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Dois anos para salvar o planeta

FSP, Opinião, p. A2
Autor: ANGELO, Claudio
10 de Mai de 2007

Dois anos para salvar o planeta

Claudio Angelo

Há uma semana, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) deu em Bancoc, Tailândia, um recado pouco auspicioso: se quiserem evitar os piores efeitos do aquecimento global, os governos do mundo inteiro precisam fazer as emissões de gases de efeito estufa começarem a declinar após 2015. Os países-membros da Convenção do Clima da ONU se preparam para fechar até 2009 um acordo substituto ao Protocolo de Kyoto, o importante, mas pífio, tratado internacional de proteção do clima. Kyoto levou quase uma década sendo negociado, e seu período de aplicação real só começa no ano que vem (e vai até 2012). As emissões de CO2, dos anos 1990 para cá, subiram 24% em vez de cair.
O resumo dessa equação é que o mundo tem dois anos para produzir um acordo que seja muito mais ambicioso que o de Kyoto e comece a rodar em muito menos tempo, reduzindo em pelo menos 50% as emissões do planeta. Questionado sobre se a conta fechava, um dos líderes do painel do clima sorriu amarelo: "Estamos tentando passar uma mensagem positiva". Os termos do pós-Kyoto começam a ser decididos em tese em dezembro, em Bali, e na prática no mês que vem, na Alemanha -num encontro que reunirá os maiores poluidores do passado (as nações do G8) e os cinco maiores poluidores do futuro próximo (China, Índia, México, África do Sul e Brasil). Na mesa de negociações do G8+5 estarão assuntos espinhosos. O principal deles é a adoção de metas de redução de emissões obrigatórias para os EUA (que as rejeita) e para os países pobres (aos quais Kyoto deu o direito de poluir, em nome de seu desenvolvimento). A UE, que se comprometeu a cortar 20% de seus gases-estufa até 2020, tenta pressionar ambos os blocos.
Permeando a conversa está a maneira como os países deverão proceder ao corte de emissões. Aqui, o relatório divulgado pelo IPCC em Bancoc na última sexta-feira traz uma verdade inconveniente: de longe, medidas de eficiência energética (grosso modo, trocar lâmpadas) têm o maior potencial de redução de emissões. Parece uma boa notícia, mas este não é um mercado muito sexy para países como os EUA, que querem condicionar sua ação climática a negócios bilionários, que envolvam tecnologias exportáveis.
A energia nuclear, uma dessas tecnologias, foi considerada uma opção real, mas de potencial baixo (deve crescer 2% até 2030, contra até 17% de crescimento das energias renováveis, segundo o IPCC). Os países pobres, por sua vez, deverão condicionar sua participação no pós-Kyoto a investimentos maciços das nações desenvolvidas. Se 2007 não vir um sinal de fim desse impasse, melhor desistir de comprar aquela casa na praia.

Claudio Angelo é editor de Ciência .

FSP, 10/05/2007, Opinião, p. A2

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