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Equilíbrio ela floresta ameaçado

A Crítica, Cidades, p. C3
27 de Mai de 2007

Equilíbrio ela floresta ameaçado
Herbicida usado na destruição das plantações de coca na Colômbia pode atingir bacia do Rio Negro

Leandro Prazeres
Da equipe de A Crítica

O uso indiscriminado do herbicida glifosato no combate às plantações ilegais de coca na Colômbia pode colocar em risco o equilíbrio ecológico da Bacia do Rio Negro. 0 alerta foi feito durante o seminário 'Visões de um rio babel', realizado na semana passada em Manaus. 0 problema causado pela utilização da substância é uma prova das dificuldades que os países amazônicos ainda têm para gerir conjuntamente os problemas e potencialidades de uma floresta que não respeita fronteiras.
O uso em larga escala do glifosaco nas matas colombianas começou no final da década de 90, como parte do Plano Colômbia, um esforço de guerra financiado pelos Estados Unidos para conter a produção e o tráfico de cocaína.
A repressão fez com que os cocaleiros deixassem as áreas de montanha, que têm os melhores solos, para cultivarem a planta na Amazônia colombiana, apoiados pelos guerrilheiros das Torças Armadas Revolucionárias (Farcs).
O exército colombiano acompanhou a migração e passou a borrifar o glifosato em vastas áreas de Floresta Amazônica, justamente nas cabeceiras de rios como o Uaupés, um dos principais formadores do Rio Negro, que corta o Noroeste do Amazonas e é um dos principais afluentes do Rio Amazonas.
Apesar de o governo colombiano admitir que o glifosato pode ter causado prejuízos no Equador, país com o qual a faz fronteira, a Embaixada da Colômbia no Brasil não se manifestou sobre o assunto quando questionada pela reportagem de A CRÍTICA.
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil informou que não há nenhum estudo ou reclamação em andamento sobre os possíveis impactos do glifosato em território brasileiro.

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A Amazônia é uma só
Secretária geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Rosalia Arteaga, diz que o problema levanta uma questão muito importante, que é a necessidade de termos uma visão compartilhada de toda a Amazônia.

Faltam estudos sobre os efeitos
Mata pode estar em risco com uso do glifosato

A bióloga Natália Hernandéz é uma das principais pesquisadoras da Fundacion Gaia Amazonas, com sede em Bogotá, capital da Colômbia. Ela diz que os efeitos do glifosato no meio ambiente tropical ainda são desconhecidos, mas sabe-se que a substância não faz distinção entre as espécies de plantas. "Quando eles jogam o glifosato, tudo fica ressecado e morre. É um herbicida poderoso", explica.
Hernandéz alerta que mesmo estando relativamente distante da área onde as borrifações estão acontecendo, o Brasil também pode ser gravemente afetado. "Quando a substância chega às águas do rio Uaupés por exemplo, o Rio Negro sofre influência direta. 0 problema é que existem poucos estudos sobre os efeitos do glifosato em ambiente de floresta", explica.
0 ecólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Arnaldo Carneiro, disse que o problema da utilização do produto na floresta colombiana mostra como é complexa a gestão dos recursos da Amazônia.
"Nenhum governo pode pensar a Amazônia isoladamente. 0 que você faz na cabeceira de um rio na Colômbia vai ter impacto na sua foz, no Brasil", afirma.
Carneiro diz que, enquanto os países não se unem para debater os problemas comuns da Amazônia, a comunidade científica tem que fazer a sua parte.
"É por isso que sustentamos a idéia de manter uma rede de conhecimentos sobre a Amazônia.
Assim poderemos compreender melhor as complexidades dessa região tão vasta", completa.

Primo do agente laranja
Os impactos do glifosato na Floresta Amazônica são imprevisíveis. A afirmação é do pesquisador Sérgio Abud, do setor de pesquisa em soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília. Estudos científicos comparam o produto ao "agente laranja", herbicida utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, nas décadas de 60 e 70, para "desfolhar" as árvores dos campos de batalha e facilitar a ação dos militares norte-americanos.

Destaque
O pescador Everaldo Andrade, 35, passou mais de 20 anos em barcos, viajando. Mesmo sem ter concluído o ensino médio, ele tem consciência, adquirida com o tempo, de que o que se faz em uma parte da floresta em outro país pode ter impacto sobre a sua atividade.

A Crítica, 27/05/2007, Cidades, p. C3

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