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Empresa de borracha se reestruturou aos 80 anos para preservar floresta

UOL/Ecoa - https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/
19 de Mai de 2022

Empresa de borracha se reestruturou aos 80 anos para preservar floresta

Maiara Marinho
Colaboração para Ecoa 19/05/2022

Uma empresa de borracha decidiu recriar toda a sua estrutura após 84 anos atuando no ramo. Investiu em um diagnóstico, aprofundou-se em conhecer melhor a sua matéria-prima e, hoje, além de ter reduzido as emissões de CO2, entre outras medidas, conseguiu melhorar o impacto social por meio de uma série de transformações em sua relação com a floresta, as comunidades indígenas e ribeirinhas e com os próprios trabalhadores.

"Na época, por volta de 2008, começou-se a falar mais sobre questões de sustentabilidade e nós resolvemos olhar para essa questão", comenta Jorge Hoelzel Neto, facilitador de direção na Mercur, empresa fundada em 1924 em Santa Cruz do Sul (RS) cuja principal matéria-prima é a borracha. Além da produção de material escolar, o catálogo também é composto por bolsas térmicas naturais e outros produtos fisioterapêuticos, como tornozeleiras e órteses para a coluna, por exemplo.

Com o auxílio de um diagnóstico realizado para compreender o perfil da empresa naquele momento e quais mudanças seriam bem-vindas, entre 2008 e 2009, a companhia decidiu reduzir o uso de materiais não renováveis e se transformar em uma empresa carbono neutro. Além disso, apostou na reformulação das relações humanas, quebrando barreiras na hierarquia -um processo que vem sendo construído continuamente desde então.

"Nós alternávamos o uso da borracha natural e da sintética de acordo com o preço do mercado, até que nós percebemos que isso não fazia sentido. Então trocamos todas as formulações da Mercur por borracha natural", relata Jorge.

Como os produtos são diversos, nem todos utilizam o mesmo material. Para confeccionar as bolsas térmicas naturais são utilizadas sementes de açaí, que geralmente são descartadas em aterros após a extração da polpa para produção do suco. "Então a gente compra essa semente e ela vai para a bolsa". A Mercur também substituiu o óleo mineral pelo óleo vegetal e foi em busca de algodões agroecológicos.

Para fazer essas mudanças, Jorge voltou à Amazônia e foi ao sertão cearense para entender melhor como funciona a produção desses materiais naturais e de que maneira a atividade poderia ser realizada sem agredir comunidades indígenas, ribeirinhas e de seringueiros.

"Procuramos duas ONGs, o Instituto Socioambiental e o Imaflora. Eles têm um trabalho muito legal no Xingu e nos aproximamos, viajamos juntos e construímos a retomada da coleta do látex na floresta", diz.

Uma das preocupações nesse processo era criar condições para os seringueiros fazerem o trabalho "de uma maneira que fosse rentável para eles e no tempo deles", comenta Jorge.

Em 2018, a Mercur deu início ao mesmo processo com comunidades indígenas que perceberam a movimentação econômica e a relação de trabalho com os ribeirinhos e os seringueiros e disseram "nós queremos também".

"Aí a gente teve de entrar em contato com instituições que cuidam dos direitos dos indígenas no Brasil para ver se podia, porque isso precisa ser feito conforme a legislação, mas é muito bacana."
Plantio de árvores nativas para compensar CO2

Plantar árvores nativas a fim de reduzir o impacto e a emissão de gases poluentes também faz parte da mudança. E o incentivo vai além: as transportadoras que trabalham com a Mercur seguem o mesmo procedimento, com plantio de árvores na mesma proporção da emissão de CO2 no trajeto para envio dos produtos à empresa. O acompanhamento é feito por meio de relatórios e é previamente acordado.

Antes do reposicionamento, os lucros acumulados ajudaram a empresa a passar por esse processo sem precisar fazer demissões. Aliás, de acordo com a companhia, a dinâmica interna entre os trabalhadores e trabalhadoras teve resultados positivos.

Uma parte da empresa foi transformada em uma área para uso comum. Os dois pavilhões que antes abrigavam máquinas que não seriam mais utilizadas por causa da substituição de produtos sintéticos por naturais se transformaram em um espaço com biblioteca, cozinha e uma área para a elaboração de projetos sociais, construídos de maneira conjunta com diretores e funcionários.

"Isso é muito bacana de ver. Juntar 20, 30 pessoas para um projeto é um processo muito vivo", conta Jorge. Neste mesmo espaço são realizadas pesquisas, em forma de diálogo, com consumidores como parte do processo de criação de produtos.

Além disso, o tempo de trabalho diminuiu de 44 para 36 horas semanais com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. A Mercur também oferece uma ajuda de custo na mensalidade em curso universitário, mesmo que a formação seja diferente da função realizada na empresa.

Olhando para o resultado em relação ao bem-estar humano, aos cuidados com o ambiente e com as comunidades que realizam o trabalho na floresta, Jorge tem certeza de que os ganhos são enormes. "Optamos por ter uma saúde tanto econômico-financeira quanto social e ambiental muito maior e hoje temos mais propriedade para poder falar do assunto". Além disso, segundo Jorge, investidores estão cada vez mais interessados em empresas sustentáveis.

Na esteira das mudanças culturais, nos costumes e no modo de consumo, o mercado, em alguns casos, busca se adequar. A urgência climática tem sido um dos principais fatores responsáveis pela substituição dos materiais químicos e sintéticos e na compensação da poluição causada pelo que é produzido.

"Acredito que as empresas estão olhando muito mais para isso, muitas por vontade própria e por perceber que têm essa responsabilidade, e outras porque enxergam que o consumidor está começando a se dar conta de que ele também tem uma responsabilidade", diz.

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