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É falso que indígenas em estado de desnutrição em Roraima são venezuelanos

Lupa - https://lupa.uol.com.br/
23 de Jan de 2023

É falso que indígenas em estado de desnutrição em Roraima são venezuelanos

23.01.2023 - 14h15
Maiquel Rosauro
Rio de Janeiro - RJ

Circula pelas redes sociais uma postagem informando que os indígenas em estado de desnutrição em Roraima são venezuelanos e "frutos do comunismo" de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:

Indígenas em estado de desnutrição em Roraima são venezuelanos e fruto do comunismo de Maduro e Lula"
- Texto em publicação que circula nas redes sociais
Falso

A informação analisada pela Lupa é falsa. Não há evidências de que os indígenas que estão sofrendo com a desnutrição sejam venezuelanos. Eles estão na Terra Indígena Yanomami, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas. A área foi homologada pelo governo federal em 1992 e é considerada a maior reserva indígena do Brasil. A piora na condição de vida dessas populações está diretamente ligada à presença ilegal de garimpeiros, que destroem os meios de subsistência desses povos e disseminam doenças. As invasões desses garimpeiros se multiplicaram ao longo da gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o território yanomami é habitado por oito povos, possui cerca de 26,7 mil habitantes e compreende uma área de 9,6 milhões de hectares - comparável ao estado de Santa Catarina.
O site que publicou a informação de que os indígenas teriam vindo da Venezuela não apresenta nenhuma prova. A página também não cita informações sobre a suposta participação de Maduro ou Lula - cujo governo iniciou em 1o de janeiro - no caso. Por outro lado, a situação precária enfrentada pelos yanomamis é conhecida há meses.

Em julho do ano passado, durante audiência de uma comissão externa da Câmara dos Deputados criada para acompanhar a situação dos yanomamis, entidades indigenistas e socioambientais denunciaram o que seria uma tragédia humanitária que estaria em curso no território. Foram expostos casos de garimpo ilegal de ouro e cassiterita, violência sexual de mulheres e crianças, ameaças de morte e desestruturação dos postos de saúde.

Na mesma audiência na Câmara foi relatado que a região é palco de desmatamento, destruição do leito dos rios, contaminação por mercúrio, aumento dos casos de malária, acirramento de conflitos e violência, perda da soberania alimentar e desnutrição infantil. O cenário foi detalhado no estudo "Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo", do ISA.

Em 14 de dezembro do ano passado, uma reportagem da Agência Pública destacou o índice de mortalidade por causas evitáveis 13 vezes maior entre crianças yanomamis do que a média nacional.

Em 21 de dezembro, a organização internacional Survival divulgou imagens que mostram crianças e adultos severamente desnutridos em aldeias da região de Surucucus, dentro do território yanomami. A entidade informa que, duas semanas antes, garimpeiros atacaram e destruíram um posto de saúde. O mesmo posto já havia sido desativado, em setembro de 2021, por ameaças de garimpeiros a profissionais da saúde.
Imagens dos yanomamis em severo estado de desnutrição geraram grande repercussão na imprensa na semana passada. Em 20 de janeiro, o governo federal publicou uma portaria em que declara Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional em decorrência de desassistência à população yanomami. Em entrevista à BBC News Brasil, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, apontou como responsáveis pela crise o garimpo ilegal e a omissão do governo Bolsonaro.

https://lupa.uol.com.br/jornalismo/2023/01/23/indigenas-desnutricao-ror…

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