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Em São Paulo, a maior crise de abastecimento da História

O Globo, País, p. 9
20 de Jul de 2014

Em São Paulo, a maior crise de abastecimento da História
Estado usa 'volume morto', mas problema não afeta aprovação do governo Alckmin

Tiago Dantas
tiago.dantas@sp.oglobo.com.br

SÃO PAULO O estado de São Paulo vive a pior crise de abastecimento de água de sua História, atingindo 17 milhões de pessoas nas regiões metropolitanas da capital e de Campinas. O governo estadual põe a culpa na falta de chuvas, já que o volume deste ano foi o menor das últimas oito décadas. Mas especialistas em recursos hídricos apontam outros culpados: a falta de investimentos para aumentar a capacidade de armazenamento de água e diminuir o desperdício no estado, a relutância em iniciar o racionamento oficial e os altos lucros pagos aos acionistas da Sabesp, companhia de economia mista responsável por captar, tratar e distribuir água.
O reservatório da Cantareira, o maior do estado, secou completamente, restando apenas o volume morto, uma reserva que corresponde a 18,5% do total do reservatório. Em 2004, a Agência Nacional de Águas (ANA) já apontava para a necessidade de obras para diminuir a dependência do sistema Cantareira e, em 2009, a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (USP) entregou à Sabesp um relatório sobre o Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê no qual dizia que o Cantareira tinha um "déficit de grande magnitude" e aconselhava o estado a tomar medidas para evitar o colapso.
CAPACIDADE TOTAL
Nos dois anos seguintes, o excesso de chuvas levou o Cantareira a operar com capacidade total, o que pode ter diminuído o impacto do alerta, segundo especialistas.
- Desde 2004, a Sabesp está tirando mais água do Cantareira do que aquilo que foi projetado, mas o sistema não aumentou fisicamente. Tem o mesmo tamanho desde 1983, enquanto a população e o consumo aumentaram. A situação atual não é culpa só da falta de chuva - afirma o professor de engenharia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, autor do livro "Gerenciamento de Recursos Hídricos: Conceituação e Contextualização".
A Sabesp diz que investiu R$ 9,3 bilhões entre 1995 e 2013 no sistema de abastecimento de água de São Paulo, aumentando a capacidade de produção de 57,6 metros por segundo para 73,2 metros cúbicos por segundo. A empresa afirma ter investido na redução de perdas, que caíram de 33%, em 1998, para 20,3%, em 2014, e no programa de água de reuso.
Enquanto o governo estadual nega que haja rodízio de água, moradores de vários pontos da Região Metropolitana reclamam de falta de água, principalmente à noite. Em 15 dias, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) contabilizou 178 relatos de falta de água permanente.
Se o reservatório está em baixa, o mesmo não se pode atribuir à aprovação do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Apesar de a crise de abastecimento ser tema constante dos opositores desde antes da campanha eleitoral, a aprovação dos eleitores ao governo tucano subiu cinco pontos no último mês, segundo o Datafolha (de 41% para 46%). A nota média foi de 5,9 para 6,2 entre junho e julho. Antes das manifestações do ano passado, a aprovação a Alckmin estava em 52%.

Falta d´água crônica da Baixada Fluminense move promessas
Cedae não consegue manter regularidade do fornecimento em toda a região metropolitana

Alexandre Rodrigues

RIO - A cada quatro anos, quando os candidatos ao governo do Estado do Rio botam o bloco das eleições nas ruas, o déficit crônico de água na Baixada Fluminense vira um dos principais alvo de promessas. No Parque Muísa, em Duque de Caxias, a aposentada Ivanilde Ribeiro, de 75 anos, já não acredita mais em nenhuma. Ela conta que, quando se mudou para o bairro, há 30 anos, havia água da Cedae. Com o crescimento da população, a água foi sumindo até que nunca mais apareceu.

- Na parte baixa do bairro tem água, mas aqui, na parte alta, não chega nada há mais de dez anos. Recebo conta da Cedae, mas como vou pagar por uma coisa que não tenho? - diz Ivanilde, que gastou R$ 4.500 para furar um poço.

Segundo a Cedae, o crescimento desordenado é o que dificulta o atendimento regular de toda a Baixada, especialmente nas regiões mais altas. No caso específico do Parque Muísa, a companhia diz que os moradores serão beneficiados pelas obras do sistema de Campos Elísios que têm 60% concluídos. Em busca da reeleição, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) promete construir uma nova estação de tratamento no Guandu. Os rivais criticam a falta de solução no curto prazo.

- No caso da Baixada, o problema são as obras incompletas. Existem áreas com grandes reservatórios vazios por falta de adutoras para levar água até eles. - diz Ana Lúcia Britto, coordenadora do Laboratório de Estudos de Águas Urbanas da UFRJ: - Falta uma real prioridade. Eu não conheço um candidato a governador que não tenha prometido levar água para a Baixada. Ninguém cumpriu.

O Globo, 20/07/2014, País, p. 9

http://oglobo.globo.com/brasil/em-sao-paulo-maior-crise-de-abasteciment…

http://oglobo.globo.com/brasil/falta-dagua-cronica-da-baixada-fluminens…

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