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É inaceitável a profusão de pistas de pouso do garimpo ilegal na terra ianomâmi

O Globo - https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post
15 de Mai de 2022

É inaceitável a profusão de pistas de pouso do garimpo ilegal na terra ianomâmi

Por Editorial
15/05/2022

O garimpo clandestino tem transformado as terras ianomâmis, maior reserva indígena do Brasil, num polo de ilegalidade. É um escândalo haver 277 pistas de pouso na comunidade. O número consta de mapeamento feito pelo próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), como revelou reportagem do GLOBO. Pode haver ainda mais. Uma ação do Ministério Público Federal (MPF) afirma que a fiscalização cobre apenas um terço da logística de apoio ao garimpo.
A Fundação Nacional do Índio (Funai), que deveria proteger essas comunidades, também tem conhecimento da aberração. Relatórios sigilosos da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, a que O GLOBO teve acesso, mostram o avanço contumaz dessa infraestrutura ilegal durante o governo Bolsonaro. Em 2019, havia três pistas de pouso e 14 helipontos ao longo do Rio Mucajaí, uma das principais regiões exploradas pelo garimpo. No fim do ano passado, uma ação da Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça identificou 87 instalações desse tipo.
Além dos danos óbvios, como devastação da floresta e contaminação dos rios por mercúrio, a atividade traz riscos para a aviação comercial. Em março de 2021, um avião da Latam que ia para o aeroporto de Boa Vista, capital de Roraima, teve de arremeter para não colidir com um helicóptero do garimpo.
Certamente não é coincidência que as pistas de pouso tenham se multiplicado na gestão Bolsonaro. A leniência com que o governo trata madeireiros, grileiros e garimpeiros ilegais é um incentivo à proliferação de atividades clandestinas que degradam a floresta e expõem os povos indígenas a doenças. A fiscalização por vezes é inócua. O Ministério Público Federal afirma que 29 aeronaves apreendidas em operações voltaram a operar no garimpo. Por isso recomendou que elas fossem destruídas ou ganhassem novo destino.
O drama imposto aos povos ianomâmis tem sido notório e está longe de se restringir aos danos ambientais. Relatórios de lideranças indígenas fazem acusações de aliciamento de menores, abuso sexual de mulheres e crianças, trabalho forçado e oferecimento de bebidas alcoólicas, além de outras barbaridades. No fim do mês passado, Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'Kwana (Condisi-YY), denunciou que uma menina de 12 anos fora estuprada e morta por garimpeiros. A Polícia Federal fez operação na região e não comprovou a denúncia. Junior alegou que os indígenas haviam sido silenciados pelos invasores.
Se o governo sabe que existem pistas de pouso clandestinas nas terras ianomâmis, deveria inutilizá-las, além de apreender aeronaves e maquinário. Seria uma forma de atacar a infraestrutura que sustenta cerca de 20 mil garimpeiros ilegais. Operações eventuais não resolverão, especialmente diante do desmonte das estruturas de fiscalização. Com uma política ambiental tóxica, em três anos e meio Bolsonaro deixou o garimpo ilegal se expandir pela floresta. Será bem mais difícil combatê-lo. Se é que ele quer.

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