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Eleições com sustentabilidade

FSP, Mercado, p. B13
09 de Out de 2010

Eleições com sustentabilidade

Roberto Rodrigues

Analistas políticos experientes vêm apontando uma obviedade absoluta em relação ao segundo turno das eleições: graças à espetacular escalada da senadora Marina Silva nos últimos dias da campanha para o primeiro turno, o tema "meio ambiente" ganhou uma dimensão muito significativa, devendo ocupar grande espaço nas plataformas dos dois candidatos à Presidência da República.
É bem verdade, como também apontam os especialistas, que a votação da senadora deveu-se mais a ela mesma do que ao tema em si, uma vez que candidatos destacados de seu partido fracassaram nas eleições para o governo de diversos Estados. Marina teve um discurso à frente do tempo dos concorrentes.
Mas a questão da sustentabilidade é hoje uma unanimidade universal: não há um terráqueo que não se preocupe com o aquecimento global, com a preservação dos recursos naturais, especialmente a água. Este ótimo discurso atraiu a juventude idealista e a enorme parcela de eleitores insatisfeitos com a performance dos demais candidatos.
Portanto, a senadora terá papel preponderante na campanha, e a temática ambiental também, sobretudo pelo amplo debate que se estabelecerá. É um importante avanço para a sociedade brasileira e nos colocará na vanguarda global quanto ao assunto, mormente quando o mundo se prepara para a retomada das conversas frustradas da COP-15.
E, com certeza, dois aspectos serão destacados no cenário nacional: o desmatamento da Amazônia e o papel da agropecuária no desenvolvimento do Brasil.
A própria revisão do Código Florestal em andamento no Congresso Nacional será, de alguma forma, permeada pelo novo patamar do tema ambiental, que, escoimado de radicalismo, ideologias ou paixões, possibilitará a construção de um projeto de desenvolvimento sustentável para o país, exatamente a partir de políticas que qualifiquem o agronegócio.
Além da redução do desmatamento, é preciso ver o outro lado, o que se tem feito no país em relação às florestas plantadas.
O Brasil já é um dos maiores plantadores de florestas do mundo. Seja para atender à demanda da indústria de papel e celulose, seja para a simples recuperação de áreas degradadas, temos hoje 6,3 milhões de hectares plantados com florestas, e 100% da produção de papel e celulose vem desse setor: não se derruba uma só árvore nativa para isso.
Aliás, o Brasil é o quarto maior produtor mundial de celulose e o nono maior de papel, crescendo em ambos os segmentos graças à enorme competitividade, determinada exatamente pela plantação de florestas em nosso imenso território.
É interessante o fato de que, além de plantar quase toda essa área, o setor de celulose e papel mantém 2,9 milhões de hectares de florestas nativas para preservação, recuperação e estudos da biodiversidade.
Cerca de 2,7 milhões de hectares são certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council) e pelo Programa Nacional de Certificação Florestal.
E os programas de parceria florestal desenvolvidos pelo segmento de papel e celulose têm um aspecto social relevante: são mais de 20 mil pequenas e médias propriedades rurais abrangidas, gerando 600 mil empregos diretos e indiretos. As florestas plantadas absorvem 1 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera por ano!
Vale a pena, enfim, revelar esse aspecto pouco conhecido da agricultura brasileira. Porque os demais setores são mais notórios, especialmente o dos grãos.
Nunca é demais repetir que nos últimos 20 anos a área plantada com grãos no Brasil cresceu 25%, e a produção, 157%, o que significa uma "economia" de 42 milhões de hectares de florestas ou cerrados.
Ou que a emissão de CO2 da cadeia produtiva de cana (cujo aumento de produtividade desde o início do Proálcool também preservou 5 milhões de hectares), é apenas 11% da emissão de CO2 da gasolina.
São dados importantes para o debate que se dará oportunamente na campanha para o segundo turno: é a sustentabilidade nas eleições.

Roberto Rodrigues, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp -Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
rr.ceres@uol.com.br

FSP, 09/10/2010, Mercado, p. B13

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0910201027.htm

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