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Em Altamira, índios exportam óleo para a Inglaterra

Diário do Pará-Belém-PA
26 de Jul de 2005

Índios de nove etnias que vivem no município de Altamira, oeste do Pará, têm na exportação de castanha sua principal atividade econômica. Eles vivem em quatorze aldeias, que comercializam o produto com a empresa britânica de cosméticos Body Shop. Ano passado, foram enviados oito mil quilos do produto, número que este ano deve chegar a dez mil. A produção está em fase de secagem e deverá sair do Brasil até o mês de outubro, gerando uma renda de R$ 40 mil para as comunidades indígenas. Além disso, os índios agrupados na cooperativa Amazoncoop também possuem um provedor de internet com 700 clientes e um hotel ecológico. O lucro dos negócios ajuda na manutenção de uma farmácia natural - por meio da qual são distribuídos, gratuitamente, medicamentos para as populações indígenas aldeadas e citadinas - e na realização de serviços de saneamento básico e construção de escolas nas aldeias. De acordo com o diretor administrativo da Amazoncoop, Oséas Silva, o nível de organização dos índios de Altamira foi o que permitiu reverter o processo de comercialização da castanha que abastecia o mercado atravessador. Em 1998, com apoio da Funai e de organizações não governamentais foi criada a Cooperativa Agrícola Mista de Produtores Extrativistas de Altamira, cujo nome de fantasia é Amazoncoop, e que passou a administrar a produção dos índios. A experiência na extração de óleo de castanha foi adquirida com os índios Gorotire, do tronco Kayapó, que já trabalhavam com o produto. Hoje a cooperativa compra toda a produção fornecida por índios de nove etnias, e a exporta para a Inglaterra. "Criamos a cooperativa para agregar valor à castanha produzida nas reservas indígenas", explica Oséas Silva. A cooperativa tem participação ativa de 26 lideranças indígenas, representantes da Funai e membros da própria entidade, que é presidida pelo piloto Mauro Gumercindo Machado, conhecido na região como "Machadinho". A indicação de Mauro se deve ao prestígio que tem junto aos índios.

Prestação de serviços à comunidade

O projeto de Internet, pago com doações da Suécia, tem o objetivo de divulgar as ações da cooperativa e prestar serviços à comunidade de Altamira. Já o hotel ecológico Tataquara, construído para atender visitantes estrangeiros, será vendido porque a cooperativa não tem como manter as despesas. "O fluxo de hóspedes está baixo. O hotel tornou-se inviável para a cooperativa e nós queremos vendê-lo", explicou o diretor administrativo da Amazoncoop. Com o lucro do provedor, a cooperativa mantém o projeto Farmácia Verde, que distribui gratuitamente remédios à base de ervas medicinais cultivadas nas aldeias e no centro de mudas em Altamira. Cerca de dois mil índios que moram nas aldeias e na cidade, são beneficiados diretamente com medicamentos como xaropes, anti-anêmicos, calmantes de cidreira e cápsulas de copaíba. A funcionária da farmácia, Ana Paula Gusmão, garante que a produção dos remédios é suficiente para atender a demanda local. A cooperativa deverá fechar o exercício financeiro de 2005 com R$ 40 mil em caixa, obtidos com a exportação do óleo de castanha. Esse dinheiro retorna para os índios de duas formas: em espécie, diretamente para as aldeias que já sabem lidar com as finanças, ou por meio de serviços de saneamento básico, construção de escolas e compra de acessórios agrícolas, para aquelas que não têm conhecimento contábil. Apesar do comércio com a Inglaterra garantir a venda de dez mil quilos de óleo de castanha em 2005, o administrador da Amazoncoop reconhece os riscos do negócio, uma vez que o provedor já ganhou concorrente na cidade e as reservas extrativistas de castanha não contam com assistência técnica para aumentar sua produção. Por isso, Oséas Silva não descarta a possibilidade de celebrar um convênio com o Governo do Estado do Pará, visando criar grupos de estudos para diversificar a produção da castanha dos índios do Xingu.

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