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Emissões de C02 chegam ao nível mais alto

O Globo, Ciência e Vida, p. 35
01 de Set de 2006

Emissões de C02 chegam ao nível mais alto
Aquecimento global está perto de um ponto irreversível. Especialista diz que EUA são antiéticos

Roberta Jansen

A despeito do debate internacional e de algumas medidas adotadas na luta contra o aquecimento global, as emissões de gases do efeito estufa só fazem aumentar. Segundo dados das Nações Unidas, as emissões alcançaram, em 2004, seu volume mais alto em uma década: naquele ano foram lançadas 17,8 bilhões de toneladas na atmosfera, 1,6% a mais que em 2003.
Na análise de especialistas, se continuar assim, o mundo caminha a passos largos para uma catástrofe climática. 0 novo presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência, John Holdren, afirmou à BBC que o clima mundial está mudando muito mais rapidamente do que o previsto e que, em breve, a situação será irreversível.
- Estamos vivenciando uma perigosa intervenção humana no clima mundial e vamos vivenciar muito mais.
Os governantes precisariam agir já e de forma bastante agressiva para tentar alterar o quadro. Sobretudo os Estados Unidos, os maiores emissores.
- 0 tempo de fazer alguma coisa está acabando - afirmou Don Brown, da Universidade Estadual da Pensilvânia, ex-assessor do então presidente Bill Clinton, dos EUA, no Rio para participar do debate "A dimensão ética das mudanças climáticas", organizado pela Coppe/UFRJ. - Reduzir um pouco o volume das emissões não adianta. A redução a ser feita é muito grande. Precisamos cortar de 60% a 80% das emissões.
Segundo a ONU, a maior parte do aumento de emissões em 2004 foi causada pela elevação de 1,7% do volume de gases lançados na atmosfera pelos EUA - o maior emissor do mundo, com 7 bilhões de toneladas.
- Nesse ritmo, chegaremos ao fim do século lançando 20 bilhões de toneladas por ano - denunciou Brown. - Para termos uma estabilização de fato do volume de C02 na atmosfera, teríamos que emitir apenas 3 bilhões.
Crescimento acumulado desde 1990 é de 15%
Segundo Brown, o índice de emissões dos EUA vem crescendo 1,5% ao ano. 0 crescimento é registrado desde 1990 e já acumula um aumento de aproximadamente 15%. Brown, que defendeu a entrada dos EUA no Protocolo de Kioto (George W Bush se recusou a ratificá-lo), admite que as metas do acordo são simbólicas, mas necessárias. As leis estaduais que começam a surgir, estabelecendo limites de emissões, são importantes, diz Brown, mas uma solução mais global é indispensável.
- As emissões estão hoje 14% acima dos níveis de 1999, quando, segundo Kioto, deveriam estar 7% abaixo - apontou Brown.
Para o especialista, as justificativas usadas pelos EUA para não ratificarem Kioto ou adotarem medidas mais eficazes contra o aquecimento são antiéticas.
- Os três grandes argumentos do governo americano são condenáveis do ponto de vista ético - sustentou Brown.
Uma das justificativas de Bush é a de que não haveria provas científicas ligando as emissões ao aquecimento do planeta.
- Mesmo os cientistas mais otimistas apontam as conseqüências - afirmou Brown. - E, até esperarmos todas as certezas, o dano será irreversível.
As outras justificativas são o custo da redução à economia americana e o fato de os países em desenvolvimento não estarem incluídos nas reduções previstas por Moto.
- É um problema para o mundo todo, não só para os EUA. E nem está claro que afetaria tanto assim. Parece que afeta, sim, interesses de grupos de petróleo poderosos - afirmou. - Também não faz sentido dizer que não vai fazer nada porque outros não estão fazendo. É o mesmo que dizer que vai roubar porque outros roubam. Não é eticamente racional.

O Globo, 01/09/2006, Ciência e Vida, p. 35

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