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Entidades ambientalistas repudiam descaso dos candidatos à Presidência

Bioclimático
22 de Set de 2006

Entidades ambientalistas repudiam descaso dos candidatos à Presidência

Preocupados com a falta de discussão nessas eleições sobre a temática ambiental, mais de trinta ambientalistas e entidades favoráveis à causa se propuseram a organizar um debate com todos os candidatos à Presidência da República para que expusessem seu programa de governo na área. Entretanto, somente o candidato José Maria Eymael (PSDC) havia aceitado o convite.

"Isso mostra a falta de visão estratégica dos candidatos", condena Fabio Feldmann, coordenador do site Bioclimático, uma das entidades que assinam o convite do debate. Segundo ele, a questão socioambiental é crucial para o Brasil e não levar isto em consideração é um grande erro dos tomadores de decisão. "Infelizmente, a oportunidade que criamos foi perdida. Perdeu a sociedade", lamenta Ana Cristina Barros, representante nacional da ONG TNC (The Nature Conservancy), entidade também signatária do convite.

Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra, outra organização que assina o convite, diz que a questão ambiental está eminentemente excluída desta campanha e o motivo é que ela "é vista como um obstáculo pela lógica do PIB" - já que "o produto interno bruto faz parecer mais rico quem tem dinheiro na conta corrente e não quem tem mais dinheiro entre conta corrente, aplicações e patrimônio".

Essa visão de meio ambiente como um entrave econômico ao país, é, infelizmente, muito recorrente. Esquece-se que ele permeia por todas as áreas, inclusive em questões ligadas ao dia-a-dia, como transportes, saneamento básico, eletricidade e qualidade de vida, e contribui até mesmo para a redução da fome e da pobreza.

De acordo com a pesquisa "O que os brasileiros pensam sobre a biodiversidade" realizada pelo Vox Populi neste ano, o meio ambiente ainda é uma expressão pouco usada pelos brasileiros quando se referem espontaneamente aos principais problemas do país. Quando são citados em resposta estimulada os problemas da cidade, "meio ambiente" aparece em 10o entre 12 opções de resposta. Entretanto, na lista dos 10 primeiros problemas citados espontaneamente para o bairro, quatro são ambientais.

Isso demonstra o quanto a temática ambiental é importante para a agenda do país e não deveria ser negligenciada de maneira alguma. Ana Cristina acredita que o tema é tão importante quanto educação, saúde, emprego e estabilidade econômica. "O bom governo é aquele que consegue progresso em todas as áreas. O cérebro não é mais ou menos importante que o coração", ilustra. Para a ambientalista, infelizmente, o setor ainda é visto dentro do estereótipo do "defensor de formigas".

Além dessa percepção errônea que se faz, "a predominância exarcebada da pauta corrupção nessa campanha eleitoral contribuiu ainda mais para a falta de debate de outros temas - não só os ambientais", acredita Mario Mantovani, diretor de Mobilização da ONG SOS Mata Atlântica, também signatária do convite feito aos candidatos. "Essas eleições têm um caráter atípico: não entusiasmou", critica Mantovani, já que os temas abordados foram basicamente os mesmos.

"Meio ambiente é um lado da sociedade que todos deveriam, no mínimo por orgulho de ser civilizado, incluir na pauta de governo e de comportamento", enfatiza Ana Cristina. Segundo ela, o que acontece hoje é que poucos detêm o controle e o destino do mundo, onde indivíduos e empresas colocam-se acima da legislação e atuam à revelia do governo, da lei e dos interesses da sociedade.

Atualmente, a questão ambiental já não deveria ser vista como um entrave ao desenvolvimento, pelo contrário, pois ela apresenta uma grande oportunidade de crescimento ao país. Fato que já vem sendo notado por diversos setores da sociedade que se preocupam cada vez mais com o desenvolvimento sustentável para a definição de seus planos estratégicos. Investidores, consumidores e os próprios empresários estão cada vez mais atentos para as empresas que apresentam algum selo de responsabilidade socioambiental.

"Meio Ambiente e Sustentabilidade"

A idéia de organizar um debate com os presidenciáveis surgiu em conversas com diversos ambientalistas, verificando-se uma grande lacuna nos temas ambientais no contexto do processo eleitoral. Desta forma, entidades como Greenpeace, SOS Mata Atlântica, Amigos da Terra, WWF-Brasil, Instituto Socioambiental e The Nature Conservancy, além de outras ONGs, juntamente com o site Bioclimático e com pessoas do setor governamental e empresarial, articularam-se numa atitude suprapartidária, com o objetivo de propiciar um espaço de diálogo com os candidatos à Presidência da República e a sociedade.

Na carta-convite ao debate, enviada a todos os presidenciáveis, diversos temas são questionados, como "que políticas governamentais poderão fazer face ao crescimento das cidades, que sofrem com a ameaça de escassez de água? Como prevenir as nefastas conseqüências sociais e econômicas de desastres naturais causados por eventos climáticos extremos, como ciclones, furacões, enchentes e secas? Como lidar com a demanda por infra-estrutura associada ao crescimento econômico e, ao mesmo tempo, garantir o uso sustentável dos recursos naturais? Como aproveitar nossos recursos em prol da geração de empregos e da redução da pobreza?".

Receptividade

Assessores de Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) mostraram-se interessados, mas declararam não ter agenda disponível. O presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também recusou e propôs mandar um representante. Rui Pimenta (PCO) e Luciano Bivar (PSL) não se manifestaram.
Denise Meira do Amaral

Bioclimático, 22/09/2006

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