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Em novo conflito, índio terena é baleado nas costas

OESP, Política, p. A5
05 de Jun de 2013

Em novo conflito, índio terena é baleado nas costas

PABLO PEREIRA, ENVIADO ESPECIAL - Agência Estado

Cinco dias após a morte de um índio em Sidrolândia (MS), o terena Josiel Gabriel Alves, de 34 anos, foi baleado nas costas quando estava na área da Fazenda São Sebastião. A propriedade é uma das áreas reivindicadas pelos índios em protesto contra a morte de Oziel Gabriel, de 35 anos, na última quinta-feira.
O tiro que atingiu Josiel - que é primo de Oziel - partiu de uma caminhonete prata, por volta das 17h (horário de Brasília), segundo testemunhas. Ele recebeu os primeiros socorros no hospital de Sidrolândia e foi transferido para a Santa Casa de Campo Grande, onde chegou por volta das 20h. De acordo com o médico Newton Renato Couto, Josiel não apresentava movimentos nas pernas, mas não corria risco de morrer.
A bala ficou alojada na altura da clavícula, próxima à coluna vertebral.
A Polícia Federal foi acionada e vai apurar o episódio. Outros quatro índios estavam com Josiel na hora do ataque - dois estavam desaparecidos até as 21h de terça-feira, 4. Os índios de Sidrolândia, a 70 km da capital, receberam apoio de outros movimentos sociais do Mato Grosso do Sul, como o dos Sem Terra e o Movimento Camponês de Luta pela Reforma Agrária, dissidência do MST que auxilia na organização de marcha de protesto que chega nesta quarta-feira, 5, a Campo Grande.
Resistência
Aos gritos de "Oziel Terena" - o índio morto em conflito com a polícia na semana passada -, cerca de 200 manifestantes receberam os irmãos e a mãe de Oziel, Maria de Fátima, à beira da BR-163, a 25 km da capital. O índio foi assassinado durante despejo na Fazenda Buriti, uma das áreas que, segundo os manifestantes, estão no que a Funai já estabeleceu como Terra Indígena Buriti, em disputa desde 1993.
"Mataram nosso irmão, mas não vão nos parar", gritou Elizur Gabriel, irmão mais velho de Oziel, um dia após o enterro na aldeia Córrego do Meio, onde vive a família.
Os terena querem a posse de 17,3 mil hectares que julgam lhes pertencer, hoje ocupados por fazendas e até áreas urbanas. "Nós não queremos o Brasil todo", afirmou Elizur. "Queremos essas terras para deixar para nossos filhos e netos. O governo gasta dinheiro até com o futebol, Copa do Mundo, e não tem dinheiro para garantir as nossas terras."
Segundo o irmão mais velho de Oziel, os índios não aguentam mais esperar por soluções de governo. Eles ocuparam na segunda-feira, 3, mais duas fazendas: Lindoia e São José, vizinhas da área do conflito. E prometem retomar novas terras nos próximos dias. A Buriti é de propriedade do ex-deputado Ricardo Bacha (PSDB), que obteve na Justiça ordem de reintegração de posse, executada pela polícia na semana passada.

3 perguntas para Otoniel Gabriel, irmão do índio terena morto, Oziel Gabriel

1. Como está o clima na aldeia depois da morte de Oziel?
O clima é de tristeza e de revolta. A morte de Oziel está reforçando nossa luta pela terra. Ele era um guerreiro terena. Morreu na luta. Nós vamos continuar a luta dele.
2. O que é que vocês pretendem fazer?

Nós vamos continuar na retomada das terras que foram de nossos antepassados e que são nossas. Logo depois do enterro, os terenas já entraram em duas áreas, a Lindoia e a São José.
3.Vocês vão continuar com essa tática de ocupação de terras?
Sim. Nós vamos continuar. Nós queremos 23 áreas. Nós já temos dez áreas. E vamos continuar na pressão. E a morte de Oziel não vai ser esquecida.

Ministério Público acusa União de omissão

Valmar Hupsel Filho - O Estado de S.Paulo

Em nota divulgada ontem, o Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul acusa o governo federal de omissão, despreparo e falta de vontade política para pôr fim a conflitos fundiários entre índios e fazendeiros no Estado.

A Procuradoria-Geral do Estado defende o reconhecimento das terras aos índios e sugere a reparação aos fazendeiros "pela titulação errônea das terras indígenas".

As terras na região, argumenta o MP, já eram ocupadas por comunidades indígenas quando foram tituladas a fazendeiros pelo governo estadual, como forma de ocupar as áreas então anexadas ao território brasileiro após a Guerra do Paraguai. Com isso, segundo o órgão, os índios que ali viviam foram confinados em reservas que misturaram as diferentes etnias.

"Se, de um lado, os índios lutam pelo reconhecimento e retorno ao território tradicional de que foram expulsos, por outro, proprietários de terra que possuem títulos de boa-fé, outorgados pelo Estado, não querem perder o valor da 'terra nua' ao terem suas áreas identificadas como tradicionais", diz o texto.

A Procuradoria também critica o uso da força policial para mediar os conflitos entre índios e fazendeiros. Ela defende que seja repensada e regulamentada a forma de cumprimento das ordens de reintegração de posse com uso da força policial. "Não se trata a questão indígena como caso de polícia", afirma o procurador da República Emerson Kalif Siqueira.

OESP, 05/06/2013, Política, p. A5

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