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Dois terços do Rodoanel Sul já estão concluídos

OESP, Metrópole, p. C3
24 de Nov de 2008

Dois terços do Rodoanel Sul já estão concluídos
Governo corre para antecipar entrega para dezembro de 2009

Eduardo Reina

Dois terços do Trecho Sul do Rodoanel estão concluídos, embora exista pendência com desapropriações. Segundo o governo do Estado, em 94% da área a ser desocupada para dar lugar à via expressa, houve acordo administrativo entre proprietários e a Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), responsável pelas obras. Os 6% restantes foram parar na Justiça, dos quais 2% foram resolvidos e os outros 4% estão pendentes.

"Há apenas um trecho atrasado, por conta de desapropriações, mas vai dar para recuperar", garante o governador José Serra. A velocidade da construção deve antecipar a entrega do trecho de março de 2010 para dezembro de 2009. "Nesse estágio, em que se pode enxergar a forma final de toda a extensão do Rodoanel Sul, a visão da maior obra civil do País é impressionante", diz Serra.

Segundo o departamento jurídico da Dersa, o projeto previa desapropriar 11.343.900 m² de área em São Bernardo do Campo, Mauá, Santo André, São Paulo, Embu e Itapecerica da Serra. Foram desapropriados 11.133.744 m². O restante se refere aos proprietários de terrenos que contestam a ação na Justiça. A previsão é concluir a liberação de frentes de obras no primeiro semestre do ano que vem.

Serra confirma que a licitação para a construção do Trecho Leste, com 40,6 quilômetros, que ligará as Asas Oeste e Sul às Rodovias Dutra, Ayrton Senna e Carvalho Pinto, também está prevista para o início de 2009. A Dersa deverá entregar os Estudos de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto no Meio Ambiente (EIA-Rima) em dezembro ou janeiro. A concorrência deverá estar na rua no primeiro semestre do próximo ano. Atualmente estão sendo finalizados os estudos para a primeira definição do traçado.

As obras do Trecho Sul foram iniciadas duas vezes, com intervalo de nove meses. A primeira "inauguração" da pedra fundamental foi feita pelo então governador Cláudio Lembo, em setembro de 2006, no km 26 da Anchieta. Em maio de 2007, Serra participou de solenidade de reinício dos trabalhos, parados desde a festa anterior.

A construção, com 61,4 quilômetros de extensão, foi dividida em cinco lotes. O primeiro, no trecho entre Mauá e a Anchieta, está 64% concluído. As pistas estão praticamente prontas, na fase do asfalto. No lote 2 (66% pronto), o trevo da Anchieta, com 1,2 quilômetro de diâmetro, está sendo executado. Esse será o principal trevo do Rodoanel Sul, pois direcionará todo o tráfego para o Porto de Santos.

O lote 3 (50% já feito), entre a Anchieta e a Imigrantes, terá a maior ponte do sistema, com 1.750 metros de extensão, sobre a Represa Billings. As obras nesse ponto aterraram 1,5 mil m² para a construção da obra. No lote 4 (58% concluído), a ponte sobre a Represa de Guarapiranga, com 245 metros, está pronta e outra, sobre outro trecho da Billings, com 680 metros, está em andamento. No último lote (54% pronto), o trecho entre Parelheiros e o fim do Trecho Oeste, na Rodovia Régis Bittencourt, dois parque lineares com 200 hectares cada estão sendo construídos em Embu e Itapecerica da Serra. E o viaduto de acesso à Régis está quase concluído.

Bambu dado como extinto é achado na obra

Uma espécie de bambu dada como extinta há 60 anos foi encontrada durante as obras do Trecho Sul do Rodoanel na região de Mauá e no Parque Bororé, extremo sul da capital. Técnicos e biólogos do Programa de Preservação da Flora, uma parceria entre a Dersa e o Instituto Jardim Botânico, identificaram o bambu 'Merostachys neesii', que desapareceu do Estado de São Paulo em virtude do desmatamento. Também foram achados exemplares da gramínea 'Streptochaeta spicata', ameaçada de extinção e existente em poucos lugares.

A gramínea é uma espécie primitiva que dá origem aos bambus. Foi localizada na região de São Bernardo do Campo. É nativa do local e não dá flores, apenas muitas folhas. No mesmo local foi encontrada a palmeira 'Lytocaryum Hoehnei', que estava no livro vermelho das espécies em extinção do Greenpeace.

Os três exemplares foram resgatados da mata que foi removida para construção das pistas e levados ao Jardim Botânico, onde serão preservados. Desde o início das obras do Trecho Sul, em maio de 2007, já são mais de seis mil tipos de flores e 184 famílias botânicas resgatadas pelo projeto de preservação da flora.

Também foram encontrados em meio às obras 358 animais silvestres, sendo 73 mamíferos - com destaque para espécies raras, como o bugio e o sagüi-de-tufo-preto -, 134 répteis - o mais comum foi o cágado-pescoço-de-cobra - e 151 aves, principalmente pica-paus e quero-queros.

Moradores reclamam e lojistas vêem oportunidade
Rachaduras e sujeira estão entre os problemas

Vitor Hugo Brandalise

Na área da Represa Billings que separa São Paulo e São Bernardo, a paisagem dos bairros que ficavam "no meio do mato", como lembram moradores, muda rapidamente. Desde que começaram as obras do Rodoanel Sul, 16 retroescavadeiras e cerca de 100 basculantes trabalham dia e noite para finalizar as duas pontes que cruzarão o manancial. Cada uma, com 1.755 metros de extensão, é sustentada por 16 blocos de concreto - na construção de um bloco são usados entre 500 m³ e 700 m³ de concreto, o suficiente para erguer um edifício de 12 andares. São cerca de 1.400 operários, trabalhando diretamente na área.

Para moradores dos arredores da obra, os impactos sentidos são o barulho e a velocidade dos caminhões que circulam por Jardim Represa, Parque Los Angeles e Nova Canaã, e as rachaduras nas casas.

Em um ano e meio, a paisagem do quintal de Márcia Katsumi, de 38 anos, mudou. Antes, os visitantes eram macacos, raposas, gambás e cobras. Hoje, o que mais entra na casa é barulho e poeira. "Preferia os bichos. Não dá para agüentar o barulho e a tremedeira da obra", afirma a moradora do bairro Nova Canaã, em São Bernardo. "Pior vai ficar depois, quando abrir o Rodoanel. A tremedeira vai piorar, com tanto caminhão." Sua casa ficará a 80 metros da pista principal de uma das pontes sobre a Represa Billings.

"Todo dia tem tremedeira", reclama Maria Azimovas, de 53 anos. Há três meses, ela notou a primeira rachadura, de dois metros, acima da porta da cozinha. "O medo é que piore e tenha de me mudar", afirma.

Entre comerciantes, o Rodoanel é visto como forma de valorizar a área. "A gente ficava escondido e agora vai ter uma oportunidade", diz José Martorazzi, dono de uma padaria na Estrada Galvão Bueno que está sendo duplicada para servir de via de acesso ao Rodoanel. "Penso em ampliar o negócio."

Para os engenheiros da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), empresa responsável pela obra, reclamações dos moradores não são novidade. "Foram cerca de 700, 90% falando de rachaduras", diz o engenheiro William Hermógenes Leite, responsável pela fiscalização.

Segundo ele, cada caso é atendido individualmente. "Quando há rachaduras, comparecemos ao local para verificar a gravidade. Caso necessário, o Estado paga a reforma, após processo licitatório que demora de três a quatro meses", explica. "Mas é preciso comunicar nossa central móvel (uma Kombi com logotipo da Dersa), que circula pelo bairro."

A comunidade também pleiteia melhorias nos bairros. "Deve haver uma contrapartida para o transtorno", diz Evaldo Pereira, presidente da Sociedade Amigos do Parque Los Angeles. "Uma área de lazer ou escola técnica podem ser boas idéias."

OESP, 24/11/2008, Metrópole, p. C3

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