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Empresário é o maior desmatador da região

A Crítica, Cidades, p. C1
17 de Out de 2004

Empresário é o maior desmatador da região
José Lopes, tesoureiro de Amazonino Mendes, foi multado pelo Ibama por derrubar um área para ampliar o pasto

Gerson Severo Dantas
Da equipe de A Crítica

O tesoureiro da campanha do candidato a prefeito de Manaus Amazonino Mendes, o empresário José Lopes, é o maior desmatado P das florestas do Município de Boca do Acre (a 1.038 quilômetros de Manaus), no Sul do Amazonas. Por essa atividade ilegal, ele recebeu multas, durante a Operação Tauató do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no valor de R$ 9,9 milhões, o equivalente a 14% do total de multas aplicadas durante a operação, cujo valor total chegou a R$ 70 milhões.
Conforme relatório da Divisão de Controle e Fiscalização da Gerência do Ibama no Amazonas, José Lopes recebeu 23 autos de infração por atividades de desmatamento e queimadas sem licença do órgão. No maior deles, aplicado no dia 24 de agosto sob o número de série 4859, o empresário foi multado em R$ 3,6 milhões por desmatamento ilegal da floresta. Esta multa foi a segunda maior aplicada a um único proprietário durante a Operação Tauató. A maior foi aplicada ao pecuarista Marcos Carvalho Costa Júnior, que terá de pagar ao Ibama R$ 4,2 milhões.
Além de desmatamento ilegal em terras próprias, José Lopes foi apontado por trabalhadores rurais como o principal financiador de derrubadas em terras públicas e invadidas. Ele supostamente dava dinheiro e equipamentos aos trabalhadores, que faziam a derruba e dividiam com ele o valor da madeira vendida numa razão de 70% para ele e 30% para o trabalhador.
Multas por desmatamento ilegal em terras do Sul do Amazonas não constituem novidade para o empresário, pois no ano passado ele também foi multado pelo Ibama em operações de combate ao desmatamento ilegal, sendo que à época as multas somaram R$ 8 milhões. A reportagem apurou que ele teria recorrido das multas aplicadas no ano passado.
Durante a Operação Tauató, como não estava no local do desmatamento em Boca do Acre, José Lopes não assinou os autos de infração, dando ciência do recebimento da multa. Por conta disso, será notificado por via postal com um Aviso de Recebimento (AR). 0 documento será enviado assim que acabar a greve dos funcionários do órgão federal, o que está previsto para essa semana. Após receber o AR, Lopes terá 20 dias para apresentar a defesa na Procuradoria do Ibama. Um procurador vai analisar a defesa e avaliar se o auto de infração é legal ou não. Se considerar legal, o auto de infração é encaminhado à Gerência Executiva para homologação e inclusão no cadastro da dívida ativa da União.O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Sivam/Sipam, Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Polícias Federal e Militar do Amazonas, Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas e Secretaria de Estado da Fazenda participaram da Operação coordenada pelo Ibama.

Madeira é vendida
A área desmatada pelo empresário José Lopes, no Município de Boca do Acre (a 1.038 quilômetros de Manaus), seria usada para a exploração dos recursos madeireiros e posteriormente para o plantio de pasto.
A região é rica em espécies madeireiras nobres, como maçaranduba, cedro e.louro, sem contar com as castanheiras, cuja extração é proibida por lei federal, podendo acarretar ao desmatador multas pesadíssimas de até R$ 50 mil por cada unidade derrubada.
Com a madeira no chão, o empresário faria a semeadura de grama por via aérea para a formação do pasto, que supriria as necessidades do rebanho do Município, estimado pela prefeitura local em 320 mil cabeças.
0 rebanho é o maior do Estado, tendo superado há dois anos o do Município de Parintins. Em Boca do Acre é atribuído a. Lopes a propriedade de uma grande fazenda, com 5 mil cabeças, e de um frigorífico, cuja capacidade de abate chega; a mais de cem cabeças por dia. A carne beneficiada em Boca do Acre é escoada pela BR-317 para Rio Branco e, na seqüência, pela BR-364 para Porto Velho.
A reportagem tentou ouvir o empresário por meio da assessoria de imprensa, da campanha, pelo telefone celular 91XX-XX70, do jornalista Paulo Castro, mas até o fechamento dessa edição as ligações, não eram atendidas.

Em Números
20 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente da floresta Amazônica foram apreendidos pelo Ibama durante a Operação Tauató.
5 acampamentos de trabalhadores que estavam desmatando a floresta sem autorização foram desmontados durante a Operação Tauató.
50 áreas de desmatamento foram embargadas durante a operação. 0 desrespeito aos embargos constitui crime de desobediência e acarreta novas sanções administrativas.
30 mil cabeças de gado possui o pecuarista Sebastião Gardingo em Boca do Acre. Sozinho, ele foi multado em R$ 124 mil por desmatamento ilegal de floresta para o plantio de pasto.

Lista
Os principais crimes ambientais no sul do Amazonas: Desmatamento ilegal Queimada Exploração florestal Falta de licenciamento Uso ilegal de motossera Transporte de madeira sem a autorização devida

Busca rápida
Multas de R$ 70 milhões
O balanço da Operação Tauató, divulgado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), apontou a expedição de mais de 160 autos de infração, com a aplicação de multas no valor de R$ 70 milhões.
A operação, uma das maiores já realizadas pelo Ibama, foi feita em parceria com outros órgãos.

Perfil
José Lopes Empresário
0 empresário José Lopes é uma espécie de sombra, que ninguém consegue ver ou encontrar. Sabe-se que ele seria proprietário da construtora Toronto, uma das três empresas que mais ganharam licitações durante os governos de Amazonino Mendes, de quem se tornou tesoureiro de campanha em 1994. Discreto, tem atuação em vários campos da economia, mas não aparece no noticiário especializado em colunas sociais. Além da Toronto, o destaque do conglomerado empresarial dele é a fazenda que possui em Boca do Acre, uma das maiores e mais modernas do Estado.

A Crítica, 17/10/2004, Cidades, p. C1

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