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Doentes recebem aulas de higiene na Casa do Índio

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
07 de Mai de 2003

Índios doentes e seus acompanhantes aprendem sobre higiene e doenças

A Casa do Índio, clínica especializada no atendimento aos povos indígenas, localizada próximo ao Monte Cristo, começou esta semana a realizar um trabalho de prevenção a doenças, tendo como público alvo seus pacientes e familiares.

O Programa Educação em Saúde consiste na promoção de palestras sobre higiene e saúde, visando conscientizar os índios sobre a necessidade de manter alguns hábitos que os ajudarão na melhoria da sua qualidade de vida.

"Esse trabalho é de extrema necessidade pelas próprias condições insalubres e higiene precária dessas pessoas. Queremos não apenas tratar o paciente, mas também prevenir a incidência de outras doenças", disse o administrador da Casa, Antônio Carlos.

Esse trabalho é uma forma de aproveitar o tempo disponível dos acompanhantes dos pacientes, que em sua maioria é composta por vários familiares. Por questões culturais, a família, às vezes toda, acompanha o doente enquanto dura o tratamento na casa. A média de permanência fica em torno de 15 a 20 dias.

As palestras ocorrem todos os dias, pela manhã e à tarde, com grupos de até 25 pessoas, devido à falta de espaço para comportar mais pessoas em um pequeno auditório improvisado em uma sala. São ministradas pelos próprios funcionários da casa, como médicos, auxiliares de enfermagem, que com o auxílio de vídeos, cartilhas, cartazes mostram aos nativos alguns costumes utilizados pela sociedade, diferentemente de sua cultura, mas que serão fundamentais na manutenção da saúde.

Muitas dessas ferramentas pedagógicas são elaboradas na língua da própria tribo, enviadas pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde), o que facilita ainda mais o aprendizado e assimilação do conteúdo. Outro grande diferencial do projeto é que as palestras são ministradas na língua materna, como por exemplo, Yanomami, com tradução simultânea.

Os índios aprendem desde hábitos corriqueiros como lavar as mãos, não jogar lixo em qualquer lugar até esclarecimentos sobre DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e alcoolismo, considerado hoje um grave problema para algumas aldeias.

"Eles são muitos receptivos, perguntam bastante e demonstram um enorme interesse em aprender. Muitos se preocupam em até escrever para levar para os seus companheiros na aldeia. É um trabalho gratificante e certamente iremos minimizar muitas doenças", assegurou a diretora administrativa e coordenadora do projeto, irmã Auristela Stinshen.

A Casa do Índio atende casos de doenças infecto-contagiosas como hepatite, tuberculose, no entanto a grande preocupação com maior número de ocorrências são as doenças oportunas, ou seja, desencadeada pelo contato direto e constante com seus causadores e a falta de hábitos saudáveis de higiene são grandes aliados. Entre elas estão a diarréia, cáries, problemas ginecológicos etc.

"Aliado ao tratamento convencional, procuramos manter algumas características de cada tribo, como a presença do próprio Pajé. Muitos rituais e ervas dadas aos pacientes ajudam na recuperação do doente e o tempo de permanência na casa vem reduzindo gradativamente. Não queremos acabar com seus costumes apenas ensiná-los alguns hábitos", disse a diretora. Oitenta por cento dos casos são resolvidos no próprio hospital, quando não o paciente é encaminhado para outras unidades do Estado.

A direção do hospital já está contatando alguns profissionais como odontólogos, Ongs (Organizações Não-Governamentais) convidando-os para participarem do projeto, dando sua contribuição na sua área de conhecimento estendendo esse trabalho até as aldeias.

ATENDIMENTO - Existe hoje, em todo o Brasil um total de 34 unidades hospitalares oferecendo atendimento médico a essas comunidades. A Casa do Índio, em Roraima, recebe em média em torno de 50 pessoas por dia, entre pacientes e acompanhantes, oriundos de várias etnias e até de outros países, como Guiana. O grande procura, no entanto, são de índios Yanomami e Macuxi.

Hoje, trabalhando com uma superlotação de 252 internos, destes 145 são pacientes e 107 acompanhantes. O hospital trabalha com um quadro de oito médicos, cardiologistas, pediatras, cirurgiões e com auxílio de 13 estagiários, dos cursos Medicina, Enfermagem e Agronomia que prestam serviço na Casa.

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