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Entre nesta floresta

CB, Super, p. 4-5
16 de Out de 2004

Entre nesta floresta
No passado, as árvores foram derrubadas, os cursos dos rios forram desviados e muitos animais foram mortos. Mas a Mata Atlântica ainda guarda um grande tesouro

Paloma Oliveto
Da equipe do Correio

É um tesouro com mais de 100 milhões de anos. Muito antes que existisse o homem, a mata já estava lá. Primeiro, eram só montanhas, que se separavam e depois se uniam. E assim foi durante muito tempo, até que, entre 2 a 4 milhões de anos atrás, a Mata Atlântica transformou-se em um lugar cheio de árvores enormes, povoado por mamíferos, roedores, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, ficaram assustados com aquele mundo verde e úmido, onde o barulho das águas misturava-se ao canto dos pássaros, às pisadas da onça sobre o solo coberto de folhas, à gritaria dos micos que brincavam pulando de galho em galho. Naquela época, a Mata Atlântica se estendia por uma área de 1.300.000 km2, distribuída por 17 estados brasileiros. Hoje, resta muito pouco: somente 7,3% do tamanho original. O que sobrou da mata distribui-se pela costa brasileira e no interior das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Em Goiás e no Mato Grosso do Sul ainda há pequenas áreas preservadas.
A Mata Atlântica foi destruída pelos homens. Derrubaram árvores, deslocaram o curso dos rios, desabrigaram milhões de animais. Mataram mamíferos, engaiolaram aves raras, deixaram tantos bichos órfãos que alguns não existem mais. Só em 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira, a mata foi protegida.
Mas a natureza insiste, e resiste, firme, às agressões. Apesar de tanta matança, ainda existem 1.807 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Uma riqueza encontrada em poucos lugares da Terra. O Super! mostra aos leitores alguns desses bichos -uns conhecidos, outros bem esquisitos. Eles foram retratados para o livro Animais da Mata Atlântica, publicação da Ambiental Consulting. Entre com a gente nesta mata e descubra um dos maiores tesouros do Brasil.

Curupira: Herói da Mata
Montado sobre um porco-do-mato, lá vai o menino de cabelo vermelho, com os pés virados para trás. O Curupira (em tupi-guarani, "curu"quer dizer "menino" e pira é corpo) é o protetor da fauna e dos animais. Ele não existe de verdade, mas é uma figura muito conhecida do folclore brasileiro. Quando vê um caçador ou alguém derrubando árvore, coloca todo mundo para correr com seus poderes mágicos.

Intanha ou sapo boi
Sabia que sapo também morde? Quando se sente ameaçado, o sapo-boi salta sobre o inimigo e morde. Nessas horas, ele enche o pulmão de ar, ergue-se nas quatro patas, abre a boca e dá um grito. Encontrá-lo não é fácil, porque o sapo-boi vive escondido entre folhas para surpreender suas presas, grandes insetos e pequenos vertebrados. Até rã ele come. Encontrado em Minas Gerais e São Paulo, o sapinho bravo está em extinção.
Preguiça-de-Coleira ou Preguiça-Negra
Ela anda bem devagarinho, quase que se arrastando. Daí o apelido: preguiça. Na verdade, esse bicho não é preguiçoso, mas, como se alimenta só de folhas, tem pouca energia para gastar. Por isso anda sem pressa, economizando suas reservas. A preguiça-de-coleira tem como habitat natural os estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de janeiro e Sergipe, lugares que foram bastante devastados. É mais uma espécie da Mata Atlântica em extinção.
Aranha-Caranguejeira
No Brasil, há 300 espécies de aranhas-caranguejeiras. Elas dão medo porque são grandes, peludas e feiosas, mas não há nada a temer. Essas espécies são inofensíveis aos seres humanos, apesar de poder provocar urticárias por causa de seus pelos. A aranha-caranguejeira constrói túneis no solo ou em troncos de madeira caídos no chão.
Bagre-Cego ou Bagre-Cego-de-Iporanga
Repare bem neste peixe. Ele não tem olhos. E - nem precisa, pois vive em cavernas escuras, onde não há nada mesmo para ver. Para se orientar, o bagre-cego tem bigodes, que também têm função olfativa. Ele passeia sozinho pelas águas, mas é muito sensível a distúrbios. Por isso, é mais uma espécie ameaçada de extinção.
Largarto
Ele se parece com a cobra. Aliás, até pode se comportar como se fosse uma. Quando foge dos predadores, ele comprime o corpo e se arrasta igualzinho às cobras fazem. 0 lagarto come insetos mas, se atacado, morde qualquer um. Vive nas matas da Bahia e de Santa Catarina.
Caninana
Essa cobra é de dar medo. Chega a medir dois metros de comprimento! Ela é um dos répteis mais comuns da Mata Atlântica e se alimenta durante o dia de filhotes, roedores e aves. Se um dia encontrar uma caninana, tente ficar longe. Quando se sente acuada, a cobra eleva a parte anterior do corpo, fica achatada, o pescoço infla e ela pode morder.
Mico-Leão-de-Cara-Dourada ou Sauim-Una
Ele se parece bastante com o mico-leão-dourado, outra espécie encontrada na Mata Atlântica. Mas se diferencia por causa da pelagem escura que cobre seu corpo. 0 mico-leão-de-cara-dourada vive com a família- um grupo tem de 2 a 11 indivíduos. Ele aparece durante o dia e, à noite, dorme em ocos de árvores. É um bichinho quase vegetariano: só come frutos, néctar e pequenos insetos. Por causa do desmatamento e dos caçadores que os aprisionam para vender, eles estão em extinção e só podem ser encontrados no sul da Bahia.
Pica-Pau-Dourado
Ele não se parece muito com o pica-pau do desenho animado. Mas também tem o bico comprido e afiado, com o qual vai furando os troncos das árvores em busca de insetos, seu alimento. Os machos diferenciam-se das fêmeas pela faixa vermelha no rosto. 0 picapau-dourado vive em matas de grande altitude, e pode ser encontrado do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul. É uma ave solitária e não gosta de dividir seu espaço com outros indivíduos.

A mata em números
389 espécies endêmicas (ou seja, esses animais só existem lá)
261 espécies de mamíferos
76 espécies de roedores (ratos, cutias, pacas e ouriços)
620 espécies de aves
140 espécies de répteis
350 espécies de anfíbios
350 espécies de peixes
2.200 espécies de borboletas
Animais ameaçados de extinção
39 espécies de mamíferos
94 espécies de aves
15 espécies de répteis
50 espécies de peixes

Capitão-do-Mato
Essa linda borboleta voa baixinho ao longo de trilhas e riachos durante o dia. Pode ser encontrada tanto na zona rural quanto nas cidades. É um inseto solitário, mas à noite junta-se a outras borboletas para dormir. A fêmea é mais bonita que o macho: é maior e mais azul. Quando adulto, o capitão-do-mato alimenta-se de frutos fermentados e resinas que saem das plantas.
Perereca-Verde
Com braços e pernas ágeis, a perereca-verde é bem esperta. Para se esconder dos predadores, ela consegue mudar de cor. Durante o dia, quando se encontra sobre a vegetação, fica verde. À noite, ganha uma coloração mais para o marrom. Elas depositam os ovos em poças dágua e os escondem sob uma espécie de gelatina. Vivem nas matas litorâneas de Pernambuco a Santa Catarina.
Besouro-Rinoceronte ou Besouro-de-Chifre
Nem precisa explicar por que tem esse nome... Ele não se parece mesmo com um rinoceronte? 0 besouro-rinoceronte é muito raro e vive na Bahia, no Espírito Santo, em Minas Gerais, no Rio de janeiro e em São Paulo. Quando é adulto, come frutos fermentados. Na fase de larva, alimenta-se de madeira em decomposição. Ele demora até dois anos para crescer e atinge mais de 10 centímetros.
Pintor-Verdadeiro
Difícil encontrar uma ave tão bonita quanto esta. 0 pintor-verdadeiro é um dos bichos mais coloridos da Mata Atlântica e suas penas parecem feitas de seda. Infelizmente, por causa da beleza, ele corre o risco de extinção. Caçadores fazem arapucas e aprisionam o pássaro, para vendê-lo a colecionadores. Os exemplares em liberdade vivem em pequenos grupos, comem frutos e insetos e se abrigam na Paraíba em Pernambuco e em Alagoas.

Fotos: Reprodução / Animais da Mata Atlântica. Uma publicação da Empresa das Artes e Ambiental Consuting

CB, 16/10/2004, Super, p. 4-5

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