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Autor: GROSSI, Amanda
06 de Fev de 2025
A esperança tem cor - e é o verde da Amazônia
Oportunidade de sediar COP-30 é única, com potencial de legitimar liderança do Brasil no debate sobre temas ambientais
Marina Grossi
Economista, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)
06/02/2025
As tensões geopolíticas que estiveram tão presentes ao longo de 2024 devem continuar sendo desafios em 2025. Os conflitos internacionais seguem fazendo vítimas, gerando impactos econômicos e sinalizam que a ordem de segurança global está fragmentada demais para negociar a paz. A globalização enfrenta seus reveses, com o encolhimento do comércio internacional de bens, fissuras nas cadeias globais de suprimento, a crescente polarização política, além do sentimento disseminado de que o multilateralismo e seus valores estão perdendo a eficácia.
A eleição e o retorno à Casa Branca do republicano Donald Trump, nos Estados Unidos, alimenta ainda mais essa percepção e, na esfera climática, houve novamente o rompimento com o Acordo de Paris. Em sua gestão anterior, Trump retirou o país do Tratado e eliminou políticas climáticas adotadas por seu antecessor, Barack Obama. Seu segundo mandato já começou nessa mesma linha. A notícia da eleição de Trump contaminou com um certo pessimismo as negociações durante a COP-29, realizada em novembro em Baku, no Azerbaijão. Apesar disso, a conferência trouxe resultados importantes, como a aprovação dos artigos que devem impulsionar o mercado global de carbono, e uma cifra, ainda que insuficiente, de financiamento climático para os países em desenvolvimento - US$ 300 bilhões/ano.
Um alento veio do encontro do G-20, realizado no Rio, que avançou em pontos importantes para a agenda do desenvolvimento sustentável, como o combate à pobreza e o redesenho da governança global. Na esfera ambiental, à frente da presidência do grupo, o Brasil defendeu o engajamento das nações para elevar o nível de ambição da próxima rodada de NDCs, que são os compromissos dos países perante o Acordo de Paris, de modo a perseguir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5oC. As novas NDCs dos países serão alvo de discussão na COP-30, em Belém, em 2025.
Histórica já de berço, a COP-30 vai atrair os olhares do mundo para o Brasil, a Amazônia, sua biodiversidade e para os povos da floresta. A realização de uma conferência sobre mudanças climáticas da ONU reacende a crença em um despertar definitivo para a emergência do clima. Como presidente da COP-30, o Brasil terá a primazia de conduzir os países na direção de um documento final robusto, que coloque o mundo definitivamente na rota da economia neutra em carbono com inclusão social. Sabemos, contudo, que ela será recheada de debates difíceis, como a continuidade da discussão sobre o financiamento necessário para os países em desenvolvimento conduzirem sua transição energética, a adaptação aos eventos extremos que já estão ocorrendo e a justiça climática.
A conversa sobre dinheiro, ponto nevrálgico das COPs, exigirá um resgate da cooperação internacional, do bilateralismo e do multilateralismo para que se chegue a soluções inovadoras e plausíveis para o enfrentamento da crise climática. Não será mais possível contar apenas com recursos concessionados, então é preciso desenvolver instrumentos financeiros calcados em blended finance, com uma combinação de capital privado e filantrópico de modo a gerar impacto positivo, com transparência e boa governança.
O setor empresarial brasileiro está atento a essa movimentação, e já se mobiliza para reforçar o diálogo com o governo brasileiro, os governadores da Amazônia Legal e com entidades empresariais globais para construir um caminho ousado, à altura da tarefa que será realizar a COP-30. Ainda há inúmeros desafios a serem superados - sociais, logísticos, de infraestrutura e conectividade - mas a oportunidade de sediar a COP-30 é única, com o potencial de legitimar definitivamente a liderança do Brasil no debate sobre os temas ambientais. País mais megadiverso do mundo, detentor de quase 60% da floresta amazônica e de outros importantes biomas, temos autoridade para pautar o enfrentamento das crises do clima e da biodiversidade e liderar pelo exemplo. A esperança de um novo tempo tem cor - e essa cor é o verde da Amazônia.
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