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Efeito Itaipu

FSP, Editoriais, p. A2
22 de Nov de 2009

Efeito Itaipu
Sistema elétrico ficará mais confiável se geração for desconcentrada; queima do bagaço da cana é boa alternativa

Aos poucos ganha força a hipótese de que um dos fatores concorrentes para o blecaute do dia 10 foi a sobrecarga proveniente da usina de Itaipu sobre as três linhas de transmissão que falharam. No instante do apagão que abrangeria 18 Estados, a usina mandava para o Sudeste 10.900 MW, 78% dos 14 mil MW de sua capacidade total. Nos nove primeiros dias de novembro, foram 3,8% a mais que nos mesmos dias de 2008.
Megausinas hidrelétricas como Itaipu geram energia barata, mas têm a desvantagem de ficar longe dos centros de consumo. Isso exige a construção de longas linhas de transmissão, que a encarecem e criam certa vulnerabilidade no sistema interligado. Por seu gigantismo, engendram dependência da montanha de eletricidade que produzem, tão bem expressa no transtorno que sua saída de linha causou a dezenas de milhões de brasileiros.
Alguns especialistas, como o físico José Goldemberg, consideram desejável que a expansão do sistema elétrico nacional evolua para uma geração distribuída e diversificada. Mais usinas, de menor porte e com participação de várias fontes além da hidráulica de grande porte, agregariam mais confiança à operação.
O princípio é contar com usinas mais próximas dos centros de consumo, como pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) ou termelétricas, em especial as alimentadas com biomassa renovável (em geral bagaço de cana). Cada região, assim, ganharia mais flexibilidade para substituir a perda repentina de carga.
O parque gerador brasileiro já começa a encaminhar-se nessa direção, embora ainda possa fazê-lo de modo mais decidido. O "Plano Decenal de Expansão de Energia 2008-2017" prevê que a participação de grandes hidrelétricas se reduza a 71% do total de 155 mil MW de capacidade projetados para o ano 2017, contra 80% dos 101 mil MW atuais. O restante seria distribuído por várias fontes, com destaque para as não renováveis (18,8% do total, contra os 14,8% de hoje).
A expansão prevista conta com outras "itaipus". A mais saliente é a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, com capacidade de 11.333 MW, que teve o leilão de construção adiado para 2010, por dificuldades com custo, prazo e licença ambiental. Assim como as duas usinas em obras no rio Madeira (Rondônia), que somarão mais de 6.000 MW para o aumento da oferta na próxima década, Belo Monte será uma usina gigante e distante.
Chama a atenção, nesse planejamento, a baixa expectativa associada com a eletricidade gerada pela queima de biomassa. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) estima o potencial em 10 mil MW até 2017, mas o plano decenal projeta pouco mais de 4.000 MW. De 0,9% da matriz, passaria a 2,7%. Salto muito maior está previsto para termelétricas a óleo combustível, de 1,3% para 5,7%.
Em lugar de queimar combustível não renovável, o Brasil deveria dar prioridade para o bagaço da cana, que volta a ser produzido a cada safra. Além disso, essa fonte de energia está mais perto dos centros consumidores.

FSP, 22/11/2009, Editoriais, p. A2

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