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Em missa de abertura do Sínodo da Amazônia, Papa diz que "novos colonialismos" provocaram queimadas na floresta

O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade
06 de Out de 2019

Em missa de abertura do Sínodo da Amazônia, Papa diz que "novos colonialismos" provocaram queimadas na floresta
Mais de 200 bispos e cardeais participaram da cerimônia, que contou também com a presença de índios

Com agências internacionais
06/10/2019 - 09:55 / Atualizado em 06/10/2019 - 16:10

O Papa Francisco abriu na manhã deste domingo o Sínodo da Amazônia com severa condenação das queimadas e ao que qualificou de " novos colonialismos ". "O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia , não é o do Evangelho", disse ele durante missa solene na Basílica de São Pedro.

O Sínodo 'ecológico" foi convocado há dois anos, em 2017, quando a questão ambiental ainda não havia se tornado uma crise internacional. "Quando povos e culturas são destruídos sem amor e sem respeito, não é o fogo de Deus que os devora mas sim o fogo do mundo", disse o pontífice argentino durante a celebração deste domingo.

A assembléia discutirá não só os problemas climáticos, mas novas formas de evangelização dos povos indígenas, a possibilidade de reconsiderar a política da Igreja com relação a clérigos casados, inclusão de gays, o diálogo inter-religioso e presença ministerial das mulheres. Temas polêmicos que desencadearam duras críticas por parte da ala conservadora do Vaticano.

Na missa de abertura do encontro o Papa afirmou que "novos colonialismos" querem "avançar apenas suas próprias ideias" e "queimar o diferente para padronizar tudo e todos". Uma santa barroca produzida por artesãos brasileiros e doada ao Papa Paulo VI foi colocada no altar da Basílica de São Pedro.

Celebração histórica
Mais de 200 bispos e cardeais participaram da cerimônia. Celebrantes usarm hábitos litúrgicos verdes e vários indígenas da Amazônia, alguns com seus trajes tradicionais, também estavam presentes. "Quantas vezes o dom de Deus não foi oferecido, mas imposto, quantas vezes houve colonização em vez de evangelização", reconheceu o pontífice argentino. "Deus nos salve da ganância dos novos colonialismos", enfatizou, ao se referir à história da região da América do Sul, atingida em agosto pelas queimadas, estopim para as críticas mais duras, mundo afora, à política ambiental do governo Bolsonaro.

Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ecológicos, após publicar em 2015 a encíclica "Laudato Sí", o papa argentino busca mobilizar e sensibilizar os líderes do planeta sobre a destruição da Amazônia, onde vivem mais de 30 milhões de habitantes.

O Papa Francisco se dirigiu aos católicos ao pedir que "o fogo missionário não se apague". Para ele, este deve ser um "fogo amoroso que ilumina, aquece, dá vida e não o (fogo) que se estende e devora", afirmou.

Desmatamento
"Ajude-nos a defender nossa Mãe Terra, não temos outra", pediu a missionária indígena brasileira Laura Vicuña, algumas horas antes da cerimônia. A interrupção do desmatamento e a devastação das comunidades indígenas são, na Igreja imaginada por Francisco, cruciais para o movimento católico na Amazônia pontos de partida para os debates que começarão na segunda-feira no Vaticano.

No total, 113 padres da região amazônica, além dos bispos da região, juntamente com especialistas, missionários e indígenas, participarão, por três semanas, até 27 de outubro, de reuniões convocadas em torno do lema "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral ".

Além do Brasil, há representantes de Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru.

Cerca de 87 mil indígenas amazônicos foram consultados sobre as principais ameaças que pesam sobre suas comunidades, assediadas pelos que cobiçam petróleo, gás, madeira e ouro e sonham com mais extensões de monoculturas agroindustriais, como a da soja.

Com este debate histórico para a Igreja, Francisco quer tratar do que classifica como "ecologia integral", que leva em conta "o clamor da terra e dos pobres".

"Tantos irmãos e irmãs da Amazônia carregam uma cruz pesada e esperam por um afago da Igreja. Muitos irmãos e irmãs da Amazônia perderam suas vidas", disse o Papa.

Os trabalhos do Sínodo da Amazônia se baseiam em um documento de trabalho de 80 páginas, em que se pede que se ouça o grito da Mãe Terra, invadida e gravemente ferida pelo modelo econômico baseado em um "desenvolvimento predador, que mata, saqueia, destrói e aniquila" e que foi classificado de "heresia" pelos setores conservadores.

Os chamados "padres sinodais" também irão debater a possibilidade histórica de se ordenar homens casados como padres, muitos deles indígenas, tema que poderia gerar um cisma na Igreja.

"Um erro teológico, paganismo", classificou o cardeal ultraconservador americano Raymond Burke, enquanto outro cardeal conservador, o alemão Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, sustentou que o sínodo quer "demolir" as estruturas da Igreja.

Além da falta de sacerdotes nas regiões amazônicas, o encontro discutirá o papel das mulheres, um tema delicado para o Igreja, e a perda diária de fiéis para as denominações evangélicas na área.

O Papa Francisco também mencionou na missa o cardeal brasileiro Dom Claudio Hummes, relator do Síndodo. O Vigário-Geral da Arquidiocese de São Paulo, quando visita vilarejos na Amazônia, costuma passar pelos cemitérios da região e visitar os túmulos de missionários. "É um gesto de homenagem a essas pessoas que dedicaram grande parte de suas vidas à Igreja", acrescentou o pontífice.

O Papa Francisco explicou ainda o significado da palavra: "sinodo", do grego "syn- odós", quer dizer "caminhar junto".

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