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Ecopropaganda contra transgenicos

GM, Cartas & Opinioes, p.A2
Autor: RAIJ, Bernardo van
21 de Mar de 2005

Ecopropaganda contra transgênicos
Grande parte da população é contra os alimentos produzidos por plantas transgênicas, embora sem saber o porquê.
Na realidade, essa é uma situação criada por uma forte campanha de desinformação, uma ecopropaganda contra os transgênicos baseada em suposições, sem fundamentação científica adequada, e ações de constrangimento visando colocar a opinião pública contra os transgênicos.
Essa lamentável situação tem atrasado a pesquisa brasileira em uma das mais promissoras técnicas da biotecnologia, a transgenia, além de impedir que os agricultores brasileiros se beneficiem desse grande avanço científico. Hoje existem no mundo vários tipos de genes já incorporados em plantas, animais e microorganismos e centenas de casos de organismos transgênicos em estudo, e o potencial de uso é imenso.
Um organismo transgênico contem um gene de outra espécie inserido em seu genoma. A seqüência de gene inserido vem de outra planta ou de espécies totalmente diferentes. Na agricultura, são usados principalmente dois genes: o representado por "rr", que torna as plantas resistentes ao herbicida glifosato, facilitando o controle de ervas daninhas e barateando o custo de produção; o outro, representado por "bt", faz com que as plantas tenham o poder de matar algumas pragas, diminuindo a necessidade do controle químico por agrotóxicos. As plantas que recebem os genes "rr" ou "bt" mantêm todas as suas características e mais as dos genes introduzidos em seus genomas.
No Brasil, a primeira tentativa de iniciar o plantio comercial de transgênicos foi a da soja transgênica, resistente ao herbicida glifosato. A liberação para plantio havia sido aprovada em 1999, pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão com competência legal e técnica para resolver esses casos, mas a liberação foi suspensa pela Justiça em 1999, graças a ação movida por três organizações que lideram a campanha contra os transgênicos no Brasil, em consonância com campanha internacional.
Todos os argumentos contra a soja e outras espécies transgênicas não têm se confirmado, o que atesta a correção do parecer da CTNBio. Um importante indício de que a soja transgênica não faz mal nem à saúde nem ao meio ambiente é a aprovação, por órgãos reguladores de elevado rigor e competência, como são os dos Estados Unidos, Austrália e Canadá. Os transgênicos contam também com a aprovação da FAO e da Organização Mundial de Saúde. Além disso, o cultivo por oito anos em enormes áreas de diversos países, sem a constatação de problemas, é outra prova importante. Grandes países, alguns concorrentes do Brasil no agronegócio, já cultivam transgênicos em larga escala há vários anos, como é o caso de Estados Unidos, Argentina, Austrália, Canadá, China, Índia, México e outros.
Nos Estados Unidos são constatados resultados amplamente favoráveis aos produtores e ao meio ambiente pelo cultivo de plantas transgênicas, com destaque para o menor custo de produção e redução do uso de agrotóxicos. Nesse país houve adoção muito rápida, com as culturas transgênicas ocupando atualmente 85% da área de soja, 45% da área de milho e 76% da área de algodão.
O prejuízo causado pela campanha contra os transgênicos é irreversível e irrecuperável e deverá afetar a competitividade da nossa agricultura. O Brasil tem sido pródigo em entrar atrasado nos grandes desenvolvimentos científicos e tecnológicos mundiais. Foi assim com a revolução industrial e com a informática. E, mesmo sendo o país que melhor domina a tecnologia de produção agrícola tropical, parece que, para não perder a tradição, busca o atraso também na bioteconologia, enquanto aguarda, pacientemente, até que se prove a ingênua assertiva "os transgênicos não fazem mal".
Cumpre registrar que a ecopropaganda mais importante contra os transgênicos tem origem em organização com sede na Europa. Teria essa entidade compromisso com o desenvolvimento da agricultura brasileira? Vale refletir sobre esse assunto.

Bernardo van Raij Conselheiro da Pró-Terra e pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), SP

GM, 21/03/2005, p. A2

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