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Erosão derruba postes e deixa arquipélago no Amapá sem energia por semanas

G1 http://g1.globo.com/
Autor: John Pacheco
04 de Mar de 2018

Nas comunidades que ficam nas oito ilhas que formam o arquipélago do Bailique, na foz do rio Amazonas, em Macapá, é comum ouvir relatos sobre os problemas no fornecimento de energia elétrica. Reclamações como "chega a faltar uma semana", "quase todo dia cai" e "quando vai embora demora demais pra voltar" já fazem parte do cotidiano dos ribeirinhos.

As dificuldades na distribuição do serviço são justificadas pela Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) por dois fatores: o avanço do fenômeno das "terras caídas", que derruba os postes fixados nas encostas, e a própria rede elétrica, com cabos que passam por dentro da floresta e são rompidos rotineiramente por árvores que caem na mata.

A empresa diz que realiza mutirões regularmente para identificar pontos de risco, que com a queda das postes pode provocar acidentes com os fios expostos. Nos últimos meses, com o avanço do fenômeno, 84 estruturas ficaram na iminência de queda, alguns estão sustentados de forma precária.

Um dos postes de concreto com risco de cair é o que fica próximo à casa de Maria Antônia Feitosa, de 49 anos. Para evitar o acidente, a estrutura está sendo sustentada por um pedaço de madeira, e mesmo assim, não é alívio para a dona de casa, que mora na comunidade Vila Progresso.

"A gente tem que pagar energia, se não vai para o SPC o nome. Já perdi comida, tive que jogar fora. Trabalhava com venda de chopp e perdi cerca de R$ 100 em produtos após uma semana sem luz. Tem mês que passamos mais no escuro do que no claro", lamentou Maria Antônia.

No caso da servente Rosana Cordeiro, de 50 anos, o prejuízo foi ainda maior. Ela conta que, em fevereiro, a casa de madeira da filha pegou fogo e foi destruida após repentina oscilação na energia. Sem recursos, não teve como reconstruir a residência e está morando com a mãe.

"A energia foi e voltou e na segunda vez que ela voltou a casa estava sendo incendiada. Ela perdeu todas as coisas dela porque estava trabalhando. Não deu tempo de tirar nada", lembra Rosana.

Na orla da Vila Progresso, a principal do arquipélago, a fiação elétrica em muitos trechos fica na altura da passagem dos ribeirinhos e se confunde com a paisagem do local. As reclamações vão além da parte estutural, pois os moradores também se recusam a pagar os valores das contas.

O problema apontado é que a ausência do serviço rotineiramente provoca alterações nos valores, com distorções nas faturas. "A gente paga o mesmo valor como se tivesse 30 dias de energia, mas não temos. As vezes quando tem energia o mês inteiro pagamos até mais baixo", disse a dona de casa Maria do Socorro Gomes Cordeiro, de 45 anos.

A inadimplência causou a negativação do nome de centenas de moradores do arquipélago que, com isso, ficaram impedidos de obter empréstimos e conseguir acesso a benefícios sociais, como no caso de Paulo Cordeiro, de 50 anos. Ele negociou a dívida de quase R$ 2 mil para ter o nome limpo.

"Fiz esse acordo porque meu nome foi para a Serasa. Mas temos prejuízos, porque queima o material da gente e eles não vão ressarcir. Não tava pagando as contas, as vezes a energia só tem de 10 e 15 dias por mes. Meu salário por mês é 300 reais e não dá para pagar", diz.

Sobre a solução para a queda dos postes, a CEA informou que elabora um estudo para novos traçados da instalação de cabos e postes em locais com menos risco de desabamento. Além disso, prevê a troca dos postes de concreto por estrutura em madeira, que são mais leves. O prazo para as mudanças, porém, não foi definido.

O crescimento das "terras caídas" provocou a decretação da situação de emergência na região pelo Governo do Amapá em 23 de fevereiro. Segundo levantamento da Defesa Civil, pelo menos 13 comunidades sofrem com o fenômeno que já atingiu, total ou parcialmente, 168 edificações públicas e privadas, afetando ao todo 715 moradores.

https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/erosao-derruba-postes-e-deixa-arq…

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