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Educação: Líder Eva Conoé defende pedagogia direcionada para os povos indígenas

Adital - http://www.adital.com.br/
22 de Jul de 2009

Educação é direito de todos. Está na Constituição. Mas povos indígenas de várias partes do Brasil, em sua maioria, ainda permanecem excluídos desse direito básico. Quem fala, com muita propriedade e determinação sobre o assunto, é a líder indígena e educadora, Eva Canoé. Ao lado do Arcebispo Dom Moacyr Grechi e do assessor nacional das CEBs, Benedito Ferraro, ela participou da coletiva de imprensa hoje (22), pela manhã, dentro do 12o Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base, que acontece em Porto Velho (RO).

Eva Conoé mora no município de Guajaramirim, que faz fronteira com a Bolívia. Vive na Terra Indígena Sagarana, a primeira de Rondônia a ser administrada unicamente por indígenas, afirmando o preceito da autonomia dos povos. A Terra Indígena é habitada por cerca de 5.000 pessoas e possui 10 etnias diferentes.

Lá, a educação indígena vem sendo conquistada com muito esforço. Com aproximadamente 1.200 alunos indígenas, o município tem 23 escolas e 63 professores indígenas. À frente desta empreitada, Eva afirma que os problemas são muitos. Vão desde a qualificação profissional necessária, que respeite as culturas indígenas, até aos financeiros e de acesso às escolas.

Dados de 2007, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, indicavam que no Brasil existiam 2.323 escolas indígenas. "Muito pouco para a nossa realidade", critica Eva.

Em sua fala de abertura durante a coletiva, Eva foi enfática: "Precisamos de uma Amazônia que seja de todos os brasileiros, que não seja vendida. Nós somos a Amazônia. Somos o Brasil. Que nos ouçam, que ouçam os clamores dos povos indígenas".

Pouco antes da coletiva, Eva Conoé conversou com a ADITAL. Confira:

Adital - Aos poucos a Educação Indígena vem tendo atenção em seminários e palestras sobre Educação. A senhora vê avanços nessa área?

Eva Conoé - Eu avalio que nós, povos indígenas de Rondônia, tivemos nossos avanços através da nossa organização, que é a dos professores indígenas de Rondônia, Sul do Amazonas e Noroeste do Matogrosso. Desde segunda-feira acontece, em Ouro Preto (MG), a Primeira Conferência Regional de Educação Escolar Indígena. Lá está sendo discutido como cada comunidade, não só de Guajaramirim, mas de toda Rondônia, e do país, estão querendo trabalhar com seus alunos. De que forma, como e porque as comunidades indígenas querem escolas. No encontro também apresentamos o que já foi conquistado e o que nós comunidades indígenas podemos fazer para que essa educação seja de fato diferenciada e de qualidade e que atenda as demandas das comunidades indígenas. Só em Rondônia, somos 52 povos diferentes.

Adital - Como a senhora avalia a atuação do governo com relação à educação indígena?

Eva Conoé - Eu vejo o seguinte: não só a questão educação indígena, mas a educação em geral não é prioridade para o Governo Federal. Tanto as escolas indígenas quanto as escolas do Estado passam por muitas dificuldades, como a falta de material. Esse ano, no município de Guajaramirim, o material didático, de primeira necessidade, veio chegar somente no mês de abril, quando as aulas começaram em fevereiro. Ainda assim, não chegou o suficiente para atender nossa demanda. No município temos 1.200 alunos indígenas, fora os alunos que vivem nas cidades.

Adital - "Educação diferenciada e de qualidade" seriam as principais demandas dentro da proposta pedagógica indígena que a senhora defende?

Eva Conoé - Conversando com os companheiros nesse encontro, a gente vê que temos muito em comum. Por isso, que nós nos reunimos para discutir essa questão. E eu questionei com os companheiros que, para discutir a educação escolar indígena, nós precisamos de mais professores indígenas formados em pedagogia que realmente conheçam a pedagogia dos povos indígenas. Nós temos a nossa educação indígena, que é aquela passada de pais para filho, de geração para geração, e essa educação tem que continuar dentro das nossas comunidades.

Mas essa educação precisa de pessoas mais preparadas. Na sociedade em que nós vivemos, nós temos que preparar cidadãos e cidadãs conscientes, participativos e ativos. Então esse é um dos nossos objetivos. Temos que preparar nossos jovens para que eles continuem na luta, na defesa dos povos indígenas.

Adital - Mas mesmo com as escolas implantadas, ainda se tem muito problemas...

Eva Conoé - É um trabalho árduo. Temos problemas de transporte. As escolas de Guajaramirim são muito distantes umas das outras, são rios diferentes. Umas são em áreas terrestres. Mas às vezes não tem transporte, quando tem, não tem combustível. De barco a dificuldade é a mesma. Mas, na medida do possível, a gente vem fazendo aquilo que, acredito, no futuro, poderemos fazer melhor.

As matérias sobre o 12o Intereclesial das CEBs são produzidas com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF 2008.

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