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Energia em 2007

FSP, Opinião, p. A2
23 de Dez de 2007

Energia em 2007
Setor elétrico termina o ano sem afastar sinais de incerteza que ainda anuviam horizonte do crescimento econômico

Dois eventos recentes, com sinais trocados, fecharam o ano de 2007 no setor elétrico.
De um lado, o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, surpreendeu pelo baixo preço oferecido, R$ 78,87 por megawatt-hora (MWh). De outro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) rebaixou o critério de risco para definir quando usinas termelétricas devem ser acionadas, a fim de poupar a água dos reservatórios.
No primeiro caso, há alguma razão para ânimo. Após incontáveis idas e vindas, superaram-se as barreiras político-ambientais e foi dada a largada no aproveitamento hidrelétrico da Amazônia. Ali se encontram 65% a 70% do potencial remanescente no país. As pressões e os debates de tantos anos surtiram efeito, pois Santo Antônio e a futura Jirau são usinas menos danosas para o ambiente que os projetos anteriores para o Madeira.
A medida da Aneel, por outro lado, relembra que o fornecimento de energia elétrica para o crescimento da economia permanece cercado de incerteza. Não há um apagão à vista, ao menos em 2008. A partir de 2009 ou 2010, contudo, o horizonte não está de todo desanuviado.
O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2007/2016) projeta um crescimento anual do PIB de 4% a 4,8% ao ano no período 2006-2011. Em 2007, a expansão do PIB vai ultrapassar 5%, estimam os analistas de mercado, e a taxa de investimento acima de 18% sugere que o limite superior daquela previsão poderá ser alcançado. O consumo de energia elétrica, por seu turno, deverá avançar em torno de 5,3% neste ano, acima já da faixa inferior projetada pelo PDE 2007/2016.
Ora, nem mesmo todas as hidrelétricas da Amazônia, se obtiverem licenças e entrarem em linha a tempo, conseguiriam suprir a eletricidade necessária. O próprio plano indica que uma trajetória mais dinâmica da economia só poderá ser sustentada com um adicional de 5.600 MW de energia térmica (usinas a gás e a carvão). O cronograma todo parece apertado, sem margem para os previsíveis atrasos.
Ademais, o plano embute um encolhimento da parcela de geração por fontes renováveis, de 87% do total para 80%, até o ano 2016. Ganhará espaço a termeletricidade, mais "suja", pois em geral consome combustível nuclear ou fóssil (gás natural, óleo ou carvão). É lamentável que não se dê mais ênfase a fontes alternativas, como a solar e a eólica, ou a um programa agressivo de eficiência energética.
"Vale ressaltar que é possível atingir montantes ainda mais expressivos de conservação de eletricidade", registra o PDE 2007/ 2016, "mediante ação mais agressiva do Estado brasileiro no sentido de fomentar programas específicos que induzam à penetração mais veloz de tecnologias e hábitos de consumo de eletricidade mais eficientes".
Com efeito, falta agressividade ao governo nesse setor, viciado como está nos bilionários megaprojetos hidrelétricos.

FSP, 23/12/2007, Opinião, p. A2

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