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Equipe estudara baleias da rota Antartida-Bahia

OESP, Vida, p.A30
03 de Set de 2005

Equipe estudará baleias da rota Antártida-Bahia
Cientistas vão pesquisar jubartes que se alternam entre a Bahia e a Geórgia do Sul
David Moisés
Pesquisadores brasileiros embarcam em 25 de janeiro rumo à Antártida para começar um estudo inédito sobre as baleias-jubarte que freqüentam o litoral da Bahia. Fotos e dados de telemetria indicaram com mais segurança a região onde elas vivem de dezembro a junho - até migrar para as águas mornas dos trópicos, onde ficam de julho a novembro, tendo crias e se acasalando.
É na região das ilhas britânicas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul que o grupo do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) vai passar 45 dias com essas Megaptera novaeangliae, conhecendo seus hábitos nas zonas de alimentação no Mar de Weddell. Com isso, será possível ter uma idéia mais abrangente da rotina anual das baleias, das rotas migratórias no Atlântico Sul e sua relação com as áreas de reprodução.
"Um dos objetivos é fornecer subsídios para futuras estratégias de conservação de baleias, até mesmo para a eventual criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, proposta pelo Brasil", explica a bióloga e chefe da expedição, Márcia Engel, diretora do IBJ, que é vinculado ao Ibama. Segundo ela, é fundamental conhecer os padrões de deslocamento e os locais de permanência dessas jubartes para estudar melhor o impacto da atividade humana no ambiente onde vivem.
Os pesquisadores farão na Antártida o que fazem na costa brasileira quando os cetáceos estão por aqui: fotos de identificação, coleta de amostras de pele e gravação de padrões vocais, já que elas são notórias cantadoras. As fotos de nadadeiras caudais são uma espécie de RG das jubartes - mostram pigmentações características - e vão completar o grande catálogo que o IBJ já reuniu desde sua fundação, em 1996. Com 2,5 mil indivíduos registrados e 300 novas fotos a cada ano, é um dos maiores do mundo.
As amostras de pele serão usadas no catálogo de DNA, iniciado em 1997, e servirão também para estudos sobre eventuais contaminantes químicos nessa população de jubartes. Para coletar as amostras, os pesquisadores aproximam o barco, cuidadosamente, até que a baleia esteja ao alcance do disparo de uma balestra. A seta - presa a um longo fio - tem a ponta adaptada para "arranhar" o grosso couro do cetáceo, retendo uma pequena porção de tecido cutâneo. As análises serão feitas na PUC de Porto Alegre.
COMPROVAÇÃO
O primeiro indício de que as baleias "brasileiras" passam a outra metade do ano no Mar de Weddell chegou ao IBJ, em Caravelas (BA), numa foto enviada por Haroldo Pallo Júnior, que acompanhava uma expedição de Amir Klink à Antártida em 2004. A jubarte fotografada nas imediações da Geórgia do Sul foi reconhecida no catálogo do instituto. No mesmo ano, uma baleia com um chip foi acompanhada por telemetria desde Abrolhos até aquela região antártica.
A confirmação veio em fevereiro, quando o coordenador de projetos de pesquisa da British Antarctic Survey na Geórgia do Sul, Antony Martin, fotografou mais uma baleia que está no catálogo do IBJ. Ele esteve em julho em Caravelas para três dias de "baleiada" com pesquisadores do IBJ na costa baiana e propôs uma cooperação entre as instituições. A primeira ajuda será na logística da expedição brasileira.
A equipe que vai à Antártica terá sete pesquisadores. Eles sairão de Ushuaia, na Patagônia, no Kotic II, veleiro do francês Oleg Bely, velejador que já fez mais de dez expedições à Geórgia do Sul. Os R$ 200 mil necessários à missão estão sendo bancados pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobrás, que desde 2004 financia projetos do IBJ.

OESP, 03/09/2005, p. A30

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