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16 de Mar de 2019
Perante a "ameaça da política" que o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que tomou posse em janeiro, pretende levar a cabo para os índios, estes preparam-se para, "como sempre, resistir", explicou.
Para essa luta, é preciso parcerias e alianças internacionais, considerou José Lima, que prefere ser tratado pelo nome que lhe foi dado pelo seu povo, Zezinho Yube, o nome do avô.
"Nós temos um grupo de líderes indígenas que estão fazendo uma peregrinação nos países da Europa para denunciar esse abuso e retirada de direitos já conquistados pelos povos indígenas" que pode representar a política de Bolsonaro.
Os representantes dos povos índios do Brasil estão em Genebra, para procurar, mais uma vez, a ajuda das Nações Unidas, em Bruxelas e em Lisboa, referiu, como exemplos.
Em Lisboa, a Ameríndia, mostra de cinema índio, com 30 filmes, e ciclo de debates, que decorre até ao próximo domingo na Gulbenkian, é o palco privilegiado para mostrarem a sua cultura e a sua causa.
"No Brasil de hoje, infelizmente, mudou a política, mudou para um Governo de extrema-direita, que é contra os povos indígenas, bem como a maioria da bancada ruralista [no Congresso]", relembrou, e isto constitui "uma ameaça" para os índios.
Ainda recentemente, o Governo de Bolsonaro anunciou, através do seu ministro da Energia e Minas, que "vai ser liberada a exploração de minérios dentro das terras indígenas. O Governo de Bolsonaro também já anunciou a legalização de terras para a agricultura. Então há uma ameaça aos povos indígenas, aos direitos dos povos indígenas", afirmou Zézinho Yube.
No primeiro caso, Zézinho referia-se a informações nos media brasileiros sobre declarações que o ministro da Energia e Minas do Brasil terá feito num encontro com investidores privados no Canadá.
Nesse encontro, o governante brasileiro prometeu concessionar à iniciativa privada explorações de minério em terras indígenas. Assegurando que iria ouvir os índios, terá dito, porém, que a posição daqueles não era decisiva.
"Os anúncios de ministros dele de legalizar terras indígenas, de legalizar arrendamentos de terra indígena para a agricultura, já é uma ameaça, já é um facto real", reforçou aquele representante dos povos indígenas, quando questionado sobre quais as medidas concretas que o Governo Brasileiro tomou contra os índios.
Além de tudo o que têm falado sobre os povos indígenas, "que nem mais um centímetro para a terra indígena, que os povos indígenas são como animais no zoológico, é muito grave", apontou ainda Zézinho Yube.
"Nós estamos voltando à década de 70, de 60, em que os povos indígenas não tinham direitos. (...) Isso é um desastre para a gente, mas a gente vai continuar na luta", referiu.
A vinda a Lisboa, e a participação na Ameríndia, "é muito importante para procurar as alianças internacionais, como aconteceu na década de 70 e 80", disse.
Na Europa, vão "procurar parcerias" para a sua tribo e para os povos indígenas do Acre (o Estado a que pertence e onde foi - entre 2010 e 2018, secretário para os assuntos indígenas). Nós não podemos viver mais hoje sem alianças."
Por outro lado, é também "para que seja divulgado o que está a acontecer no Brasil".
"Tá muito difícil e para que isso seja visibilizado pelo mundo, o que o Governo pretende fazer com os povos indígenas. E mostrar também que os povos indígenas são importantes para o mundo, pela questão da preservação da Amazónia e dos conhecimentos tradicionais que esses povos têm. E também é importante a mobilização dos povos indígenas para discutirmos os próximos passos das nossas lutas", adiantou.
Zezinho conclui, alertando: "Se a Amazónia acabar, mais nenhuma pessoa sobreviverá, isso eu garanto. E a gente vai manter, porque os povos indígenas preservam a floresta porque vivem dela. Infelizmente, o mundo do capitalismo vê a Amazónia como dinheiro, como capital. A gente vê como vida".
https://www.dn.pt/lusa/interior/entrevista-indios-dos-brasil-estao-em-p…
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