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É preciso um olhar diferenciado

OESP, Economia, p. B2
Autor: PIRES, Adriano; HOLTZ, Abel
30 de Mai de 2015

É preciso um olhar diferenciado

ADRIANO PIRES
E ABEL HOLTZ

A cada dia que passa temos uma novidade e no setor elétrico. A lista de problemas de curto prazo que foram postergados é ampla e o desafio do Ministério de Minas e Energia (MME) de encontrar soluções que sejam perenes e suficientes para resolver cada um deles de forma adequada e plausível parece mais do que hercúleo.
Os problemas são muitos, da renovação de concessões, passando por indenizações de ativos, GSF, FID, empréstimos e inadimplências, atingindo geração, transmissão e distribuição. Não soa nem um pouco irrealista, pois, que a prioridade deveria ser a busca de soluções que sejam exequíveis caso a caso.
Problemas de envergadura como estes nunca foram antes observados na história do setor elétrico. Nem mesmo o que custou aos contribuintes cerca de US$ 26bilhões nos idos de 1993, conhecido como o grande encontro de contas promovido pela Lei Eliseu Rezende, um dos passos prévios ao Plano Real e que permitiu a privatização de empresas do setor elétrico.
Claro que as questões que estamos mencionando são do conhecimento e da atenção do MME, mas o setor não pode continuar paralisado, administrando somente problemas que são importantes, mas são de curto prazo. E o longo prazo? Uma das frases mais conhecidas do famoso economista inglês Keynes é que o longo prazo é apenas a sucessão de curtos prazos. Corre¬to, por isso é preciso sair da armadilha e superar os problemas de curto prazo, para que não comprometamos o longo prazo. E isso não está acontecendo.
É preciso olhar em frente, voltar a planejar o longo prazo. Não é possível nem responsável a continuidade da política do esparadrapo. Temos de implantar políticas que viabilizem a construção de empreendimentos hidrelétricos de grande porte, mesmo que estejam localizados na região amazônica ou em países vizinhos. Diversificar a matriz energética é fundamental e essencial, e para isso é necessário dar uma nova dinâmica na geração elétrica. Incluir as nucleares e também as térmicas a gás natural. Negociar soluções para a geração distribuída. Promover leilões regionais e por fontes, permitindo o aproveitamento da nossa dispersão energética regional. Afinal, temos água no Norte, vento no Nordeste, biomassa no Centro-Oeste e Sudeste, carvão no Sul e sol no País inteiro. Mais do que nunca, é preciso ousar.
Dada a experiência acumulada em outros empreendimentos construídos ou em construção na região amazônica, antecipar fatos que possam vir a atravancar a construção de novas usinas, como a de São Luís dos Tapajós, e que vêm atrasando a disponibilidade de sua produção para o atendimento ao mercado. Não podemos continuar punindo as gerações futuras de brasileiros deixando de aproveitar a geração de energia elétrica dos rios da Região Norte. Bastam os crimes já cometidos contra essa geração futura com a construção das usinas a fio de água. Porque não vamos nos iludir: a demanda continuará crescente. E, quando ocorrer a retomada do crescimento que todos almejamos, não poderá faltar energia e o seu preço terá de ser compatível com a capacidade de pagamento dos consumidores de qualquer natureza para evitar a inadimplência de um lado e a transferência da indústria nacional para outros países.
Do ponto de vista do retorno dos capitais investidos (e financiados), os últimos exemplos da jornada "estruturante" na região amazônica são um desastre de proporções épicas. Têm sido a maior confusão. O modelo de negócio, obrigatoriamente, tem de ser outro. Do contrário, a energia sempre será o grande obstáculo à retomada do crescimento.
Se não pensarmos, com um olhar diferenciado, a construção dos novos empreendimentos hidrelétricos de grande porte, a indústria nacional será sucateada, pois, não ocorrendo demanda de projetos, máquinas, equipamentos e construtoras, haverá demissão de profissionais especializados com experiência formados ao longo de inúmeros anos e não haverá investidores.
Se o bom senso não prevalecer aí, a lista de problemas só vai aumentar.

SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E DIRETOR DA HOLTZ CONSULTORIA

OESP, 30/05/2015, Economia, p. B2

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