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efetivo militar na fronteira

A Tribuna-Rio Branco-AC
16 de Dez de 2002

As Forças Armadas triplicaram seu efetivo no Acre, a despeito das dispensas ocorridas recentemente em função da contenção de despesa. Os oficiais não confirmam mas A Tribuna apurou que cerca de 500 novos homens se integraram às unidades do Exército espalhadas pelo Estado. Na Amazônia, região de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, o número de soldados na longa linha de fronteira com os sete países da região cresceu de 3,3 mil para 23,1 mil, tamanho do contingente em setembro. É o maior remanejamento de tropas realizado no País desde 1870 nos últimos 18 meses.

As unidades foram potencializadas para receber o novo contingente. Política e administrativa mais importante destacamento do Estado, o 4o Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), em Rio Branco, foi reconfigurado: a unidade era do tipo 1 e passou para o tipo 3, agregando duas novas companhias de fuzileiros. As mudanças ocorrem num momento de expansão das guerrilhas latinoamericanas, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs), que vem realizando incursões e combates muito próximos da fronteira brasileira.

De acordo com informações veiculadas pelo jornal O Estado de São Paulo, todo o processo e suas implicações estratégicas estão contidos em um conjunto de documentos do governo federal sob a denominação geral de "Política Militar de Defesa Nacional". O conteúdo foi apresentado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a seu sucessor, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. O estudo demarca como área de tensão os 12.130 quilômetros de divisas e como fronteira quente os 1.600 quilômetros de limites com a Colômbia.

A ameaça é representada pela guerrilha das Farc, pelo narcotráfico, pela exploração clandestina de recursos naturais e pelo cenário de instabilidade potencial em alguns dos países da região. A transferência de uma unidade completa do porte de uma brigada de infantaria - obras civis da nova base, compra de equipamentos, instalação dos militares, operações de mudança e da infra-estrutura - custa R$ 300 milhões. Os serviços de inteligência militar detectaram o estabelecimento de uma Frente Brasil das Farc com grupamentos de elite dispostos em oito diferentes pontos da fronteira no sentido norte-sul, desde Mitu até proximidades de Letícia. O relatório destaca que se trata de guerrilheiros experimentados em combate, especializados em missões de reconhecimento. Sua tarefa básica é manter abertas linhas de acesso a suprimentos, munições e refúgios na selva em território brasileiro.

"Com freqüência alguns feridos a tiros de fuzil calibre militar 7,62 milímetros são atendidos nos hospitais de São Gabriel da Cachoeira e da Missão Evangélica. Todos têm documentos regulares e se dizem vítimas de agressores não-identificados", afirmou o oficial do CMA ao jornal paulista. Os comandos rebeldes das Farc somam cerca de 350 homens e mulheres. Sem acampamentos fixos, em grupos de 43 combatentes, permanecem a 50 quilômetros de distância da fronteira. Contam sempre com duas possíveis rotas de movimentação: um rio e uma picada aberta na mata e camuflada.

Nos últimos meses o CMA registrou a presença em contatos definidos como "sem fogo" ao longo dos eixos fluviais que permitem acesso aos complexos de Caquetá e Guaviare. Há seis dias um choque entre tropas colombianas com cobertura da aviação militar, a apenas 10 quilômetros do território brasileiro, deixou 40 mortos. Por conta desse episódio foram intensificados os vôos patrulha armada e vigilância da Força Aérea Brasileira na área. Os 25 radares do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) coordenam as operações.

Jesus: "qualidade do efetivo é cada vez melhor"

Principal armada no Estado do Acre, o Exército intensificou o aprimoramento de praças e oficiais. Recentemente, quatro oficiais do 4o BIS retornaram ao Acre após concluírem o curso de especialização em guerra de selva no Centro Informação de Guerra de Selva (Cigs), em Manaus (AM). Isso demonstra que as Forças Armadas não querem apenas quantidade mas qualidade: "a qualidade do nosso pessoal é cada vez melhor", afirmou ontem o coronel Jesus Correia, comandante do 4o BIS.

Apesar de sustentar que na fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia não há movimentação de grupos guerrilheiros, Correia diz que a tropa está totalmente preparada para qualquer ação. Essa política se estende a toda a Amazônia. "Hoje, na Amazônia, as Forças Armadas têm muito mais capacidade de mobilização que no passado", completou Correia.

Mudanças beneficiam Santa Rosa e Assis Brasil

A política de remanejamento de unidades completas das regiões Sul, Sudeste e Nordeste para a Amazônia gerou protestos das comunidades que se viram sem a renda propiciada pelos militares. Ganharam comunidades como Santa Rosa e Assis Brasil, que continuarão sendo fortalecidas pelo Comando Militar da Amazônia. Parte do dinheiro que circula nessas localidades advém do soldo dos militares e das despesas operacionais das unidades. Um soldado profissional ganha R$ 540. O recruta, R$ 200.

Um oficial do Estado Maior do Comando Militar da Amazônia, com sede em Manaus, disse ao jornal paulista que "há ainda o preço político a pagar: a comunidade de onde sairá a tropa protesta, mobiliza políticos e com isso atrasa os procedimentos". O aumento dos quadros na Amazônia brasileira ainda não terminou. Nos próximos três meses serão deslocados outros 3 mil homens da Vila Militar do Rio de Janeiro, das guarnições do Ceará e do Rio Grande do Sul.

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