei em razão de suas diversidades de fauna e flora, estavam com vegetação nativa em chamas até ontem: o Parque Nacional do Araguaia e a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins. Brigadistas do Ibama estavam combatendo as chamas.
De acordo com o pesquisador do Inpe Alberto Setzer, o Brasil contribui mais para mudanças climáticas e para o efeito estufa com a emissão de fumaça de queimadas do que com a poluição da atividade industrial.
Comparando apenas os dados de setembro do ano passado, as queimadas já são registradas em maior número também nos Estados de Alagoas, Amapá, Mato Grosso do Sul e Tocantins.

FSP, 26/09/2004, p. C9

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