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A engenharia genética não resolve a fome

OESP, Geral, p. A14
23 de Mai de 2004

A engenharia genética não resolve a fome

VENTURA BARBEIRO

A fome e a desnutrição existem porque os famintos são pobres, não podem comprar comida e não possuem terras para cultivar os seus alimentos. A engenharia genética e os alimentos transgênicos não podem fazer nada para resolver esses problemas. Talvez os torne piores. O relatório divulgado pela FAO (Organização para Agricultura e Alimentação da ONU) nesta semana, que virou manchete como se fosse favorável aos plantios transgênicos atuais, na realidade critica que os investimentos em biotecnologia sejam destinados somente às culturas lucrativas, que no fim resultam em benefícios para apenas poucos agricultores.
Desde 1950, a produção de alimentos aumenta a cada ano, mas hoje temos muito mais desnutridos e famintos do que há 20 anos. A produção de alimentos na Argentina, por exemplo, bateu recordes nos últimos anos. Recorde de produção, recorde de exportação e recorde de pobreza e fome.
A gigantesca monocultura de soja transgênica para exportação substituiu as culturas de arroz, sorgo, milho. O dinheiro ficou nas mãos de poucos exportadores. Florestas nativas estão sendo derrubadas para plantar soja. O uso intenso do pacote tecnológico de sementes transgênicas e agrotóxicos em grandes monoculturas eliminou pequenas propriedades e milhares de empregos rurais, concentrando a posse da terra nas mãos de poucos.
O principal argumento usado pelos defensores dos transgênicos em 1996, quando a soja Roundup Ready foi aprovada na Argentina, era a promessa de aumentar a segurança alimentar. Em maio de 2002, 18 milhões de pessoas tinham dificuldade para comprar alimentos no país, principalmente por causa do aumento dos preços. A falsa promessa dos transgênicos não eliminou a fome da Argentina, piorou.
Apenas 16% das terras produtivas no mundo estão livres da poluição química ou do desequilíbrio ecológico. A agricultura industrial está comprometendo a terra das gerações futuras. O Greenpeace documentou projetos agrícolas em mais de 50 países que usam tecnologias regionais, baratas e que não prejudicam o meio ambiente. Além disso, aumentam a produtividade dos pequenos agricultores em 73%, em média.
O Greenpeace se opõe à liberação do uso comercial de plantas transgênicas pelo perigo que representam ao meio ambiente, em países desenvolvidos ou pobres. A ameaça da patente genética e da cobrança de royalties apenas reforça os graves problemas sociais e econômicos que os cultivos transgênicos podem causar aos pequenos agricultores familiares e aos países mais pobres.

OESP, 23/05/2004, Geral, p. A14

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