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Esgoto tira 1/3 de área da Pampulha

OESP, Metrópole, p. C8
03 de Jun de 2008

Esgoto tira 1/3 de área da Pampulha
Estudo de biólogo mostra que despejo de dejetos na lagoa mineira causou diminuição de volume de água

Eduardo Kattah

A Lagoa da Pampulha, um dos mais famosos cartões-postais da capital de Minas Gerais, já perdeu um terço de sua área e quase a metade de seu volume de água, ao longo das últimas cinco décadas.

O espelho d'água da lagoa, que em 1958 correspondia a um espaço de 300 hectares, atualmente abrange apenas 196,8 hectares. No mesmo período, o volume de água do reservatório também sofreu uma considerável redução - de aproximadamente 18 milhões de metros cúbicos para cerca de 10 milhões de metros cúbicos, nos dias atuais.

Esses dados fazem parte de um estudo sobre o novo formato da lagoa, realizado pelo biólogo Rafael Resck em sua dissertação de mestrado, apresentada em dezembro do ano passado ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No trabalho - intitulado Avaliação Morfológica e Estudo da Variação Horizontal e Parâmetros Limnológicos do Reservatório da Pampulha -, Resck concluiu que o depósito direto de esgoto no reservatório é o principal responsável pelo processo de assoreamento da lagoa e pela piora da qualidade de sua água.

A estimativa do biólogo é que, das cerca de 350 mil pessoas que vivem na bacia hidrográfica da Pampulha - área de cerca de 100 quilômetros quadrados, que, além de abranger o norte de Belo Horizonte, se estende pelo município de Contagem -, aproximadamente 100 mil não contam com esgoto interceptado.

Apesar da inauguração, em 2002, do novo vertedouro da lagoa e da Estação de Tratamento das Águas dos Córregos Ressaca e Sarandi, construída em parceria com a Companhia de Saneamento do Estado (Copasa), o problema persiste, segundo Resck. "Melhorou sensivelmente, mas não resolveu", diz o pesquisador. "Nem todas as residências da bacia hidrográfica têm esgoto interceptado."

Em relação à dimensão do reservatório, o estudo levou em conta o formato e as características da lagoa definidos na sua "reinauguração", há 50 anos. A primeira barragem foi construída na década de 30, para o abastecimento de água da região norte da capital mineira. O reservatório artificial se rompeu em 1954, e quatro anos depois a lagoa foi novamente inaugurada, nos moldes atuais.

Conforme o biólogo, o Parque Ecológico da Pampulha, implantado em 2004, consolidou a perda de área do espelho d'água, ocupando ilhas formadas durante a década de 1990 na foz dos córregos Ressaca e Sarandi, provenientes de Contagem. A alteração das características originais também é resultado do assoreamento das enseadas dos córregos Braúnas e Água Funda, nas proximidades do Zoológico de Belo Horizonte.

PROFUNDIDADE

No ano passado, Resck analisou 22.183 pontos do espelho d'água da Lagoa da Pampulha, realizando um levantamento batimétrico, que analisa o desenho do fundo de um reservatório e a profundidade do mesmo. Ele concluiu que a profundidade média da lagoa é atualmente de 5,1 metros e que ela possui duas regiões distintas.

A mais rasa, com 2 a 3 metros de profundidade, se situa na chamada Ilha dos Amores, onde ocorre muito despejo direto de esgoto. No ponto mediano da lagoa, a profundidade varia de 6 a 7 metros. A profundidade máxima observada no trabalho foi de 16 metros.

Em relação à qualidade da água, o biólogo atestou que a população de peixes perdeu grande parte da sua diversidade, e o reservatório continua ameaçado por proliferação descontrolada de cianobactérias (microorganismos fotossintetizantes, cuja proliferação está ligada ao excesso de luminosidade e ao aumento da matéria orgânica na água) e aguapés (plantas aquáticas flutuantes).

O resultado do estudo, de acordo com Resck, "evidencia que a lagoa necessita de um cuidado permanente." Ele ressalta que, apesar de os dados serem preocupantes, a situação já foi pior no final da década de 1990.

Em 1999, por exemplo, uma pesquisa da UFMG feita a pedido da prefeitura revelou que o volume de água chegou a 8,5 milhões de metros cúbicos, o menor já registrado.

Ações contra problemas só começaram há oito anos
Prefeituras de Belo Horizonte e Contagem já investiram R$ 120 mi na preservação da lagoa

Eduardo Kattah

Os problemas da bacia hidrográfica da Pampulha só começaram a ser enfrentados de fato há oito anos, segundo o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte, Weber Coutinho. A partir de 2000, tiveram início ações de uma associação civil criada por meio de um termo de cooperação assinado pelas prefeituras da capital mineira e de Contagem visando à preservação da bacia.

Coutinho considera o estudo do biólogo Rafael Resck importante para a avaliação das intervenções realizadas nos últimos anos, principalmente no que se refere ao volume de água. "Foram dragados 1,5 milhão de metros cúbicos (de sedimentos)."

Ele lembra que, a exemplo da grande maioria dos lagos artificiais, a Pampulha sofreu nas últimas décadas com o crescimento desordenado da cidade, acompanhado da falta de infra-estrutura de saneamento e conseqüente poluição dos cursos d'água que desembocam na lagoa. "Todo lago está condenado à morte por causa do processo erosivo das suas bacias hidrográficas. Só que esse período de vida útil do lago depende das características de uso e ocupação do solo. Os lagos urbanos são os mais problemáticos."

Segundo Coutinho, nos últimos oito anos, os dois municípios investiram cerca de R$ 120 milhões para a preservação, recuperação e desenvolvimento ambiental da área. "Hoje a coleta de lixo atinge a quase totalidade da bacia", destacou.

O programa em execução prevê ações de saneamento, dragagem, coleta e interceptação de esgotos, recuperação de nascentes, urbanização de favelas, monitoramento da água e dos peixes, educação ambiental, entre outras. "Mas nem tudo ainda é 100%", admite.

OESP, 03/06/2008, Metrópole, p. C8

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