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Entidades se unem pelo desenvolvimento sustentável na floresta do Alto Juruá

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Josafá Batista
10 de Mar de 2003

Cerca de 120 órgãos debatem este mês os rumos que tomará o progresso no meio rural acreano

É preciso planejar. A conclusão, óbvia, de quem viu canaviais e cafezais serem subitamente engolidos pela civilização urbana, com seus arranha-céus e monóxido de carbono, saiu mês passado numa das salas do Conselho Nacional de Seringueiros. O resultado é que povos indígenas, ribeirinhos e seringueiros pretendem dar um passo adiante e idealizar um plano de desenvolvimento para a floresta do alto Juruá, considerada uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo.

O evento, que acontecerá em março, no município de Cruzeiro do Sul, mostra o avanço da consciência de desenvolvimento sustentável, extraordinariamente bem assimilada pelos povos da floresta (uma realização quase exclusiva das associações de produtores rurais e da igreja católica, embriões históricos, acrescente-se, do PT acreano). Entre os realizadores estão entidades de peso, como o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj) e Comissão Pastoral da Terra, da sempre influente CNBB.

Mas a iniciativa também possui um quê de saudosismo. A luta pela regulamentação das primeiras terras indígenas e reservas extrativistas ficou gravada a ferro e fogo nas mentes dos pioneiros do sindicalismo rural. A situação ganhou contornos ainda mais impressionantes no Alto Juruá, onde a resistência dos fazendeiros aos "empates" e outros conflitos foi alimentada durante décadas por uma resistente linhagem de políticos influentes.

CONFLITOS - Finda a década de 80 e os conflitos mais violentos, nem mesmo o advento da democracia conseguiu pôr fim à eterna pendenga. Em 1996, as entidades foram obrigadas a fazer um lobby sem precedentes no seu longo traçado de lutas. Era a época do pacotaço de asfaltamento a diversas estradas acreanas, deflagrado pelo governo do Estado, que não levava em conta os impactos ambientais e étnicos provocados por centenas de quilômetros de massa asfáltica.

Evento se espelha em passado de luta

"Em novembro de 1996, motivados pela falta de respeito demonstrada pelo então governador Orleir Cameli para com os povos da floresta e o Acre, por não se poder concordar com o EIA-Rima apresentado pela empresa contratada pelo então governador visando produzir o chamado Relatório de Impacto Ambiental necessário, para que se fizesse os trabalhos de asfaltamento da BR-364, trecho Rodrigues Alves a Tarauacá, sem maiores prejuízos para as sociedades tradicionais e nem para o meio-ambiente, as organizações de trabalhadores índios e não-índios do Vale do Juruá realizaram o "1o Encontro Interinstitucional dos Trabalhadores Índios e não-Índios do Vale do Juruá Acreano".

O trecho faz parte do documento que será apresentado a diversos órgãos dos governos estadual e federal, visando organizar o evento que pretende congregar, num só lugar, todas as entidades ativamente envolvidas no projeto de reinvenção da economia e da organização social acreanas. As entidades querem evitar a falta de comunicação que gerou a tentativa de imposição de políticas públicas, durante outros governos estaduais.

"Aquele referido encontro contou com a participação efetiva de 22 entidades de trabalhadores e de órgãos da esfera federal, inclusive representante da senadora Marina Silva. Muito embora o governo do Estado do Acre, à época, não se tenha feito presente no encontro, ocorrido no auditório da Rádio Verdes Florestas, em Cruzeiro do Sul, houve uma considerável participação dos povos da floresta, que inclusive apresentaram um documento contendo diversos pontos de reivindicações criteriosas", explica o projeto.

Política do atual governo para a floresta é elogiada

De acordo com as entidades, por ocasião da primeira gestão de Jorge Viana à frente do Palácio Rio Branco, apesar de toda a predisposição estatal à causa seringueira e ribeirinha, a fragmentação oriunda de divergências internas acabou enfraquecendo e dissipando os projetos em comum para o desenvolvimento sustentável do Juruá.

Criticando a junção de todos os interesses apenas em períodos críticos, como na imposição de políticas experimentada há sete anos, as entidades querem agora criar um fórum permanente de discussões.

"O Vale do Juruá acreano busca recuperar a força positiva que já foi demonstrada pela Aliança dos Povos da Floresta dessa região e que desfrutava de uma forte e valiosa confiança de nossa sociedade. Construir juntos, de forma clara e participativa é o nosso maior objetivo", almeja o projeto, em sua página 7.
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