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Enfim, uma meta comum

Terra da Gente n. 41, set 2007, p. 60-61
Autor: JONH, Liana
30 de Set de 2007

Enfim, uma meta comum
ISA e Vidágua estabelecem múltiplas parcerias com prefeituras, cooperativas e comunidades tradicionais para restaurar as margens do rio Ribeira de Iguape

texto Liana John

A Mata Atlântica ainda domina a paisagem na bacia do rio Ribeira de Iguape, entre Paraná e São Paulo. São 2,1 milhões de hectares de florestas, 150 mil de restingas, 17 mil de manguezais e 200 1(m de uma recortada zona costeira com praias, sacos, costões, estuários e ilhas bem preservadas. Isso corresponde a 23% dos 100 mil km2 de Mata Atlântica remanescentes em território nacional. Mesmo assim, o rio Ribeira de Iguape precisa de restauração: suas margens foram desmatadas e ocupadas por bananais, agricultura de subsistência, pastagens e minerações de areia, gerando erosão, assoreamento; aumentando o risco de enchentes e deteriorando a qualidade da água, com conseqüências para a biodiversidade do rio e do estuário e impactos sobre os estoques pesqueiros.
Para interromper a degradação e replantar a mata ciliar, desde outubro de 2006 duas organizações não-governamentais (ONGs) uniram esforços e projetos, lançando a campanha Cílios do Ribeira, com a participação de 40 outras instituições e representantes de grupos sociais. 0 Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto Vidágua contam com recursos de projetos aprovados, respectivamente, pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro-SP) e pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA). Somados, os dois projetos disponibilizarão cerca de R$ 500 mil nos próximos 2 anos. 0 nome da campanha foi escolhido por meio de um processo participativo, envolvendo 2 mil alunos de 29 escolas locais. A autora da sugestão vencedora - Cílios do Ribeira - é Raquel Hellen do Nascimento, de 17 anos, aluna de 3' série do ensino médio em Barra do Turvo (SP).
As prioridades da campanha são organizar reuniões e mobilizar os mais diversos atores nos 33 municípios cortados pelo rio - 23 em São Paulo e 10 no Paraná - para promover plantios-piloto. Cada município terá uma área-piloto de pouco mais de 3,5 hectares, num total de 120 hectares. E a expectativa é estimular as pessoas e as instituições envolvidas com a campanha a ampliarem esses plantios por meio de iniciativas locais, como a anunciada pela prefeitura de Ilha Comprida (SP), que, por conta própria, já transformou em 18 seus 3,5 hectares.
Também em Eldorado, o reflorestamento já começou, com o plantio de 1.270 mudas de 50 espécies diferentes, todas nativas da Mata Atlântica. Em Itaócas e em Barra do Chapéu, dois outros municípios paulistas, o plantio não é direto, mas as prefeituras disponibilizam mudas para os proprietários de terras situadas às margens de nascentes dos afluentes do Ribeira de Iguape. Os sitiantes recebem treinamento e tornam-se responsáveis pelos tratos e manutenção das mudas.
Apenas no estado de São Paulo, o total de matas ciliares derrubadas nos últimos 20 anos soma 10.596 hectares, segundo levantamento feito pelo Vidágua. No Paraná, uma avaliação com base em imagens de satélite será feita durante 2008, mas, considerando apenas um levantamento preliminar feito pelos ambientalistas, o nível de degradação parece pior do que em São Paulo.
"Nossas metas incluem aprimorar os estudos técnicos sobre a situação das matas ciliares, produzir mais de 230 mil mudas de espécies nativas e promover a capacitação de técnicos e comunidades locais nos processos de reflorestamento", diz o biólogo Clodoaldo Gazzeta, coordenador da campanha pelo Vidágua. A intenção é capacitar 250 técnicos locais em atividades de produção de sementes e mudas nativas, além de envolver 93 escolas públicas do Vale do Ribeira em ações de educação ambiental. Em médio prazo, isso deve ampliar consideravelmente os 120 hectares de plantio-piloto de mata ciliar, além de promover a recuperação de 1.243 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs) degradadas. As APPs incluem nascentes, encostas íngremes e topos de morro. 0 déficit de matas ciliares em toda a região é de 10.542 hectares, já excluídos 1.054 hectares de áreas densamente ocupadas com estradas, cidades e outras estruturas permanentes. As áreas em pior estado, com solo exposto, somam 199 hectares.
"Estou otimista por que todo mundo está participando. 0 Vale do Ribeira tem uma história de polarização muito grande, é uma novidade unir segmentos tão diferentes em torno de um objetivo comum. A recuperação da mata ciliar conseguiu juntar todos e já há uma compreensão da campanha como algo com potencial de construir uma imagem do Vale do Ribeira, fora da região, de uma forma positiva. Não a pobreza, mas um sinal de riqueza, algo capaz de chamar a atenção e buscar recursos para o que é a vocação do Vale: o desenvolvimento sustentável, a agricultura familiar valorizada", comenta Nilto Tatto, coordenador da campanha pelo Instituto Socioambiental. "Com todo planejamento, mobilização e organização local, é boa a perspectiva de dar certo. Agora depende da nossa capacidade de mostrar essa imagem positiva para fora do vale e assim garantir a sustentabilidade da iniciativa ao longo do tempo, para que a campanha perdure além do prazo dos projetos".

Para saber mais:
A campanha Cílios do Ribeira tem um site com informações, fotos e até sugestões para voluntários interessados em colaborar: www.ciliosdoribeira.org.br

Terra da Gente n. 41, set 2007, p. 60-61

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