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Embrapa tenta evitar extinção de raça de gado

FSP, Ciência, p. A14
04 de Out de 2010

Embrapa tenta evitar extinção de raça de gado
Restam apenas 500 exemplares do tucura, variedade típica do Pantanal
Raça já foi dominante, mas foi substituída; cientistas acham que a sua carne poderia ser mais bem explorada

Giuliana Miranda
Enviada a Corumbá (MS)

Pesquisadores do Pantanal estão tentando salvar da extinção o tucura, uma das raças de gado mais antigas da região e mais adaptadas a ela. Atualmente, restam apenas cerca de 500 exemplares entre as quase 3 milhões de cabeças de gado da área.
Também conhecido como bovino pantaneiro, o tucura já foi dominante entre os rebanhos locais, mas foi deixado de lado quando começou a importação maciça de raças muito maiores, como o nelore e outros zebus, a partir da década de 1950.
"Muitos produtores pantaneiros começaram a achar que o tucura simbolizava a pecuária atrasada", afirma Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal.
"Afinal, as raças importadas passaram por um intenso processo de melhoramento genético, enquanto o boi do pantanal se adaptou principalmente devido à seleção natural", diz.
O tucura chegou à região há mais de 300 anos, junto com os colonizadores ibéricos. Durante esse tempo, a raça foi se adaptando ao complexo ambiente pantaneiro -que tem longos períodos de seca e de cheia.
Um dos principais diferenciais do tucura é justamente este: quando outras raças já não conseguem mais pastar na vegetação inundada, ele ainda consegue resistir na região por certo tempo.
Isso acontece porque suas patas e seus cascos são mais resistentes à água. Uma ajuda e tanto no Pantanal, onde fazendas podem ficar submersas por até seis meses.
Apesar dessas características, o tucura parecia se encaminhar inevitavelmente para a extinção. Afinal, o porte compacto que lhe garante maior sobrevivência ante as intempéries pantaneiras é também seu maior "defeito" para os produtores: menos carne para vender.

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Para evitar o desaparecimento da raça, que é um dos símbolos do Pantanal, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) iniciou um processo de conservação e de investigação de novos usos comerciais.
Os dados finais só ficam prontos no ano que vem, mas análises preliminares mostram que a carne da raça é de muito boa qualidade.
Por ter mais gordura entremeando suas fibras, a carne do tucura é bem mais macia do que a do gado da região. Isso, segundo a Embrapa, pode possibilitar cruzamentos que inserissem essa característica em outras raças.
Além disso, há margem para cortes especiais e, talvez, certificados para produção sustentável no Pantanal. Seria o "bife pantaneiro".
A coordenadora do projeto, Raquel Soares Juliano, diz que a resistência dos produtores já está diminuindo. Ela lembra que boa parte do sucesso do trabalho depende também deles.
"Se o produtor identificar um potencial de viabilidade econômica em um dos usos do tucura, ele será um parceiro na conservação e expansão da raça", afirma.
Por isso, é importante buscar novas características. Testes feitos na fazenda modelo da entidade, na sub-região de Nhecolândia, em Corumbá (MS), mostram que o tucura também tem um bom potencial leiteiro.
Além disso, a maturidade sexual precoce -ao menos seis meses antes do nelore- também seria um atrativo.

FSP, 04/10/2010, Ciência, p. A14

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0410201002.htm

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