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Especialistas questionam ligação de térmicas a gás

FSP, Dinheiro, p. B7
09 de Mai de 2009

Especialistas questionam ligação de térmicas a gás
Consumidor pagará R$ 800 mi gastos por usinas

Samantha Lima
Da sucursal do Rio

A decisão de produzir mais energia em usinas térmicas para poupar água nas hidrelétricas do Sul é questionada por especialistas. Anunciada pela Petrobras, a medida encarecerá as contas de luz em 1% com a queima de gás pelas térmicas.
O acionamento dessas usinas, decidido pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, composto por integrantes do governo, ocorre em um momento em que a Petrobras enfrentava queda na demanda por gás, devido à crise econômica mundial e ao elevado nível dos reservatórios.
No dia 1o deste mês, ao anunciar o acionamento das térmicas, a diretora da Petrobras Graça Foster afirmou que a medida aumentaria o consumo de gás nas térmicas de 6 milhões de metros cúbicos por dia para 20 milhões de metros.
Para especialistas, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que gerencia o sistema, deveria ter apresentado à sociedade embasamento técnico justificando a medida.
"A decisão surpreende porque os reservatórios do Sudeste, do Nordeste e do Sul estão muito acima do nível de risco", diz Adilson de Oliveira, professor de economia da UFRJ.
No Brasil, 90% da energia vem das hidrelétricas. Ligar usina térmica custa caro. Neste ano, os consumidores pagarão R$ 800 milhões. No fim de 2007, outro acionamento, por 12 meses, custou R$ 2 bilhões.
"Em 2007, alegaram que os reservatórios estavam vazios, e a economia, aquecida. Hoje, vivemos o oposto. Precisamos pagar essa conta?", questiona Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, que reúne os investidores do setor.
Para Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a conta é alta. "Em 2007, funcionaram térmicas a óleo, mais caras, por mais tempo, e o petróleo estava em alta. Por que agora a conta é de R$ 800 milhões por menos tempo e com o preço do gás em queda?"
Segundo o ONS, as térmicas estão ligadas porque, com a seca, os reservatórios do Sul estão com 38% da capacidade, e, para eliminar o risco de falta de luz, deveriam estar com 40%.
Esse percentual representa o triplo do que prevê a chamada "curva de risco", que era usada pelo ONS desde 2002 e estipula os níveis mínimos nos reservatórios para afastar o risco de apagão. Por essa curva, o nível mínimo no Sul é de 13%.
No entanto, no fim de 2008 o ONS sugeriu ao comitê de monitoramento a criação de margem de segurança extra, que exige um nível maior de água. O acionamento de térmicas passa a ser determinado pelo novo indicador e não pela "curva".
Especialistas dizem não conseguir reconstituir a conta que chegou aos 40% no Sul. No Nordeste e no Sudeste, o nível dos reservatórios, respectivamente 100% e 84%, está acima das novas metas, de 48% e 33%.
O secretário-adjunto do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grudtner, nega que a medida tenha sido tomada para beneficiar a Petrobras. "Se não houvesse gás, acionaríamos as térmicas a óleo, mais caras."
A Petrobras negou a relação entre a redução na demanda por gás no mercado e o acionamento das usinas. "A decisão é uma prerrogativa legal do ONS. A Petrobras cumpre as determinações do ONS."
Procurado, o ONS não comentou as críticas.

FSP, 09/05/2009, Dinheiro, p. B7

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