VOLTAR

Embrapa defende a qualidade superior de seu guaraná modificado

Gazeta Mercantil-Manaus-AM
23 de Ago de 2001

A divulgação do relatório do Estudo para Melhoria da Qualidade de Vida das Populações Rurais através da Agricultura, Gestão e Manejo Racionais dos Recursos Naturais do Amazonas feito pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) pegou de surpresa técnicos e funcionários da Embrapa Amazônia Ocidental. Depois de trabalhar quase 30 anos no melhoramento genético do guaranazeiro e conseguir desenvolver 12 diferentes clones, cuja produção ultrapassa 1 quilo de sementes torradas por planta/ano, a Embrapa teve suas mudas clonadas classificadas como caras. O novo pacote de tecnologia a ser desenvolvido para o cultivo do guaraná no Estado deve ser ´mais simples´, segundo relatório da Jica, e ´não insistir nos clones caros da Embrapa´.
A reação na Empresa foi imediata. Segundo o chefe de comunicações e Negócios da Embrapa, Jefferson Macedo, a primeira medida vai ser criar um fórum de discussão para tratar do assunto. Confiante na qualidade genética superior dos seus clones, o órgão pretende mostrar, através de resultados de pesquisas e de plantações no Estado, as vantagens dos clones em relação às mudas de semente. A utilização dos clones da Embrapa pode aumentar em até dez vezes os atuais índices de produtividade, além de serem genótipos com tolerância à principal doença do guaraná, a antractose.
Segundo o pesquisador André Atroch, que coordena o Programa Nacional de Pesquisa com Guaraná, em uma relação de custo/benefício os clones são cinco vezes mais baratos que as mudas de sementes. A maior prova das vantagens dos clones, diz Atroch, é que toda a produção do Embrapa para 2001 - estimada em mais de 200 mil mudas - está comprometida. Cada muda clonada é vendida a R$ 2,70, valor que, segundo o chefe geral da Embrapa, Edson Barcelos, praticamente não compensa a produção dos clones.
Ao assumir esta tarefa - a de produtora das mudas - a Embrapa está preenchendo uma lacuna no Estado. A Empresa têm interesse em credenciar viveiristas para realizar o serviço, mas ainda não houve interesse por parte de particulares. Segundo Barcelos, as críticas do relatório da Jica serviram para mostrar que a Embrapa está trabalhando - ´quem não faz nada não é criticado´ - e vão ser úteis também para uma reflexão interna que deve ser feita na Empresa.
Para o chefe do departamento de assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (Idam), Geraldo Couto, as próprias comunidades onde o guaraná é a maior fonte de renda, poderiam se organizar para produzir as mudas. Isso evitaria queixas em relação aos preços dos clones da Embrapa, que segundo Couto tem motivos - como o preço dos hormônios - para serem vendidos a R$ 2,70. Mudas de laranja e coco, lembra ele, custam R$ 3,50 e R$ 3, respectivamente.
O Idam encomendou 125 mil mudas de guaraná clonadas à Embrapa em 2001 e pretende incentivar pequenos produtores a plantar 500 hectares no Estado. O relatório da Jica, opina Couto, não restringe o uso dos clones da Embrapa, mas sugere que sejam procuradas formas de baratear a produção dos mesmos. ´Vamos insistir nos clones, que tem dado resultados positivos´, afirma o chefe da assistência técnica do Idam.
O Brasil é o único produtor comercial de guaraná. A produção nacional é estimada em 2.492 toneladas por ano e há possibilidades de expansão do cultivo, em função da existência de um mercado potencial. A indústria de refrigerantes - que absorve 70% da produção brasileira - tem planos de exportar as bebidas com sabor guaraná para 170 países. Grandes grupos empresariais estão investindo no aumento da área plantada.
A Ambev mantém, em Maués (a 267 quilômetros de Manaus), 450 hectares em parceria com produtores locais, além dos 420 hectares da Fazenda Santa Helena. A agropecuária Jayoro, parceira da Recofarma (Coca-Cola), anunciou no início do mês que está investindo em uma plantação de guaraná de 600 hectares em Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus). Segundo dados da Embrapa, atualmente, toda a produção nacional é consumida no mercado interno. Além dos 70% absorvidos por fabricantes de refrigerantes, 30% são comercializados em forma de xarope, bastão e pó.
Aruana Brianezi
Produção em Maués está baixa Gerente do Banco do Estado do Amazonas (Basa) em Maués, Edson de Souza Espírito, revela que no município como um todo a produção de guaraná tem deixado a desejar. Quem está se saindo melhor, conta, são os produtores financiados pelo Basa - que exige, além de plantio a partir de mudas clonadas e selecionadas, o acompanhamento de um viveirista credenciado junto à delegacia do Ministério da Agricultura. Maués é o município produtor de guaraná mais tradicional do Estado do Amazonas mas está perdendo a briga para a Bahia - que produz 62% do guaraná do país - por conta do baixo nível de consciência do produtor rural.
O problema não é o preço das mudas da Embrapa mas a forma como os pequenos produtores têm manejado as plantações - sejam elas de sementes (cuja comercialização é proibida) ou de mudas. Para competir com as grandes plantações mecanizadas da Bahia - que chegam a oferecer o quilo do guaraná por R$ 1,50, enquanto o do Amazonas não sai por menos de R$ 4 o quilo - o gerente do Basa sugere o cultivo do guaraná orgânico. Produzido sem o uso de agrotóxicos, o guaraná orgânico tem sido bastante procurado, principalmente por empresas estrangeiras, e pode ser vendido por até R$ 20 o quilo.
Segundo dados da Embrapa, existem em Maués cerca de 2.600 produtores de guaraná. O Basa financia mais de 700 deles, com R$ 6 mil a R$ 7 mil por produtor. O guaranazeiro é uma espécie vegetal da família das sapindáceas. É encontrado, em estado nativo, na Amazônia brasileira na região compreendida entre os rios Amazonas, Maués, Paraná do Ramos e Negro. Classificado como cultura pré-colombiana, o guaranazeiro também pode ser encontrado em estado nativo na bacia superior do rio Orenoco, na Venezuela.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.