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Documentos relatam 'desarticulação' entre Exército e Ibama na Amazônia

O Globo, Sociedade, p. 24
01 de Out de 2019

Documentos relatam 'desarticulação' entre Exército e Ibama na Amazônia
Servidores do órgão ambiental afirmam, em ofício interno, que 'falta de sintonia entre as bases vem gerando problemas'; Defesa diz que resultados positivos provam integração entre instituições

Leandro Prazeres

BRASÍLIA - A revelação de que o Exército se recusou a dar suporte a operações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) durante a missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia, feita ontem pelo GLOBO, deixou exposto o que servidores do órgão vêm classificando como "ausência de articulação" entre as duas instituições. Nos bastidores, as queixas são de que os militares estão atuando apenas nas ações de maior visibilidade, como o combate a incêndios, e deixando as outras a cargo dos órgãos ambientais.

Em um ofício produzido pela área de fiscalização do Ibama, um servidor relata o descompasso com os militares: "Informo primeiramente que foi constatada a ausência de articulação entre as bases da GLO e a fiscalização do Ibama. Isso se deve, por um lado, pelo fato de a GLO estar visivelmente mais voltada para o combate aos incêndios florestais e não tanto para o combate aos ilícitos ambientais", diz o documento.

Em outro trecho, o servidor credita parte do descompasso ao estilo com o qual as duas instituições estão atuando. Enquanto os militares atuariam de forma descentralizada por meio do Comando Militar da Amazônia (CMA), com sede em Manaus, e do Comando Militar do Norte, com sede em Belém, o Ibama atua de forma centralizada, com sua base em Brasília.

"Essa falta de sintonia entre as bases vem gerando problemas nos sentido de disponibilização do apoio policial e da Força Nacional", diz o documento do Ibama.

O servidor pede aos seus superiores que o Ibama solicite o apoio aos militares para que a GLO -que foi prorrogada até o dia 24 de outubro pelo presidente Jair Bolsonaro- também atue em missões de combate ao desmatamento nessa nova fase.

Um funcionário do Ibama ouvido pelo GLOBO sob a condição de anonimato diz que o clima de insatisfação entre os fiscais do órgão com os militares é geral.

- Eles só estão fazendo o que dá mídia, que é o combate aos incêndios. Nas operações contra os desmatadores, praticamente não entram. Criaram uma GLO para combater incêndio e ilícito ambiental e só estão atuando em uma frente. Na prática, o combate ao crime ambiental continua prejudicado - afirmou o servidor.

Crédito pelas operações
Outro episódio que aumentou a animosidade entre fiscais e os militares aconteceu no final de setembro. Segundo o ofício, as Forças Armadas estariam computando dados de ações do Ibama como se fossem seus.

- Isso foi a gota d´água. Eles estão recebendo quase R$ 2 milhões por dia e ainda estão usando nossos resultados como se fossem deles -afirmou um servidor do Ibama ouvido sob condição de anonimato.

No dia 23 de setembro, o Ministério da Defesa anunciou que o governo federal havia liberado R$ 86 milhões para a ação GLO. Considerando o prazo de dois meses de duração, a estimativa é de que a missão possa custar em torno de R$ 1,4 milhão por dia.

Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Defesa afirmou que sua operação na Amazônia "é realizada em conjunto com diversos órgãos e agências federais e estaduais" e que, por isso, "as decisões tomadas não são unilaterais". Disse ainda que o Ibama participa das reuniões diárias do comando da operação, em Brasília, e que "todos os resultados obtidos são computados e integram o relatório diário". "A integração entre Forças Armadas e agências pode ser comprovada pelos resultados positivos", diz o ministério.

O Globo, 01/10/2019, Sociedade, p. 24

https://oglobo.globo.com/sociedade/documentos-relatam-desarticulacao-en…

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