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Em um ano, Cerrado perdeu equivalente a três cidades do RJ pelo desmatamento

Época - http://epoca.globo.com/
Autor: Nana Soares
02 de Dez de 2015

Devastação concentra-se na chamada Matopiba, nova fronteira agrícola do país

Entre junho de 2014 e junho de 2015, o Cerrado perdeu 3448 km² de vegetação nativa. São três cidades do tamanho do Rio Janeiro devastadas em um único ano, segundo o recém-coletado dado do Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento (SIAD-Cerrado). O desmatamento é a principal fonte de emissão de gases estufa no Brasil. No cerrado, ele está concentrado na região que é tida como a nova fronteira agrícola brasileira, chamada de Matopiba, e engloba os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Adriano Faria, pesquisador de Análises Ambientais da Universidade Federal de Goiânia (UFG), esteve envolvido na coleta destes dados e acredita que há um incentivo governamental para desmatar o Cerrado dessa região. "O governo acaba sendo contraditório, porque a fala é de combater o desmatamento, mas o modelo de desenvolvimento da região é baseado nele", diz Adriano, que classifica a região de Matopiba como a área de Cerrado mais preocupante em termos de devastação. Isso porque o território ainda concentra grande quantidade de vegetação preservada.

Os últimos dados do SIAD também registram zero desmatamento em estados como São Paulo e Paraná. Mas engana-se quem pensa que essa é uma boa notícia: segundo Adriano Faria, isso é uma consequência do tanto que a área já foi explorada, e não um sinal de que o bioma está sendo preservado. "Na região central e sul do país já se desmatou tanto que não há como manter o ritmo acelerado de desmatamento", diz. "É uma região em que esses números tendem a diminuir".

Fora isso, há ainda os estados pertencentes a Amazônia legal, como Mato Grosso e Tocantins, que seguem o acordo da Moratória da Soja, um acordo agrícola para não comprar soja oriunda de áreas de devastação. O problema é que a Moratória só serve para a Amazônia, excluindo outros biomas. E, segundo o pesquisador da UFG, isso afeta o Cerrado negativamente porque há a necessidade de aumentar a eficiência da produtividade e de ocupar novas áreas. "Muitas pessoas que estão na Matopiba vêm do sul ou do Mato Grosso", afirma.

O pesquisador da UFG acredita que o desmatamento nessa região ainda aumente nos próximos anos. Isso porque Matopiba tem boas condições naturais para a agricultura. "Não posso afirmar que os números vão aumentar, mas Matopiba é perfeita para o agricultor. É uma região plana e farta em recursos hídricos, e está dentro desse modelo de desenvolvimento", diz Adriano.

O Cerrado está distribuido em 12 estados do sul ao norte do país, e seus estudiosos enfatizam que o bioma é tão importante quanto a Amazônia, apesar de ter bem menos visibilidade do que ela. Além de grande diversidade biológica, o Cerrado concentra muitos aquíferos e espécies endêmicas já ameaçadas. Desde 2002, primeiro ano com dados coletados pelo SIAD, já foram devastados 67.662 km². Cabem duas Bélgicas e ainda sobra espaço. E as consequências dessa devastação podem ser devastadoras. Além de afetar a biodiversidade, áreas de nascentes de bacias hidrográficas podem ficar comprometidas e o ciclo da chuva pode ser alterado.

"Deveria haver mais incentivo para a preservação do Cerrado. Também me preocupa a falta de fiscalização, porque o Brasil monitora muito mal os biomas que não são a Amazônia", afirma Adriano. "Sabemos que preservação e desenvolvimento econômico não se opõem, sempre existem novas tecnologias e novas formas de manejo. Nunca é tarde para começar as coisas", diz.

Os 3448km² de desmatamento do Cerrado somam-se aos mais de 5800 km² de destruição da Amazônia entre 2014 e 2015, um aumento de 16% em relação ao período anterior. Segundo a pesquisa Terraclass Cerrado, restam 54,5% da vegetação nativa do bioma.

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