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Embrapa entrega cultivares de milho tradicionais a índios de MT

Embrapa-Brasília-DF
26 de Out de 2005

Um trabalho de pesquisa iniciado em 1952 por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba-SP, tem viabilizado o resgate de cultivares tradicionais de milho indígena e sua reintrodução em comunidades que perderam suas variedades. Naquela data, pesquisadores iniciaram o estudo das raças de milho existentes no Brasil e a variabilidade genética começou a ser preservada em bancos de germoplasma. Expedições e visitas a aldeias na década de 1970 foram responsáveis pela coleta de mais de três mil amostras, acervo transferido para a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília-DF).

Pesquisadores das duas Unidades enriqueceram o banco com a recuperação de mais 1500 cultivares, coletadas em 10 expedições. Hoje, cinco povos indígenas - krahôs, xavantes, bororos, karajás xambrionás e maxacalis - já foram beneficiados com a preservação dessas cultivares, perdidas ao longo dos anos pelo avanço da fronteira agrícola e pela substituição do cultivo do milho nas aldeias por outros cereais, como o arroz. Como explica o pesquisador Ramiro Vilela de Andrade, da Embrapa Milho e Sorgo, as variedades tradicionais indígenas representam muito na cultura desses povos. "Não se trata apenas do cultivo do milho. As variedades tradicionais têm importância na alimentação, na culinária e em tradições culturais, como na realização de festividades, cerimônias e intercâmbio entre aldeias", relata.

Segundo Vilela, os povos xavantes, por exemplo, que habitam o estado de Mato Grosso, depois que perderam as cultivares de milho abandonaram também algumas tradições, como a realização de danças e rituais, ocasiões em que eram usadas sementes do cereal. O trabalho de resgate dessas variedades tradicionais é complexo. Depois de coletadas, as sementes que ficaram armazenadas durante anos no banco ativo de germoplasma (BAG) da Embrapa Milho e Sorgo, precisam ser multiplicadas em condições parecidas com as de clima e solo de onde vieram. "Uma das soluções encontradas foi a multiplicação das sementes em campos isolados no Campo Experimental da Embrapa Milho e Sorgo em Janaúba-MG, por estar no mesmo paralelo da aldeia dos xavantes", exemplifica o pesquisador.

Hoje aparecem os primeiros resultados do trabalho de resgate das cultivares indígenas. Os povos krahôs, primeira comunidade beneficiada pelo trabalho, receberam em 1996 pequenas amostras de 13 variedades tradicionais. Infelizmente a quantidade foi insuficiente e os índios acabaram perdendo o material. "Em 2004 foi possível ampliar a quantidade de sementes de quatro variedades e foram entregues mais 400 kg", explica Ramiro Vilela. Ramiro e a pesquisadora Flávia França Teixeira, também da Embrapa Milho e Sorgo, estão a frente do projeto. No ano passado, foram distribuídos 200 kg de sementes para os povos bororos, em Mato Grosso, e 30 kg foram entregues aos povos karajás xambrionás, em Tocantins. O último povo beneficiado foram os maxacalis, que habitam a região do Vale do Mucuri mineiro, que receberam cerca de 370 kg de sementes.

Mais quatro aldeias serão beneficiadas

Todas as cultivares indígenas armazenadas no banco ativo de germoplasma da Embrapa Milho e Sorgo são farináceas e o uso pelos indígenas é diversificado, sendo consumidas como mingau, canjica ou milho verde. Depois de multiplicadas, a Fundação Nacional do Índio (Funai) é responsável pelo acompanhamento do processo de introdução das variedades nas aldeias. O trabalho social da Embrapa Milho e Sorgo e da Funai irá beneficiar mais quatro povos indígenas até o início de novembro. Os povos macurapis, com concentrações em Rondônia e no Acre, receberão 40 kg de sementes do milho atiti ou nhãnhei õp, também conhecido como milho vermelho (RO 013). Essa cultivar foi coletada em 1980 no município de Guajará Mirim, em Rondônia, na fronteira entre Brasil e Bolívia.

Aldeias dos povos xavantes, em Mato Grosso, que não foram contempladas na primeira distribuição em 2003, e os xerentes, no Tocantins, também serão beneficiados com a entrega de 225 kg de sementes das cultivares Nödzöb Udzé, Nödzöb Rãré, Nödzöb Pré e Nödzöb Awawi, todas coletadas em 1979 em Mato Grosso. Além das quatro aldeias, o escritório da Funai em Brasília receberá 130 kg de cultivares para distribuição para outros povos, já contemplados em campanhas anteriores. Até o final do ano, os povos pataxós, localizados na Bahia, também devem receber sementes que ainda estão sendo multiplicadas.

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