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Em Itu, moradores fazem fila até de madrugada por água de bica

FSP, Cotidiano, p. C4
24 de Out de 2014

Em Itu, moradores fazem fila até de madrugada por água de bica
Há 25 dias, famílias e vizinhos se unem para abastecer em praça com poço artesiano
Com racionamento desde fevereiro, cidade é a que sofre há mais tempo com a seca no Estado de São Paulo

MARTHA ALVES AVENER PRADO ENVIADOS ESPECIAIS A ITU (SP)

Uma e meia da madrugada de quinta-feira (23). O ajudante geral Devacir Soares do Nascimento, 26, amarra com cordas um suporte improvisado na garupa da moto. Coloca ali galões e garrafas e sai de casa em direção à bica da Vila Santa Terezinha, em Itu (a 101 km de São Paulo).
Na cidade paulista que sofre há mais tempo com a falta de água --desde setembro de 2013, segundo moradores--, Nascimento é uma das centenas de pessoas que recorrem ao local diariamente.
Para ter água em casa, o ajudante geral faz o trajeto de 30 minutos duas ou três vezes ao dia. São 12 km, ida e volta, a 40 km/h, para que as garrafas não caiam na rua.
Com um racionamento que se arrasta desde fevereiro, a situação em Itu, que tem 165 mil habitantes, se agravou nos últimos meses. A população vem fazendo protestos, alguns dos quais terminaram em confronto com a polícia.
Reservatórios e represas estão há meses em estado crítico devido à falta de chuvas. Com isso, apenas metade do consumo diário de 62 milhões de litros é atendido, inclusive com auxílio de caminhões-pipa. A Promotoria diz que as medidas são insuficientes. A pedido da concessionária Águas de Itu, os carros são escoltados para evitar saques.
As filas na bica, um conjunto de dez torneiras numa praça abastecidas por poço artesiano, começaram há 25 dias.
De madrugada, o movimento é menor. Quando a reportagem esteve no local, dez pessoas enchiam galões e outras dez esperavam a vez. Depois da meia-noite, a bica é procurada por idosos e famílias que tentam driblar as imensas filas do resto do dia.
Para conseguir levar toda a água que precisam, vizinhos e famílias inteiras se unem e fazem mais de uma viagem por dia ao local.
Os vizinhos Vinícius Arruda, 27, e Leandro Augusto Marinoni, 29, enchem a cada dois dias o bagageiro de um Fiorino com galões dos mais variados tamanhos. Segundo eles, conseguem 500 litros para dividir com parentes e amigos.
A família da bordadeira Valdice Guerellus da Silva, 58, foi ao local em dois carros. Na terça (21), ela, o marido, a filha e o namorado dela encheram vários galões com mais de cem litros.
No dia seguinte, sobrara apenas um litro e meio. Nesta quinta, repetiram a dose.
O aposentado Luiz Antônio Antunes e a mulher Regina Stofani Antunes, ambos de 77 anos, estão com torneiras secas há 15 dias. Enquanto ela enche os galões com um funil, ele os carrega com dificuldade pelas escadas de acesso até um Fusca 1971.
Pior, diz o consultor Aguinaldo Luiz da Silva, 51, é saber que todo mês tem de pagar a taxa mínima da conta (R$ 24,80), mesmo que tenha consumido apenas "uma colher de água".
Colaborou LUCAS SAMPAIO, de Campinas
NA INTERNET
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folha.com/no1537291

FSP, 24/10/2014, Cotidiano, p. C4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/192176-em-itu-moradores-faze…

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