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Escassez transparente

FSP, Editoriais, p. A2
05 de Mai de 2015

Escassez transparente

Nível do sistema Cantareira afasta por ora perspectiva de rodízio na Grande São Paulo, mas crise hídrica no Estado está longe de ser superada
A lenta recuperação do nível da água no sistema Cantareira, de 3,8% no início de fevereiro para 15,4% no final de abril, trouxe a falsa impressão de que a crise hídrica estava superada. Nada mais distante da realidade.
Em abril, as chuvas representaram apenas metade da média histórica para o mês. Nos primeiros quatro dias de maio houve quase zero de precipitação (0,1 mm).
Para completar o quadro, na quinta-feira (30) as quatro represas do sistema --o mais importante para a região metropolitana de São Paulo-- tiveram a primeira queda em três meses.
Desde então o nível se manteve estável. Nunca é demais lembrar, porém, que os mais de 5 milhões de habitantes ainda abastecidos pelo Cantareira veem a estação seca chegar com apenas metade da água que havia ali um ano antes.
Isso depois de 83% da população ter reduzido o consumo e a produção metropolitana de água pela Sabesp ter caído quase 30%, de 70 mil para 50 mil litros por segundo.
Nessas condições, soa alarmante o anunciado atraso de ao menos três meses na principal providência do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em 2015 para mitigar a crise.
A interligação do braço Rio Grande (represa Billings) com o sistema Alto Tietê, por meio de 11 km de tubulações, viria transportar 4.000 litros por segundo ao manancial e tornar mais flexível o gerenciamento dos seis subsistemas metropolitanos.
A obra de R$ 130 milhões ficará pronta em agosto ou setembro, reconheceu o governador tucano no seu lançamento, nesta segunda-feira (4). A previsão inicial era de concluí-la até o término de maio, mas a licença ambiental da Cetesb --uma empresa do governo estadual, como a Sabesp-- só foi concedida no último dia de abril.
Outras iniciativas para melhorar o abastecimento no Estado envolvem prazos bem mais dilatados. O sistema produtor São Lourenço, para agregar 4.700 litros por segundo à capacidade de produção, com investimento de R$ 2,21 bilhões por uma parceria público-privada, entra em operação apenas em outubro de 2017.
Também está nos planos construir, na melhor das hipóteses terminando em 2018, duas represas na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) para abastecer a região de Campinas. A cidade de 1,15 milhão de habitantes atualmente depende da captação direta no rio Atibaia.
A bacia PCJ é uma das mais exigidas do Estado. Além de ceder águas para o sistema Cantareira, tem demanda alta por causa de indústrias e usinas --basta dizer que oito delas têm direito a utilizar o dobro do recurso hídrico que se destina à população de Campinas.
Há muito o que reorganizar no fornecimento de água no Estado, já se vê. A crise vivida pelos paulistas --que não foi embora e não irá tão cedo-- ao menos tem servido para tornar mais transparente a escassez desse recurso essencial.

FSP, 05/05/2015, Editoriais, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/218248-escassez-transparente.s…

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