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Emissões de gases vão ser reduzidas mesmo sem acordo global

OESP, Metrópole, p. A25
02 de Nov de 2014

Emissões de gases vão ser reduzidas mesmo sem acordo global
Especialistas acreditam que pressão dos consumidores e ações da iniciativa privada podem reverter aquecimento do planeta

Denise Chrispim Marin - Enviada Especial

O mundo caminha para a redução das emissões de gases do efeito estufa, puxada pelo setor privado e pelos consumidores, independentemente de haver ou não um acordo global entre os 190 países convocados para a Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP21), em 2015. É esse o consenso entre os especialistas que participaram na última semana do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), em Copenhague.
Com o acordo, haverá chance de a temperatura da terra não subir mais do que 2oC até 2100, diante do dado da era pré-industrial. Mas, mesmo sem ele, não baterá na previsão pessimista de aumento de 7,8oC. A elevação deverá rondar os 4oC.
O cenário não chega a tranquilizar. Tuvalu, país da Oceania, terá boa parte de seu território coberto pelo mar. Áreas agrícolas ficarão salinizadas e impróprias para o cultivo, e a pobreza e a desigualdade tenderão a se acentuar, explica Suzana Kahn, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do IPCC.
Mas esse quadro é menos ruim do que o propagado em caso de não haver acordo. Inovações tecnológicas no setor de energias renováveis, reorientação de investimentos e políticas de governos nacionais e subnacionais estão em curso e vão se acentuar nas próximas décadas. Relatório do IPCC divulgado em março deste ano mostra que o atual fluxo financeiro para a redução de emissões varia de US$ 343 bilhões a US$ 385 bilhões por ano. A nova economia verde, de baixo carbono, começa a ser construída, mesmo sem estímulos oficiais.
Suzana estima o aumento de 4oC, sem acordo na COP21, em Paris. A organização ambiental WWF também calcula algo entre 3oC e 4oC a mais, segundo Samantha Smith, líder da Iniciativa Global sobre Clima e Energia. Mas o WWF pondera que a Terra, hoje com mais 1oC do que em 1750, já enfrenta tragédias provocadas por eventos climáticos extremos, como as inundações e a seca. "A agenda de redução vai avançar, empurrada pelo setor privado e pela sociedade. Os governos virão a reboque", afirma Suzana. "Hoje, não há empresa petroleira no mundo que não esteja trabalhando com a energia renovável. Abu Dabi, nos Emirados Árabes, já atua nessa área."
Mas, para levar energia limpa a 1,3 bilhão de pessoas no mundo sem acesso à eletricidade e aos 3 bilhões dependentes de carvão para cozinhar e se aquecer, serão necessários investimentos de US$ 72 bilhões a US$ 95 bilhões ao ano até 2030.
Relatório. Ao longo da última semana, o IPCC se reuniu para resumir seus últimos três relatórios sobre a mudança climática. O texto síntese será divulgado neste domingo. Não trará novidades, mas uma linguagem cuidadosamente burilada pelas intervenções de representantes dos governos.
O resumo, em princípio, deverá guiar as negociações globais, que começam em dezembro, em Lima, e devem ser concluídas em Paris, em novembro. Suzana sublinha a importância desse acordo não apenas pelos seus efeitos de mitigação da mudança climática, mas também para a redução da pobreza e da desigualdade e a adoção de políticas de adaptação em países menos desenvolvidos.

Usina térmica deve aumentar no Brasil

A geração de eletricidade em usinas térmicas a carvão e a gás, no Brasil, tende a aumentar, afirma o professor Roberto Schaeffer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso ocorrerá em um período de maior cobrança por cortes nas emissões nos gases do efeito estufa. O País vai entrar na 21ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP21), em Paris, em 2015, ciente dessa sua necessidade e também sob pressão internacional bem maior para rever sua política de exploração de Petróleo no pré-sal e para retomar sua aposta nas energias renováveis.
"Como cerca de 80% da energia no Brasil é gerada por hidrelétricas, o restante tem de vir da geração térmica. As fontes eólica e solar não servem para segurar a intermitência da geração hídrica.Aí terão de entrar as térmicas", explicou Schaeffer. "Como a economia do Brasil ainda tem de crescer de 4% a 5% ao ano, vislumbro a tendência de geração de energia a carvão, a mais barata."
As emissões brasileiras já estão aumentando, diz Schaeffer, por causa do maior uso de combustíveis fósseis no transporte e das indústrias de aço e cimento. A geração de energia atualmente pouco contribui para as emissões brasileiras, de 1,2 a 1,3 bilhão de toneladas de dióxido de carbono ao ano - menos de 5% de todo o mundo. O aumento, portanto, se dará sobre um patamar baixíssimo.
Na COP21, políticas caras à presidente Dilma Rousseff estarão na berlinda, neutralizando a aclamada redução de emissões garantida pela diminuição do Desmatamento na Amazônia. O Brasil comprometeu-se a reduzir voluntariamente de 36% a 38% do Desmatamento em 2009. Mas isso, segundo Schaeffer, iria acontecer de qualquer maneira.

OESP, 02/11/2014, Metrópole, p. A25

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