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Equipe do Cimi reencontra tribo que era considerada extinta

Página 20- Rio Branco-AC
21 de Nov de 1999

Os nauas, povo guerreiro que habitava a região do Vale do Juruá e considerado extinto há cerca de 90 anos foi reencontrado novamente por uma equipe do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) de Cruzeiro do Sul. O grande encontro se deu quando uma missionária da equipe assessorava uma reunião do povo nukine e, atenta às informações, soube da existência de índios diferenciados que foram vistos nos limites daquela área.
Segundo as informações repassadas ontem pelo Cimi, as investigações feitas pela missionária descobriu a existência de pelo menos dois índios da etnia naua habitando no Parque Nacional da Serra do Divisor, nos limites do Brasil com o Peru.
Embora tenham sido visitados apenas dois índios, a equipe joga com a quase certeza de haver um grupo. "Seria muito difícil que apenas dois sobrevivessem sozinhos durante tanto tempo", afirmam os missionários Rose, Lindomar e Francisco, que estão acompanhando de perto a nova descoberta.
De acordo com eles, o Cimi está trabalhando com duas hipóteses. A primeira é de que talvez os índios estejam num processo de retomada do território tradicional e a segunda é de que esteja faltando o elemento feminino. "Seja qual for a causa do retorno, o fato antropológico e político mais importante é de que mesmo tendo sido massacrados e considerados extintos, no limiar dos 500 anos de invasão, reaparecem e confirmam a frase de que foram derrotados, mas não vencidos", esclarecem os missionários.
As visitas às aldeias da região pela equipe do Cimi fazem parte da campanha dos 500 anos de resistência e o fato de os nauas estarem reaparecendo cai perfeitamente para os objetivos da campanha: mostra, junto com os povos indígenas, que, apesar dos massacres, a resistência continua e de que a população índia é bem maior do que afirmam os órgãos oficiais.
As informações obtidas a respeito dos nauas são ainda limitadas uma vez que a equipe de Cruzeiro do Sul, em respeito e como prática do Cimi, decidiu visitá-los em uma outra oportunidade onde estivessem dispostos a conversar e apresentar suas reivindicações e necessidades. Para o Cimi é de fundamental importância que os índios sejam respeitados em suas decisões e que a própria organização indígena seja a expressão maior dessa vontade.

Apolina: ameaçados pela falta de terra

Se por um lado os nauas ressurgem após quase um século considerados extintos, outra tribo, a dos apolina, está sendo ameaçada de extinção. A equipe do Cimi de Cruzeiro do Sul, em visitas às áreas indígenas do Alto Juruá, contatou um grupo de índios apolina vivendo às margens do rio Juruá e rio Amônea, próximo ao município de Marechal Thaumaturgo. O índio mais velho, conhecido pelo nome português de Thaumaturgo de Azevedo, principal liderança pajé, foi quem forneceu o maior número de informações.
Ele contou que no início foram confundidos com a etnia ashaninka e, por isso, julgava-se a Fundação Nacional do Índio (Funai), que poderiam conviver com os ashaninka do Amônea dado que habitavam a mesma região e também eram provenientes do Peru. A partir daí iniciou-se a luta para a conquista da terra. Seu Thaumaturgo liderou o movimento junto com outras lideranças ashaninka na certeza de que seriam demarcadas duas áreas distintas: uma para os apolina e outras para os ashaninka.
"A Funai, pressionada, demarcou a área onde hoje estão os ashaninka do Amônea mas deixou de fora os apolina", conta seu Thaumaturgo. Não sendo possível a convivência com os ashaninka, os apolina se dispersaram e alguns, inclusive, foram viver nas cidades próximas ou em terras de antigos seringalistas. No Juruá e no Amônia vivem seis famílias com uma população de 25 pessoas, a maioria de crianças.

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