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Energia nuclear pode voltar ao debate, diz Dilma

OESP, Economia, p. B3
24 de Out de 2006

Energia nuclear pode voltar ao debate, diz Dilma
Visão deverá sair do foco ideológico e adotar um tom mais pragmático, se Lula se reeleger

Beatriz Abreu, Leonardo Goy

Caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reeleja no próximo domingo, a visão dentro do governo sobre a questão do uso da energia nuclear deverá sair do foco ideológico para adotar um tom mais pragmático. Como o preço estimado para a energia gerada por usinas nucleares já está próximo ao da energia produzida por termoelétricas a gás, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, decidiu abrir o debate no governo em relação às obras de Angra 3 e até mesmo a construção de mais usinas nucleares.

A reabertura da discussão em contexto mais econômico não significa que o governo, no curto prazo, terá concluído um debate que se arrastou pelos quatro anos de governo Lula. A idéia, segundo fonte do Planalto, é debater exaustivamente a questão para que, na próxima década, o País esteja em condições de iniciar os projetos.

'Não estaremos concluindo Angra 3 em seis meses, por exemplo. Mas o debate é importante', afirmou um assessor. Dilma recebeu um estudo do Conselho Nacional de Energia Nuclear (Cnen), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que representa o primeiro passo na direção da retomada das obras de Angra 3 e a construção de seis outras usinas.

O presidente do Cnen, Odair Dias Gonçalves, disse que o estudo não definiu onde poderiam ser localizadas essas usinas, mas já estimou qual poderia ser a capacidade de geração. 'Seriam duas usinas com potência de 1.300 megawatts (MW) e outras quatro de menor porte, com potências de 300 MW a 600 MW', disse Gonçalves.

A questão, neste momento, é quanto ao custo da energia. Até agora, a posição majoritária no governo considerava que o custo da energia nuclear inviabilizava a construção. Os estudos consideram que, agora, esse custo é compatível com o de outras matrizes energéticas. Segundo o presidente do Cnen, a energia gerada por Angra 3 custaria cerca de R$ 138 por MW/hora, 'preço comparável ao das usinas termoelétricas'.

Recentemente, a usina de Angra 3 entrou na discussão eleitoral. No debate da TV Bandeirantes, realizado na semana seguinte ao primeiro turno, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, disse que construiria a usina. A definição sobre a construção cabe ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que é um órgão de assessoramento da Presidência da República.

A discussão em torno da usina provocou um racha no conselho. De um lado, há ministérios que defendem a retomada da usina. O principal é o Ministério da Ciência e Tecnologia, que argumenta que o Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo e precisa da usina para manter atualizado o desenvolvimento da tecnologia na área nuclear. Do outro lado, o principal opositor é o Ministério do Meio Ambiente, que argumenta que ainda não há métodos eficientes e seguros de se lidar com os rejeitos radioativos produzidos pelas usinas nucleares.

OESP, 24/10/2006, Economia, p. B3

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