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Empresas européias e distribuidoras anunciam boicote à soja amazônica

O Globo, Economia, p. 22
25 de Jul de 2006

Empresas européias e distribuidoras anunciam boicote à soja amazônica

Fernando Duarte, Patrícia Duarte e Eliane Oliveira

No dia em que empresas alimentícias com base na Europa, incluindo supermercados e cadeias de fast-food, assumiram o compromisso de boicotar a chamada soja amazônica ilegal - fruto de plantações em áreas desmatadas sem autorização ou de alguma forma de trabalho escravo - as distribuidoras de grãos que operam no mercado brasileiro e internacional anunciaram uma moratória de dois anos na compra de colheitas plantadas em áreas recém-desmatadas da floresta. Duas decisões foram comemoradas pelo grupo ambientalista Greenpeace, que no início do ano divulgara um estudo acusando o setor de promover a destruição da Amazônia.
O Ministério da Agricultura vê a decisão com preocupação e avalia que, neste momento, pode estar sendo imposta mais uma barreira não-tarifária às exportações brasileiras, de uma região tradicionalmente combativa aos produtos agrícolas nacionais.
Num documento publicado ontem pelo jornal britânico "Guardian", os empresários europeus dizem que vão exigir das quatro companhias que dominam a comercialização da soja brasileira - entre elas a Maggi, do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi - que comprovem as credenciais éticas dos grãos, com base em critérios que incluem até o tipo de transação envolvendo as terras de plantio. Uma das acusações feitas pelo Greenpeace foi a de que empresas como a multinacional Cargill estariam financiando o plantio ilegal de pequenos produtores na Amazônia.

Metade da soja exportada pelo MT vai para a Europa
No Brasil, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, reconhece que há problemas em parte das plantações na Amazônia Legal, mas diz que pode estar sendo criada mais uma forma de inibir a comercialização do grão nacional.
Entre os dez itens que atestam se a soja é "do bem" está a exigência de as empresas não comprarem grãos de fazendeiros que desrespeitam o limite de desmatamento de vegetação amazônica em 20% do terreno.
O presidente da divisão européia do McDonald's, Denis Hennequin, anunciou ontem que o grupo não vai continuar usando a soja amazônica, que serve como matéria-prima na produção da ração nas fazendas associadas à rede:
- Já tínhamos como política não utilizar a carne de gado criado em áreas desmatadas da Amazônia e agora comunicamos aos fornecedores que não vamos mais trabalhar com soja transgênica ou amazônica a partir da próxima colheita.
Também ontem, o British Retail Consortium, órgão representativo dos supermercados britânicos ressaltou a importância do acordo. O Greenpeace, porém, ainda não canta vitória: a Europa tem sido cliente fiei da soja brasileira. É o destino, por exemplo, de metade dos grãos de Mato Grosso.
- Podemos dizer que é um grande passo para a proteção da Amazônia - afirmou John Sauven, diretor de campanhas do Greenpeace no Reino Unido.

Associação não acredita que bloqueio trará prejuízos
A Associação Nacional dos Exportadores de Cerais (Anec) e a Abiove divulgaram nota pela qual se comprometem a não comercializar a soja da safra que começará a ser plantada em outubro nas áreas de desflorestamentos ilegais da Amazônia. A decisão vale por dois anos e busca "conciliar a preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico".
As empresas se comprometeram ainda a romper contatos com fornecedores que usam trabalho análogo ao escravo.
O diretor-presidente do Grupo André Maggi, Pedro Jacyr Bongiolo, acredita que o compromisso será suficiente para combater o boicote.
O diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes, argumenta que a área plantada de soja no Bioma Amazônico não é representativa, respondendo a 0,27% do total de 418,444 milhões de hectares da região.

O Globo, 25/07/2006, Economia, p. 22

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