"Domamos a água"

Quando o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), declarou que "O Tocantins vai virar mar, vai virar mundo e vai inundar o Brasil de eletricidade", durante a inauguração da Usina Luís Eduardo Magalhães, em Lajeado, no dia 5 de outubro último, quando o Estado completou 13 anos de criação, referia-se ao enorme potencial hídrico do Estado. Tamanha importância das águas é ressaltada e "recitada" pelo governador Siqueira Campos (PFL), num momento histórico em que o Rio Tocantins, represado pela barragem da Hidrelétrica, começa a transformar a paisagem com a formação do lago. Por cerca de duas horas, o Governador sobrovoou Palmas, o Rio Tocantins e a Hidrelétrica de Lajeado.

Entre a constatação de que as conseqüências para a população da utilização das águas ("domadas") são mais benéficas que a nostalgia pelo que ficou para trás, Siqueira vislumbra outras conquistas para o Estado, entre as quais está o processo de industrialização, onde a Agência de Fomento, o Aeroporto Industrial, a Ferrovia Norte-Sul e a Hidrovia Araguaia-Tocantins desempenharão papéis fundamentais. Fala da corrente jurídica que o coloca em condições de disputar um novo mandato, mas prefere convocar o povo para escolher um bom sucessor. E não esconde a emoção quando viu, através de imagens bem reais, a concretização de sonhos tão remotos e tão arduamente desejados.

Quase 13 anos depois que o governador Siqueira Campos (PFL) sobrevoou, a área escolhida para ser instalada a Capital do Tocantins, no dia 27 de janeiro de 1989, ele mesmo, em seu terceiro mandato no Governo do Estado, voltou, a convite da Organização Jaime Câmara, a sobrevoar a região, dessa vez num helicóptero cedido pela Investco - um R44 prefixo PP-MJQ pilotado pelo comandante Rogério Grefenhagen. O passeio aconteceu em mais um momento histórico para o Tocantins: quando as águas do Rio Tocantins começam a inundar parte dessa área e a transformar a paisagem, com o fechamento das comportas da Usina de Lajeado (o início da 2ª fase de enchimento do lago foi adiada para 20 de dezembro).

Para Siqueira, o domínio das águas a serviço do homem é uma das etapas mais importantes para o Estado. Citando a própria UHE de Lajeado e tantas outras que vão surgindo, como Peixe/Angical em construção e São Salvador e Santa Isabel cujas concessões foram leiloadas na semana passada, o Governador lembrou que o Tocantins está pronto para ser industrializado, com infra-estrutura e meios de transporte capazes de escoar a produção do Estado. Mas alertou para a necessidade de exportar produtos beneficiados, evitando a evasão de empregos e renda.

Iniciati va Privada
Na entrevista exclusiva que concedeu, logo após o sobrevôo, aos veículos de comunicação da OJC no Tocantins, Siqueira deixou clara a intenção de fortalecer a iniciativa privada, sem interferência do poder público. "O governante também tem que deixar de meter o bedelho na livre iniciativa. (...) O empresário é o carro-chefe do desenvolvimento, é a locomotiva do desenvolvimento", atestou.

Cadeia Produtiva
Ao anunciar para breve a implantação do Aeroporto Industrial (transporte de cargas) e a criação da Agência de Fomento, com recursos de R$ 1,2 bilhão oriundos de uma das parcelas de R$ 100 milhões da dívida constitucional da União com o Estado, que ele pretende antecipar, o Governador disse que vai fortalecer a agropecuária e fazer nascer uma agroindústria, para formar a cadeia produtiva.

Siqueira falou também dos sonhos que tem dormindo ou "de olhos abertos" para o futuro. A construção do metrô de superfície, que pretende ver implantado dentro de dez a quinze anos, e o Cristo em Ascensão a ser erguido na terceira ponta da Serra do Carmo. Mas também revelou sonhos mais simples de serem realizados, como a construção de uma ponte pênsil em Pedro Afonso, sobre o Rio do Sono, e a inclusão do Brasão de Colinas, desenhado por ele. A intenção de Siqueira é colocar o desenho no frontispício (fachada) do Palácio Araguaia, que receberá um projeto moderno, representando as fases da história do Tocantins.

Político
Perguntado sobre a intenção de realizar as obras que ainda estão na cabeça ou no papel, num quarto mandato, o Governador lembrou que há uma corrente de interpretação jurídica que defende a possibilidade de disputar as eleições em 2002. A idéia é que, ao renunciar ao primeiro mandato para concorrer às eleições em 1998, e ao assumir o vice, na época Raimundo Pires, houve um outro mandato, de um outro governador, que não era Siqueira Campos. "Portanto o meu antecessor não fui eu próprio", salientou. Mesmo assim, o Governador disse que não pretende mais se candidatar, mas pediu ajuda para escolher uma pessoa de confiança para sucedê-lo. "Se nós não tivermos uma pessoa honesta, ética, responsável, isso não continua", advertiu.

Cidadão
"Eu realmente me sinto bem com o povo, com as crianças, principalmente com os jovens. Mas olha, meu quarto é o lugar dos meus sonhos", revelou em risos o cidadão Siqueira Campos. Mostrando-se um apaixonado por todos os "cantos" de Palmas e do Tocantins, o Governador falou também sobre um pequeno sítio que possui próximo à Capital, onde mantém contato direto com a natureza. Entretanto, não escondeu a predileção pela Cidade que sedia o Governo do Estado. "Palmas me encanta em todos os detalhes. Gosto de tudo...", declarou