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Estado vai adotar modelo europeu de reciclagem

O Globo, Rio, p. 13
05 de Jun de 2010

Estado vai adotar modelo europeu de reciclagem
Secretaria do Ambiente assina com Portugal acordo de cooperação para reduzir volume de resíduos recicláveis nos lixões

Tulio Brandão

No Dia Mundial do Meio Ambiente, uma boa notícia: o lixo reciclável está perto de sumir de rios, lagoas e aterros clandestinos. O governo estadual assinou, com o governo de Portugal e empresas, um acordo de cooperação que deve elevar a patamares europeus a gestão de resíduos. No lugar dos menos de 3% dos resíduos reciclados atualmente, o estado pode ultrapassar os 50% em relação ao volume total de recicláveis gerado pelos fluminenses.

Para viabilizar o plano, a Secretaria estadual do Ambiente vai aprimorar a legislação ambiental, de modo a responsabilizar a indústria pelo destino final de seus produtos. Com a nova lei, o poder público vai estimular a criação de novas empresas específicas para gerir resíduos recicláveis gerados por essas indústrias em toda a cadeia do lixo. O modelo utilizado será o da Sociedade Ponto Verde, empresa portuguesa sem fins lucrativos que faz atualmente a ponte entre a indústria de embalagens local e o poder público.

A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, espera repetir a experiência de Portugal, que há 15 anos sofria com lixões e uma coleta seletiva incipiente e hoje se enquadrou no modelo europeu de gestão de resíduos.

- Fizemos um contrato específico para aprimorar a nossa legislação sobre responsabilidade pós-consumo, ou seja, o dever de indústrias de gerenciar o destino final de seus produtos. Na sequência, vamos trazer as indústrias de bebidas e embalagens para desenvolver, em parceria com elas, um projeto semelhante ao da Sociedade Ponto Verde. Será o primeiro passo.

Ideia é estimular indústrias a gerir resíduos
Medida poderá trazer benefício imediato para o meio ambiente

A meta da Secretaria do Ambiente é estimular a criação de empresas para gerir todos os tipos de resíduos - de plástico e papel a carcaças de automóveis, passando por artigos eletrônicos, como já acontece em Portugal. E as empresas seriam criadas pelos próprios interessados na manutenção de um processo sustentável: a Sociedade Ponto Verde, que gerencia o destino das embalagens, tem entre os sócios representantes das indústrias de bebidas, de distribuição e de reciclagem.

Segundo o superintendente de Qualidade Ambiental da Secretaria do Ambiente, Walter Plácido, a redução do volume de lixo potencialmente reciclável trará benefícios imediatos para o meio ambiente:
- A criação de uma unidade gestora no fluxo de embalagens reduzirá significativamente a disposição de resíduos em rios, lagoas, além, é claro, de diminuir o volume de lixo levado para os atuais lixões e os futuros aterros sanitários que serão construídos em todo o estado.

Um terço do lixo do estado vai para lixões, rios e lagoas
A Sociedade Ponto Verde funciona da seguinte forma: as indústrias pagam, anualmente, um valor determinado às empresas, de acordo com o volume de embalagens produzido no ano anterior (atualmente, gira em torno de 70 euros a tonelada). Com essa verba, a empresa compra o resíduo reciclável dos municípios e os vende, em leilões, às indústrias de reciclagem, que beneficiam o plástico.

Quando não há compradores para o resíduo, a Ponto Verde paga a uma indústria para recebêlo e beneficiá-lo. Se não existir reciclagem de determinado tipo de plástico, a empresa pode até financiar o desenvolvimento de uma tecnologia e a eventual compra dos equipamentos.

O diretor de marketing da Sociedade Ponto Verde, Mário Raposo, diz que a empresa ajudou Portugal a se tornar autossuficiente em reciclagem:
-Tudo o que é recolhido pode ser reciclado. Hoje, trabalhamos com uma meta contratada de 55% do total de resíduos recicláveis leiloados, mas estamos acima disso. Estamos além do compromisso.

Pedro Delgado, adjunto da ministra do Meio Ambiente de Portugal, Dulce Pássaro, explicou que o surgimento das empresas de gestão de resíduos só foi possível após um acordo com a indústria:
- O governo responsabilizou as empresas pelo destino final de seus produtos, mas não pode definir de que forma eles cumprirão a lei. As indústrias optaram por criar as empresas para administrar os resíduos.

O acordo com Portugal é um passo para mudar o quadro ainda caótico da gestão de lixo no estado. Reportagem do GLOBO sobre estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostrou que um terço do lixo gerado no estado vai parar em lixões, rios e lagoas.

O Globo, 05/06/2010, Rio, p. 13

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